Quando estamos no período de pré-temporada, qualquer pormenor pode fazer uma manchete e qualquer manchete pode resumir-se depois a uma nota de rodapé. Expliquemos: é a lei do mercado. Porque muitas vezes há jogadores que parecem certos mas que acabam por não chegar e outros que surgem como alvos impossíveis mas são mesmo negócios concretizados. E depois há esse detalhe, que é bem mais do que isso: os números das camisolas.
Uns trocaram de números, os novos escolheram o que queriam e no meio das mudanças houve um que perdeu a cadeira: se Alan Ruíz passou a ser o 10 e André Geraldes ficou com o 20, Bryan Ruíz só pode ficar com o 10 ou o 20 numa outra equipa que não o Sporting. Está mesmo de saída, após duas temporadas em Alvalade. O arrefecimento da relação com Jorge Jesus, sobretudo na segunda metade da última temporada, foi mesmo fatal.
Ficha de jogo
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Sporting-Fenerbahçe, 2-1
Stade du Censuy, em Renens (Suíça)
Sporting: Azbe Jug; Piccini (André Geraldes, 62′), Coates (Tobias Figueiredo, 62′), Mathieu (André Pinto, 62′), Fábio Coentrão (Jonathan Silva, 46′); Petrovic (Battaglia, 46′), Bruno Fernandes (Matheus Pereira, 73′); Iuri Medeiros (Gelson Dala, 73′), Bruno César (Mattheus Oliveira, 46′), Alan Ruíz (Doumbia, 46′ e Paulo Oliveira, 90+1′) e Bas Dost (Daniel Podence, 62′)
Treinador: Jorge Jesus
Golos: Bas Dost (32′), Dirar (40′) e Doumbia (76′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Coates (60′) e Gelson Dala (81′)
Mas olhando para esse filme de 2016/17, percebe-se bem que o treinador leonino tem uma preocupação enorme com um setor em particular da equipa: a linha defensiva. Porque, por norma, as suas formações são as que sofrem menos golos. Porque, desde sempre, são as posições com que perde mais tempo nos treinos até ficar com a coisa afinada como quer. Porque, na derradeira época, foi o calcanhar de Aquiles verde e branco, com uma autêntica catadupa de golos consentidos, de bola corrida e de bola parada, sem memória recente numa equipa de Jesus.
Assim, e no primeiro particular realizado no estágio em terras suíças, não teve dúvidas em lançar a linha que será a sua para a nova temporada: 1, 92, 4, 22 e 5. Que é como quem diz, Rui Patrício (hoje jogou Azbe Jug, porque o verdadeiro número 1 ainda está de férias depois da Taça das Confederações), Piccini (lateral direito, ex-Betis), Sebastián Coates (central, que hoje entrou com a braçadeira), Mathieu (central, ex-Barcelona) e Fábio Coentrão (lateral esquerdo, ex-Real Madrid). Não foi uma exibição perfeita, mas percebe-se que, com a equipa a ajudar (que é como quem diz, com a equipa a conseguir pressionar alto e condicionar a fase de construção do adversário), pode ser um projeto forte.
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Saltemos da defesa para o ataque. Que é saltar da dita linha para o mais do que certo bingo. De início, Jorge Jesus arrancou com as duas unidades que tinha pedido a todo o custo à SAD verde e branca para ficarem no plantel, Alan Ruíz e Bas Dost. E se é verdade que o argentino andou sempre um pouco fora dela, a meter a primeira mudança para trás quando à sua frente é que estava o caminho, o holandês continua igual a si próprio: à mínima oportunidade, que neste caso surgiu no seguimento de um esquema tático, lá faz o golito da ordem (32′).
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Dirar, aos 40 minutos, na sequência de um cruzamento prensado na defesa que ficou a pingar para o desvio final, fez o empate com que atingimos o intervalo mas, no segundo tempo, o novo avançado Doumbia fixou o resultado em 2-1 (76′), de novo após uma bola parada. No ano passado, a Primeira Liga fixou o número 28, de Bas Dost; agora, por mera cautela (ou algo mais), o melhor é ir memorizando este novo 88 que chegou por cedência da Roma.
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Até final, Doumbia, Gelson Dala e Podence podiam ter ampliado o marcador perante uma formação turca de rastos, mas o máximo que conseguiram foi atirar uma bola ao poste (Dala). Ainda assim, ficou uma boa exibição frente a um adversário com nomes como Volkan, Skrtel, Kjaer, Souza, Topal, Valbuena e Van Persie (esse mesmo que está a pensar, o avançado holandês esquerdino que passou pelo Manchester United).
E agora falemos do meio-campo, que não faz linha nem bingo mas preenche um cartão inteiro de jogo. Jesus voltou a aposta na dupla Petrovic-Bruno Fernandes, agora de início, na primeira parte. Petrovic esteve pior do que com o Belenenses, Bruno Fernandes subiu em relação a esse jogo contra os azuis do Restelo. No segundo tempo, e até o internacional Sub-21 ficar sem pilhas (73′), foi Battaglia a jogar como ‘6’ nas suas costas.
Como o próprio Iuri Medeiros confidenciou na zona da flash interview após o jogo, o mais importante era defender bem e conseguir sair com qualidade nas transições ofensivas. Jesus quer montar o projeto de um Sporting campeão de trás para a frente, mas continua ainda com dúvidas ao meio porque um plantel com William Carvalho e Adrien Silva é uma coisa e sem eles é outra. Pelo menos um deve sair, mas o provável é que ambos sejam vendidos. Caso um reforço que venha para essa zona do terreno ‘pegue’, a coisa pode dar-se; só com Petrovic, Palhinha e Battaglia como opções para ‘6’, ou o técnico altera um pouco o seu modelo recuando o ‘8’ para zonas mais próximas da primeira fase de construção ou poderá sentir dificuldades na ligação dos setores. Mas também é para isso que serve a pré-época.
E voltamos agora ao início da crónica. Lembra-se daquilo que falámos sobre a saída de Bryan Ruíz? Pois bem, o Sporting já terá chegado a acordo esta noite com o Racing Avellaneda para a contratação do extremo Acuña que, nessa posição, vai juntar-se a Gelson Martins (de certeza), Daniel Podence (de certeza), Bruno César (de certeza), Mattheus Oliveira (vamos lá ver como correm as coisas e se não começa a jogar mais em terrenos centrais), Iuri Medeiros (será desta que fica no plantel ou volta a ser emprestado?) e Matheus Pereira (que deve ir rodar um ano). E o reforço argentino (mais talhado para alinhas pela esquerda) deverá ser outro a fugir da camisola 7, que anda amaldiçoada no Sporting desde 1995. Mas essa é uma história para contar um dia destes.