Foi tudo à porta fechada, mas há sempre umas janelas que se abrem neste tipo de assuntos: um dia depois da hora e meia de interrogatório de Cristiano Ronaldo, a imprensa espanhola divulga esta terça-feira uma série de frases e pormenores sobre a audição do avançado português. E, alegadamente, confirma-se mesmo que houve momentos de tensão com a juíza de instrução de Pozuelo de Alarcón, Mónica Gómez Ferrer.

“Nunca ocultei nada, nem tive intenção de fugir aos impostos. Se não me chamasse Cristiano Ronaldo nem estaria aqui”, terá afirmado o avançado do Real Madrid, numa frase que já tinha circulado durante o dia de ontem e que originou o maior momento de tensão na sala. “Não se equivoque, estiveram aí sentadas pessoas como Antonio Pérez, pessoas anónimas, é igual a que esteja aí você”, atirou a juíza. “Se não me chamasse Cristiano não estaria aqui”, repetiu o internacional português. Segundo a Marca, foi também nessa altura que o madeirense voltou a referir que não queria recorrer ao intérprete presente na sala. O El Español enfatiza essa tensão de Ronaldo em alguns momentos da inquirição.

O jogador abordou também a ligação com Jorge Mendes e os restantes elementos da Gestifute, um dos pontos altos de uma inquirição onde dispensou tradutor, “falou muito, chegou a tirar o casaco e pediu água”. “Bebeu várias garrafas de água durante a declaração”, em que foi assistido pelo penalista Jesús Santos, antigo fiscal da Audiência Nacional e advogado de defesa do Partido Popular em diversos casos e Luis Briones, um advogado especialista em Direito Tributário, explica o El País. O generalista coloca também uma peça na sua edição online onde defende que, para os técnicos do Ministério das Finanças, o caso de Cristiano Ronaldo “é muito mais grave do que a de Messi”.

Ronaldo: “Nunca tive intenção de fugir aos impostos”

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“O Jorge [Mendes] é meu representante e meu amigo. Negoceia as transferências com os clubes, negoceia as condições, mas não trata de temas jurídicos nem fiscais, nem de direitos de imagem”, terá referido perante a juíza de acordo com o El Mundo. Também Luís Correia, sobrinho do empresário, foi “ilibado” por Ronaldo: “O Luís é quem trata da Polaris [empresa pertencente à Gestifute], tem relação com os patrocinadores e não se ocupa de temas jurídicos nem fiscais também”. O advogado Carlos Osório terá sido indicado pelo melhor jogador do Mundo como a pessoa que faz a sua assessoria fiscal, como também destaca o El Confidencial. Também o britânico Chris Farnell, advogado assessor do Manchester United, foi referido, sendo que o El Mundo tem um artigo onde detalha os eventuais problemas dos assessores do jogador. Ainda assim, a publicação avança que “a falta de explicações concretas dificulta a possibilidade de arquivamento do processo”.

A mesma publicação faz uma comparação com a situação de Lionel Messi, que também enfrenta problemas com o Fisco espanhol, argumentando que, ao contrário do argentino, Cristiano Ronaldo chegou mesmo a dizer que “não sabia de nada nem quero saber”, ideia que tem sido punida pela justiça por “ignorância deliberada”. Ponto comum com o argentino? A frase (várias vezes repetida) “Confiava completamente nos meus assessores”.

O ABC diz que o Real Madrid, após saber o que tinha referido Ronaldo na audição, afirmou que “esteve magnífico e claro na sua declaração”. “Fiz sempre tudo bem e dentro da legalidade (…) Sempre disse aos meus assessores para que tenham tudo em dia e corretamente pago porque não quero problemas”, atribui a publicação como algumas das frases mais marcantes do jogador perante a juíza. Ainda assim, as palavras mais utilizadas terão sido… “Não sei”. “Quando vim para o Real Madrid, não criei uma estrutura especial para gerir os meus direitos de imagem, continuei com a que tinha quando estava em Inglaterra”, garantiu. O As aponta para a data limite que Ronaldo tem até encontrar atenuantes que o possam ajudar nesse caso: 11 de agosto.