Começa esta quarta-feira o 19.º congresso do Partido Comunista Chinês, evento em que participam cerca de 2.300 delegados do maior partido político do mundo e em que o atual presidente Xi Jinping deverá ser reconduzido como líder.

No discurso de abertura – único momento do congresso aberto à comunicação social – o presidente chinês Xi Jinping destacou as conquistas recentes do país no plano internacional, sublinhando que a China se tornou “uma grande potência no mundo”, e delineou a estratégia para os próximos anos.

Xi Jianping é o líder desde 2012

Destacando que o progresso do país durante o seu mandato como presidente foi “verdadeiramente notável”, Xi garantiu que há muito trabalho para ser feito para “rejuvenescer” o país. Durante o discurso, que durou mais de três horas, Xi Jinping sublinhou que o caminho da China é diferente do dos países ocidentais, afirmando que não irá “copiar mecanicamente os sistemas políticos de outros países”.

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“Ninguém deverá esperar que a China engula alguma coisa que vá contra os seus interesses”, atirou.

O líder chinês – que chegou a esse cargo em 2012 – delineou um plano em duas fases até 2050 para a “modernização socialista” e assinalou uma “nova era” da política chinesa.

Esta é uma era que vai ver a China aproximar-se do centro do mundo e fazer mais contribuições para a humanidade”, afirmou o presidente chinês.

Xi Jinping tem sido a cara de uma viragem para a modernidade e a adaptação aos tempos atuais, procurando ser um diplomata internacional forte e estável, principalmente depois da eleição de Donald Trump; tem-se esforçado para colocar a China na linha da frente do combate aos perigos globais, como é o caso das alterações climáticas.

“Nenhum país é capaz de lidar sozinho com os desafios que têm enfrentado a humanidade. Nenhum país é capaz de se recolher em isolação”, avisou o líder chinês, numa clara alusão aos Estados Unidos, ainda que sem referir Trump, continuando a dar relevo à maneira como a China “tomou uma posição de liderança na cooperação internacional para responder ao aquecimento global”.

Quanto ao restante alinhamento do congresso, sabe-se pouco. Mas então, porque é que este congresso é tão importante para o mundo que o Washington Post chega a chamar-lhe “um dos eventos internacionais mais importantes dos próximos cinco anos”?

A maior parte dos analistas acredita que Xi Jinping não quer uma China progressivamente “aberta”. No sentido inverso, procura uma totalitária anulação da dissidência. A mais óbvia componente dessa premissa são as restrições que estão a ser impostas aos dissidentes dentro do próprio partido. “O claro objetivo é erradicar os meios organizacionais para estabelecer e sustentar redes de patrocínio que não são controladas por ele ou pelos seus aliados”, explicam Victor Shih e Jude Blachette na Foreign Policy, apontando ao encerramento da Juventude Comunista Chinesa e outras iniciativas paralelas.

Xi usou uma vasta investigação à corrupção para eliminar rivais poderosos, incluindo aqueles com fortes ligações a líderes anteriores do partido. “Desde que tomou poder, o número de detenções de oficiais do Comité Central e do Comité Permanente aumentou dramaticamente – 28 oficiais em 2014, que é quase seis vezes mais do que o número mais alto de detenções até essa altura”, elaboram Shih e Blanchette.

Ao mesmo tempo, as restrições à liberdade dos cidadãos também parecem alargar-se. Nas semanas que antecederam este congresso, foram adicionadas limitações à já gigante “Great Firewall”, a plataforma que circunscreve o acesso dos chineses à internet. Os utilizadores anónimos foram proibidos e as redes privadas virtuais – usadas pela população para contornar a firewall – foram destruídas.

A verdade é que todos os movimentos online dos chineses estão sob enorme escrutínio. O governo está a requerer às empresas ligadas à Internet que estabeleçam um sistema para medir e avaliar a conduta dos utilizadores e que esses dados sejam integrados num sistema de “crédito social”.

Segundo o Wall Street Journal, até uma aparente abertura ao capitalismo e ao mercado livre dos últimos anos pode ser travada. O jornal norte-americano diz que a economia chinesa está em queda e que a austeridade de Xi Jianping pode significar virar costas aos mercados e voltar à intervenção do Estado. “A ênfase crescente na pureza ideológica deixa pouco espaço ao capitalismo ao estilo ocidental”, escreveu o jornalista Lingling Wei.

O receio comum de todos os analistas é de que o impacto deste retrocesso seja global. O papel da China no conflito entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte é crucial e é provável que Xi Jianping decida já neste congresso o que fazer quanto à disputa aparentemente infindável com Taiwan – arrastando novamente os norte-americanos para o assunto.

O 19.º congresso do Partido Comunista Chinês começou esta quarta-feira e é provável que se prolongue por uma semana.