A Casa da Moeda de Paris é a mais antiga caixa-forte do mundo: foi fundada no ano de 864, quando o rei Carlos II de França ordenou a sua construção, através do decreto de Pistres. Durante quatro séculos esteve na Ilha de Cité, uma das três que se encontram ao longo do rio Sena, para depois passar 800 anos na margem direita do rio, junto ao Louvre. Em 1775 mudou-se para onde ainda hoje se encontra, na margem contrária, no bairro de Saint-Germain-des-Prés. O enorme edifício é obra do arquiteto Jacques-Denis Antoine e o Le Figaro partilhou um vídeo que revela uma viagem virtual a alguns espaços da Casa da Moeda.

Durante estes 1.153 anos, a Casa da Moeda foi uma enorme fortaleza, completamente blindada e fechada por todos os lados por motivos de segurança. Mas agora, o incrível complexo de 10 mil metros quadrados, que alberga um tesouro composto por mais de 170 mil objetos avaliados em milhares de milhões de euros, vai abrir as portas ao público como museu.

A lista de jóias, tesouros e peças raras que estão guardadas na Casa da Moeda de Paris é enorme. O agora museu guarda aquilo que sobrou do lendário tesouro de Hué, a cidade que a dinastia Nguyen elegeu como capital e que tinha uma gigantesca fortuna composta por 14.630 quilos de prata e 1.335 de ouro. O império dos Nguyen tornou-se uma colónia francesa em 1884 e nesse mesmo ano o governo francês conseguiu apoderar-se no enorme tesouro. Ao longo dos anos, a grande maioria do ouro e da prata acabou por ser fundida para fazer moedas; mas alguns funcionários preocuparam-se em guardar um exemplar de cada uma das requintadas peças que a partir de agora podem ser apreciadas por todos os visitantes.

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O museu vai mostrar ao público centenas de peças raríssimas

O El Mundo conta que também os tesouros do Slot Ter Hooge, um barco da Companhia Holandesa das Índias Orientais que naufragou em 1724 perto da costa portuguesa, estão guardados na Casa da Moeda, numa sala a que se acede através de umas portas que simulam uma enorme caixa-forte. Outra história inacreditável que pode ser encontrada no número 11 da Quai de Conti é a da rua Mouffetard, em Paris: em 1938, ao demolir um edifício, foram encontradas atrás de um muro 5 mil moedas de ouro junto a um pergaminho que dizia “eu, Louis Nivelle, escudeiro, conselheiro e secretário do rei Luís XIV, deixo a minha fortuna à minha filha”. Parte do tesouro foi entregue aos herdeiros de Nivelle, enquanto que a outra parte ficou para a cidade de Paris, por ser a proprietária do prédio.

Durante séculos, a Casa da Moeda podia ser identificada a partir de qualquer ponto da cidade, devido à chaminé de 16 metros. A partir de 1973, o grande fluxo de fabrico de moedas passou para a fábrica de Pessac, perto de Bordéus, que agora produz 1500 milhões de unidades ao ano, nove milhões por dia. Mas a Casa da Moeda ainda está totalmente ativa. Ali, além de se produzirem moedas de dois euros, também se fazem medalhas honoríficas, moedas comemorativas e estátuas. No total, são feitos 150 objetos por ano por vários artesãos, que agora vão trabalhar com público.

Mas a visita à Casa da Moeda vai envolver muito mais do que ver os artesãos trabalhar. O edifício também inclui laboratórios para investigação aos metais, como a maneira de os tornar mais resistentes, mais brilhantes e mais maleáveis. Os resultados que saíram das experiências foram aplicados às telecomunicações, ao campo da eletricidade, à conductividade e à tecnologia. No Bangladesh, por exemplo, devido à grande propagação de doenças a partir das moedas, foi criado um mecanismo para cobrir as moedas com um revestimento antibacteriano.

A visita vai incluir uma viagem pela evolução no processo de fabrico das moedas, desde os primeiros dias em que usavam martelos até aos dias de hoje em que existem máquinas, dispositivos a vapor e gadgets. Além disso, os visitantes vão poder passear pela história das várias moedas, como o franco: em 1360, depois da batalha de Poitiers entre Inglaterra e França, o rei francês foi capturado pelas tropas britânicas. Para o libertar, Inglaterra pediu um resgate de três milhões de coroas de ouro – o dobro do PIB francês naquela altura. Não existiam, em todo o território, moedas suficientes para pagar aquele valor. Por isso, o país criou uma nova moeda corrente: o franco.

E para fugir ao óbvio e agradar a vários públicos, a Casa da Moeda também tem um programa de exposições de arte contemporânea que arranca com “Women House”, uma coletânea de 40 obras de artistas femininas dos séculos XX e XXI que analisam a relação entre género e espaço.