Os Estados Unidos estão a dominar as provas de snowboard dos Jogos Olímpicos de Inverno, tendo já duas medalhas de ouro com Redmond Gerard e Jamie Anderson no slopestyle. E se no caso da atleta de 27 anos trata-se da revalidação do título conquistado em Sochi há quatro anos, o cenário muda de figura com o miúdo de 17 anos: além de ter conseguido o primeiro ouro para o país em Pyeongchang, tornou-se no primeiro atleta nascido no século XXI a ganhar. Por isso, e como seria de esperar, a sua história não demorou a circular… com queixas.

Como conta o Washington Post, houve muitos americanos a queixarem-se da transmissão da NBC, que passou ao lado por completo do feito de Red. Como anunciou com pompa e circunstância em novembro, a cadeia terá mais de 2.400 horas de transmissão na NBC, na NBCSN, na USA Network e no Canal Olímpico. Mais: os eventos que não passassem em direto poderiam ser vistos no streaming do site. Problema? Há atletas americanos um pouco por todo o lado e o prodígio do snowboard não parecia que se fosse safar assim tão bem. A verdade é que, por engano, a NBC acabou por mandar uma notificação da vitória quando estava com atraso na transmissão…

Agora, todos querem saber mais alguma coisa de Red, o miúdo de 1,65 metros e 53 quilos que chegou a PyeongChang acompanhado por uma claque de 18 elementos conhecida como a Team Gerard onde estão os pais, os irmãos, outros familiares e os amigos mais próximos. Todos são praticantes de snowboard, mas todos perceberam rapidamente que Red era o mais talentoso e, como uma espécie de prenda, os irmãos mais velhos construíram uma pista para treino de manobras… no quintal da casa onde vivem. Aos dois, o campeão olímpico já praticava a modalidade; aos dez já andava pelo país em torneios; aos 13, chegou à seleção americana.

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Mas Red não é o típico miúdo de 17 anos. Por exemplo, não acha piada a estar no quarto de volta de vídeo-jogos (e já é complicado encontrar adolescentes assim), preferindo, caso não exista neve, jogar golfe, andar de skate ou, se estiver perto do mar, fazer surf. E teve outra história curiosa: chegado à Coreia do Sul, e quando atletas e equipas técnicas foram ver a pista da competição, optou por ficar a dormir mais um pouco.

Red ficou à frente dos canadianos Max Parrot e Mark McMorris. E se a história do americano nos prende a atenção, a de McMorris é um exemplo de superação verdadeiramente impressionante.

Aos 24 anos, ninguém sabia ao certo o que esperar de Sparky, como também é conhecido. Com sete medalhas de ouro, seis de prata e duas de bronze entre 2012 e 2017 em provas do Winter Games, somava também uma prata no Mundial de 2013 e um bronze nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014. No entanto, duas quedas gravíssimas acabaram por travar o crescimento do fenómeno, que se tornou viral exatamente pelos documentários que foi fazendo sobre o regresso às pistas após longa paragem em 2016. Já este ano, em Aspen, no slopestyle dos Winter Games, conseguiu mais um bronze. E agora impressionou em PyeongChang.

Em fevereiro de 2016, McMorris teve uma queda numa prova em Los Angeles e acabou por fracturar o fémur, perdendo todas as provas até julho quando, com amigos, voltou ao snowboard na Austrália. Foi uma lesão grave, mas não a mais grave que sofreria na prática da modalidade: no final do março de 2017, quando estava nas montanhas de Whistler Backcountry com alguns amigos, sofreu uma violenta queda, embateu numa árvore e foi transportado de urgência para o hospital em risco de vida. Teve uma fratura no maxilar, partiu o braço esquerdo, sofreu problemas no baço e na pélvis, fracturou costelas e teve um colapso no pulmão esquerdo. Fez duas cirurgias com sucesso, mas ainda passou muitas e muitas semanas em recuperação.

Através da sua conta oficial do Instagram, Mark McMorris colocou uma imagem na cama do hospital ligado a um ventilador após a queda. E essa é a imagem que mais tem circulado após a conquista desta medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Inverno: 11 meses depois, o canadiano conseguiu um pequeno milagre.