Inevitavelmente, todos crescemos a questionar-nos o que estamos a fazer neste mundo, qual é o nosso dom ou para que é que nascemos. E Inês Rebelo não se lembra — mas a mãe garante-lhe — que esta pergunta saiu da sua boca pela primeira vez aos seis anos. Filosofias ou não, Inês só tinha uma certeza: não queria seguir a área da mãe, esteticista clínica há mais de trinta anos. Mas das artes para o curso de engenharia na faculdade, Inês acabou a apaixonar-se pela área da… pois, estética.

“Em 2008 a minha mãe ficou doente, com cancro, e eu, então na faculdade, comecei a dar um apoio na clínica dela, apenas para ajudar. Posso dizer que foi uma epifania dos diabos. É que nunca mais me desviei desse caminho que era, afinal, o meu caminho“, conta Inês Rebelo numa conversa com o Observador.

A ideia de que escolhemos um curso e temos que o levar até ao fim mesmo que, no decorrer desses anos, nos apaixonemos por outra profissão talvez seja demasiado à moda antiga. Ou a razão porque há tanta gente infeliz nos seus empregos. Sete anos depois, Inês tem a certeza que abandonar o curso de engenharia a meio foi o melhor que fez.

Daí para as formações e cursos nos laboratórios das marcas de cosméticos profissionais foi um pulinho. “Foi quando percebi que a estética não é beleza e imagem. É saúde, é cuidar, é tratar”, explica. E acabou por abraçar o curso de Esteticista-Cosmetologista na EFAPE (a mais completa escola profissional de estética, fundada em 1992 pelo Grupo Sorisa) e lançar-se ao primeiro grande desafio da sua vida: um ano como directora de uma clínica piloto em Angola. Mas o maior desafio ainda estava para chegar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Após seis anos a trabalhar em conjunto, eu e a minha mãe decidimos seguir caminhos diferentes. Eu queria especializar-me na área do rosto e ela queria manter o negócio dela, à maneira dela. E assim, também achou por bem deixar-me voar. Hoje em dia sabemos que foi a melhor decisão mas não sabia que iria ter que comer o chão para vingar. Mas foi isso que fiz”, conta Inês.

Em 2015, Inês abriu o seu gabinete e começou a trabalhar no seu conceito de Facialista © Divulgação

Começar um negócio ou uma ideia do zero é como construir uma casa tijolo a tijolo. É preciso ter a mente focada exatamente naquilo que se quer e tudo o que se tem de fazer para lá chegar. Em 2015, Inês abriu o seu gabinete e começou a trabalhar no seu conceito de facialista mas a realidade continuava a existir todos os meses: havia contas para pagar.

Sem desistir, arranjou um segundo emprego numa loja de roupa. “Ia atender os meus clientes de manhã e de tarde, até à meia noite, ia para a loja de roupa. Ou vice-versa, os horários eram rotativos”, afirma Inês Rebelo. Colocou a si mesma um prazo de um ano para voltar única e exclusivamente ao seu negócio e começou a trabalhar em toda a parte da comunicação para poder divulgar o seu trabalho enquanto facialista. Sozinha, fez todo o site e todo o plano de marketing e de redes sociais. Tudo mudou dezenas de vezes, foi por tentativa e erro, vendo o que resultava melhor. E em Agosto de 2017, nasceu então o site Inês Rebelo Skin Care e a sua comunicação enquanto primeira facialista portuguesa.

Mas o que é isto, afinal, de ser uma facialista?

“No final de 2015, quando comecei a trabalhar sozinha, tive um cliente americano que apareceu para consulta e tratamento. Ele, que já vivia em Portugal há alguns anos, ficou espantado por ter descoberto uma ‘facialista’ portuguesa, conceito que, disse-me ele, já existia lá fora. Decidi trazer o estrangeirismo porque, afinal, é esta a minha profissão – sou uma especialista facial. Crio faciais (tratamentos) personalizados para cada tipo e estado de pele”, explica Inês Rebelo.

O trabalho desta facialista assenta inicialmente numa consulta de avaliação e diagnóstico e numa consulta de cosmetologia. Estas duas consultas são fundamentais para Inês Rebelo conhecer a pele dos seus clientes antes de estruturar e criar o facial de assinatura. Depois, há um aconselhamento para uma rotina em casa para cada pessoa saber cuidar da sua pele.

“Durante grande parte da minha vida lutei contra uma pele com acne, depois contra uma pele desidratada, depois contra uma pele com dermatite e, por fim, e até aos dias de hoje, luto contra uma pele com rosácea. A minha motivação é igual à vossa. Cuidado e trato da pele dos meus clientes como cuidaria e trataria a minha”, partilha Inês Rebelo.

Inês Rebelo durante um facial a uma cliente © Divulgação

Na forma de lidar com a nossa pele, menos é mais

Esta sua forma de ver a pele dos seus clientes como a sua própria pele, está também relacionado com a sua filosofia de vida de “menos é mais”. Em adolescente, e enquanto lutava contra o acne e a rosácea, foi-lhe prescrita por um dermatologista isotretinoína (um fármaco para o tratamento da acne severa, rosácea e acne resistente) e uma quantidade absurda de cosméticos. É familiar a muita gente, certo? “A minha pele rejeitou por completo todos os produtos e fiquei apenas confinada à isotretinoína e ao meu primeiro creme hidratante, prescrito pela minha mãe. E durante toda a minha vida fiz esta rotina básica de hidratação e limpeza de pele”, explica.

Nos últimos dois anos de trabalho, Inês começou a aperceber-se, junto dos seus clientes, que os cosméticos em excesso estavam por trás de muito acne e de muitas inflamações de pele. “E lembrei-me do desgraçado do meu creme hidratante, que era só um, o mesmo desde os quinze anos. Fez-se luz. Cada pele é uma pele mas no caso das peles jovens que sofrem de acne, rosáceas e são extremamente reativas e atópicas, menos é realmente mais.”.

Pela publicidade, pelo marketing, pelo novo mundo dos blogues, todos achamos que podemos resolver tudo em casa com os cosméticos. Encontramos sempre um creme para qualquer coisa e a própria comunicação está feita para nos levar a comprar mais e mais e mais porque vamos precisar de mais um creme, de mais um sérum, de mais um óleo.

“Tenho percebido que muitos dos problemas de pele das pessoas que chegam até mim vêm de algo muito pior que a parte hormonal, que a genética, que a alimentação. Vêm simplesmente da quantidade astronómica de produtos que colocam no rosto ou por estarem absolutamente mal aconselhadas”, acrescenta Inês.

E partilha um bom exemplo de uma profissional com quem se identifica e que até foi escrito por nós – a entrevista à dermatologista alemã Yael Adler que afirma que temos problemas de pele devido ao uso excessivo de cosméticos e não o contrário. “Os cosméticos de venda ao público não estão preparados (obviamente) para, verdadeiramente, fazerem um tratamento. São fundamentais sim, mas como complemento aos tratamentos em gabinete. Esta é a minha visão e abordagem aos cuidados de pele. Aconselho os melhores faciais de assinatura para tratar os mais variados problemas de pele e, depois, aconselho a melhor rotina para se ter em casa”, afirma Inês Rebelo. “A pele é um órgão, certo? Há tanta coisa que ela faz sozinha. E temos de a deixar fazer o seu trabalho. Quanto mais lhe mexemos e quanto mais a sufocamos com químicos, mais ela grita.”

Inês não se considera uma clínica mas sim uma marca que trabalha a pele num espaço simples a que prefere chamar gabinete © Divulgação

Em vez de aconselhar uma mão cheia de cremes, Inês diz que a pele de cada cliente fala consigo e o que ela faz é interpretar o que cada pele lhe está a dizer. Cada reacção a um ingrediente, a uma técnica, ou à combinação de ambos, é um diagnóstico. “Apesar de saber que o proteoglicanos é um ingrediente altamente hidratante ou que o ácido salicílico é um ingrediente que melhora as marcas pós-acne, cada pele reage de maneira muito, muito diferente”.

Para Inês, é impensável assumir que tem a solução milagrosa e, por isso, não faz packs de tratamentos como se faz noutras clínicas porque tudo aquilo que diz ou aconselha é mutável, tal e qual como a pele. “É preciso ir vendo como a pele reage ao longo do tempo e, a partir daí, ir introduzindo e fazendo o que for necessário, mantendo uma rotina básica em casa”, acrescenta.

Na sua clínica – Inês diz, entre risos, para não lhe chamarmos clínica. Reformulando, no seu gabinete, e para o futuro, Inês pretende continuar a trabalhar a sua marca – o ser facilista – e, como tal, registou o seu nome Inês Rebelo Skin Care porque não se considera uma clínica mas sim uma marca que trabalha a pele. “Apesar de estar num sítio novo e moderno, num centro de escritórios nas Amoreiras, é um espaço pequeno. Digo sempre às pessoas para não pensarem que vão para alguma clínica chique nem gosto de acrescentar valores surpresa depois. Assim, há um valor fixo para cada facial de assinatura e este valor já inclui a consulta de avaliação e diagnóstico, a consulta de cosmetologia, o tratamento em si, o acompanhamento e as reavaliações”, partilha.

“Só tenho de agradecer à minha mãe porque, apesar de ter feito muitos cursos e formações, ninguém me formou como ela. Foi ela a minha verdadeira mentora e impulsionadora do meu negócio. Ela sabia que ia ser melhor sozinha, sabia que ia vingar, acreditou sempre no potencial da minha visão. E devo-lhe a ela tudo o que sei, toda a minha garra e perseverança. Afinal, como não poderia eu lutar pelo meu negócio quando ela lutava pela própria vida?”, partilha Inês com o Observador.

Nome: Inês Rebelo Skin Care
Data: 2017
Site: inesrebeloskincare.com
Onde: Edifício Amoreiras Square, nº 17 – 3 A, de segunda a domingo, das 10h às 21h com marcação prévia.
Preços: entre 80€ e os 200€

100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.