O ministro Pedro Siza Vieira reconhece nos primeiros discursos de Rui Rio como líder do PSD “uma espécie de regresso à normalidade democrática”, mas faz a separação de águas quando fala em futuras negociações políticas: soluções e temas do programa do Governo são para negociar com os parceiros de esquerda. Já em “temas que ultrapassam a legislatura”, a discussão é com todos. Não deixa claro que, neste capítulo das questões estruturais, possa entender-se só com a direita, deixando de fora os parceiros que têm apoiado a governação.
A pergunta foi feita de forma clara, na entrevista do Público e da rádio Renascença ao ministro Adjunto do primeiro-ministro, mas Pedro Siza Vieira não lhe deu resposta direta. Tendo em conta esta separação do Governo entre debater temas de fundo e soluções de Governo, surgiu a pergunta: “Acha que é possível que possam existir acordos entre PS e PSD sem a assinatura do PCP e BE?” Nas duas primeiras respostas, o ministro contorna a questão e à terceira, quando lhe perguntam se a discussão pode ser com todos mas o consenso tem de envolver BE e PCP, Siza Vieira volta à separação: “Há temas que ultrapassam a legislatura. Aí ambos os sectores da Assembleia da República não podem demitir-se de participar nessa discussão. Outra coisa são temas do programa de Governo – e aí a discussão preferencial tem-se situado à esquerda”. Ou seja, a hipótese de acordar matérias de regime sem os parceiros de Governo não fica excluída.
O Governo registou “a disponibilidade do maior partido da oposição para participar nos grandes debates que interessam à organização do Estado, ao futuro do país”, ainda que logo a seguir, na mesma entrevista diga que este entendimento “não invalida que, na definição de soluções governativas, cada partido tenha os seus objetivos, os seus programas e as suas alianças preferencias”. E ao nível de governação diária, os preferidos deste Governo estão à esquerda: “Esta solução tem trazido estabilidade política ao país, julgo que a maioria do eleitorado está satisfeita com a solução, não há razão para a pôr em causa”.
Mas na entrevista, Siza Vieira coloca muito o acento na necessidade de aproveitar a mudança no PSD para apostar no diálogo em matérias que vão além do mandato deste Governo: “A convergência na discussão de fundo é absolutamente natural”. E insiste que pelo menos a discussão desses temas deve ser feita com todas as forças com representação parlamentar. E aqui, já sem preferidos de quem lidera o Governo.
Nós, quando vivemos num edifício de apartamentos, temos reuniões de condomínio. Temos reuniões onde discutimos as obras que vamos fazer nas partes comuns, as alterações ao regulamento – isso interessa a todos, não se deve deixar ninguém de fora. Isso não quer dizer que vamos morar para a casa uns dos outros”
Há uma questão concreta que não parece merecer, pelo menos neste momento, o acolhimento do Governo socialista, numa matéria estrutural Rio propôs que as pensões possam ser atualizadas em função do desempenho da economia. Siza Vieira nota que Rio — que diz ter como “uma pessoa sensata” — “não retomou essas propostas e, pelo contrário, reservou-se a necessidade de fazer a consideração daquilo que possa vir a propor”. Mas quanto à ideia em si, diz que ela “pode ter consequências indesejáveis do ponto de vista de gestão do ciclo económico. Reduzir pensões no momento que se entrou em crise pode agravar a própria crise”.
O ministro que entrou no Governo depois das tragédias dos incêndio do verão e do início do outono em Portugal (e que tutela a Unidade de Missão de Valorização do Interior) avisa ainda que “a ameaça de incêndio florestal é muito séria, é muito grave. Temos que estar preparados quer ao nível das ações de prevenção que estão a ser levadas a cabo, no sentido da limpeza de matos e gestão de combustível, quer ao nível do reforço dos meios e capacitação das populações”.