Com o seu primeiro modelo eléctrico, a Jaguar conseguiu um feito que ninguém julgava que fosse possível alcançar tão cedo: conceber um veículo que fosse capaz de se bater – e de bater – a Tesla, precisamente numa área em que até aqui a marca americana era imbatível, nos modelos movidos a electricidade e alimentados por bateria.

Para que não existissem dúvidas, na apresentação do novo I-Pace, o SUV eléctrico sensivelmente com as mesmas dimensões do E-Pace, este com motores a combustão, a marca inglesa colocou lado a lado o seu primeiro eléctrico e o Tesla Model X.

A curiosidade é que, até agora, nada se aproximava do potencial de aceleração, potência e autonomia do Tesla, pelo que quando o confronto foi anunciado, toda a gente (umas centenas presentes no auditório e uns milhões a seguir à distância através de vídeo streaming) ficaram expectantes. Já lá vamos.

I-Pace bate mesmo o Model X?

Esta é a questão que vale um milhão de dólares. E estamos a falar a sério, pois para a Jaguar conseguir chegar ao mercado dos eléctricos anunciando um carro que é capaz de fazer melhor do que o, até aqui, líder incontestado, é um certificado de qualidade e competência que vai ajudar o I-Pace a conquistar muitos clientes dos veículos não poluentes.

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Mas vamos por partes. O I-Pace, tal como foi apresentado – e tudo indica que esta seja uma primeira versão das várias que irão surgir, em termos de potência e de capacidade de bateria –, está com um acumulador com 90 kWh, o que lhe permite desde logo ombrear com os modelos da Tesla, pois até aqui, só os americanos tinham baterias com esta capacidade (entre 75 e 100 kWh, nos modelos S e X, e entre 50 e 75 kWh no Model 3). Tudo o resto, no reino dos carros a electricidade, se fica em média pelos 40 kWh (e, quanto atingem os 60 kWh, é uma festa).

Depois de chamar a atenção pelo potencial das sua baterias – mas ainda não é aqui que o Jaguar bate o rival americano –, o I-Pace continua imparável, e anuncia 400 cv de potência, extraídos de dois motores eléctricos, um montado sobre o eixo anterior e o segundo sobre o traseiro, para assim garantir a tracção às 4×4 de que o modelo, como SUV, tanto necessita. Mais uma vez, o Jaguar coloca-se no centro da gama do Model X, que disponibiliza agora (desde que apresentou o Model 3, que coincidiu, com a retirada do 90D) três versões do SUV, com 333 cv no 75D, 423 cv no 100D e 612 cv no P100D. Ou seja, de novo, o I-Pace é o primeiro eléctrico a rivalizar com o Model X. Mas ainda sem batê-lo.

Outro capítulo em que a Jaguar anuncia valores impressionantes é na autonomia, pois com 480 km, I-Pace passa a figurar entre os melhores do mercado. Isto porque este valor, segundo a marca, foi determinado pelo método WLTP, mais próximo da realidade, enquanto o Tesla anuncia autonomias de acordo com os sistemas EPA (americano) ou NEDC (europeu). Contudo, durante a apresentação à imprensa, um responsável da Jaguar admitiu que, pelo método NEDC, o I-Pace anunciaria qualquer coisa como 540 km de autonomia. Logo, posicionando-se acima do 75D e abaixo do 100D, mas pela margem mínima de 25 km.

O confronto que ninguém esperava

A vitória do I-Pace surge na capacidade de arranque, até aqui um dos maiores trunfos da Tesla. Ao anunciar 4,8 segundos nos 0-100 km/h, o Jaguar bate os 5,2 do Model X 75D e até os 4,9 segundos do 100D – de fora ficam os 3,1 segundos do P100D, mas isso é outra conversa –, o que é uma performance notável.

Para prová-lo, a Jaguar realizou um teste comparativo entre o I-Pace e o Model X no México, na pista onde hoje, 3 de Março, se vai disputar a corrida de Fórmula E. Aos comandos do I-Pace estava Mitch Evans, o piloto da marca britânica no campeonato mundial dos fórmulas eléctricos, enquanto o Model X – primeiro o 75D e depois o 100D – foram entregues a Tony Kanaan, ex-piloto da Fórmula Indy.

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Como o vídeo mostra, no arranque até 96 km/h (0-60 milhas), seguido de travagem até 0 km/h, o Jaguar bateu ambas as versões do Tesla. Dirão os fãs da Jaguar que já não era sem tempo que alguém conseguisse bater a marca americana. Responderão os fãs da Tesla que o Model X é muito maior e mais pesado, e que o desportivo da família é o P100D, que necessita de apenas 3,1 segundos para chegar aos 100 km/h, ou ainda menos com o modo Ludicrous. Mas nada disto retira mérito ao I-Pace, que se assume como dos melhores eléctricos do mercado e o único que bate algumas versões do SUV da Tesla.

Mas o Jaguar é mesmo rival do Model X?

A resposta é não. Mas no actual panorama, em que há ainda tão poucos veículos eléctricos e ainda menos SUV movidos a electricidade, todos acabam por ser concorrentes uns dos outros, apesar de existirem grandes diferenças entre eles.

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De fita métrica em punho, é fácil constatar que o SUV da Tesla mede 5,05 metros de comprimento, contra os 4,68 do Jaguar, que curiosamente é o mesmo comprimento do Model 3. Para se fazer uma ideia, é como se estivéssemos a comparar o Audi Q5 com o Q7, ou o Porsche Macan com o Cayenne, pois se os Q5 e Macan rodam os 4,7 metros, como o I-Pace, o Q7 e o Cayenne estão próximos dos 5 metros de comprimento, à semelhança do Model X. E para se perceber como isto da bitola é importante, basta ver que, considerando os Porsche Macan e Cayenne equipados com o mesmo motor V6 a gasolina, de 340 cv, o SUV mais pequeno é claramente mais rápido devido o factor dimensão e peso, com 4,8 segundos de 0-100 km/h, contra 5,2 segundos do Cayenne.

É precisamente esta dimensão mais generosa que depois assegura ao modelo americano uma mala mais vasta – 1.090 litros face aos 656 do modelo britânico – e um habitáculo muito maior, onde cabem até sete adultos, em vez dos cinco do Jaguar. Ainda que a vantagem do Tesla ao nível do interior seja quase uma surpresa, dado que o I-Pace, se é bem mais curto, bate-se de igual para igual em largura e na distância entre eixos, zona onde ficam alojadas as baterias.

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Se a dimensão afasta os dois SUV eléctricos, o respectivo peso também, com os 2.208 kg do Jaguar a colocarem-no entre 220 e 350 kg abaixo do seu rival, o que também o ajuda nas acelerações.

Resta agora esperar pelo primeiro confronto entre I-Pace e Model X, realizado por privados ou entidades independentes, pois, com o devido respeito, os testes comparativos levados a cabo pelas marcas interessadas nunca têm o mesmo valor. Mas, quase tão importante quanto quem ganha, é o facto de a guerra nos eléctricos estar ao rubro e de a Tesla ter finalmente um rival à altura. E há muitos outros adversários de peso que prometem chegar nos próximos meses. Isto vai animar!