A nova bastonária da Ordem dos Contabilistas criticou Rui Rio por se ter “ausentado completamente” durante o processo eleitoral interno, apesar de receber 1.500 euros brutos mensais pelo cargo de vice-presidente da assembleia-geral, remuneração que Paula Franco considera “excessiva” e injustificada.

Em entrevista à agência Lusa, a primeira que concedeu desde que foi eleita bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC), Paula Franco questionou as remunerações de alguns membros dos corpos sociais, como a de Rui Rio ou a do antigo bastonário, falecido em 2016, Domingues Azevedo, remunerado em mais de 10 mil euros mensais. Esses valores motivaram a queixa de um contabilista ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), sobre alegados pagamentos sem base legal a dirigentes e acumulação de salários com pensões, noticiada em dezembro pelo Observador, e buscas à Ordem dos Contabilistas.

Paula Franco disse não ter qualquer nova informação, nem ter tido conhecimento de qualquer desenvolvimento sobre a investigação, relativa ao inquérito instaurado em agosto do ano passado pela Procuradoria-Geral da República no seguimento da queixa ao DIAP, e confirmou que o salário do antigo bastonário e o de Rui Rio “nunca foram aprovados pela assembleia-geral” da OCC. “As remunerações de facto estavam excessivas face àquilo que é, em regra, a remuneração de um contabilista”, criticou a bastonária.

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As críticas de Paula Franco estendem-se ainda à ausência de Rui Rio durante as eleições internas. “Neste processo eleitoral, ausentaram-se completamente. Foi um processo eleitoral complicado, em que tinham [membros da Ordem, como Rui Rio] toda a responsabilidade sobre este processo. Este processo foi alargado [foi à segunda volta], prejudicou a instituição com todo o tempo que demorou e com muitas das coisas que se passaram, graves em termos de processo eleitoral em que toda a comissão eleitoral não foi isenta, e eles ausentaram-se daquilo que era a sua responsabilidade e que era esperado”, acusou a bastonária.

A bastonária lembrou que os membros da assembleia-geral recebem salário por estar na mesa da assembleia-geral e nesse cargo têm determinadas responsabilidades: “O que fizeram foi passar uma procuração ao presidente da mesa para o substituir nas suas decisões”, afirmou, referindo-se a Rui Rio e ao economista Carvalho Martins, recentemente eleito vogal da Comissão Política Nacional do PSD no 37.º congresso do partido.

O Observador sabe que a assiduidade de Rui Rio mereceu críticas internas na Ordem dos Contabilistas. O líder do PSD não é um vice-presidente de mesa presente, fazendo-se representar muitas vezes pelo eurodeputado socialista e presidente da mesa, Manuel dos Santos. Entre os contabilistas que ajudaram a eleger Paula Franco há quem defenda que a nova bastonária da Ordem deve romper definitivamente com a linha seguida nos últimos anos.

Ainda sobre os salários “excessivos” na Ordem, a bastonária disse ter soluções no seu programa de candidatura, que quer por em prática: “Todas as contas da Ordem vão ser muito transparentes, vão estar disponíveis para consulta dos membros e, para além disso, vai ser divulgado trimestralmente um relatório com as contas, os fornecedores e as relações da ordem em termos de gastos, para que haja confiança e não haja ruído sobre estas questões”.

Paula Franco vai propor a redução de 30%, logo à partida, de “todas as remunerações” dos órgãos sociais, e alguns vão passar a receber apenas através de senhas de presença. “Em termos estatutários, vai ser constituída uma comissão de remunerações a nomear pela assembleia representativa, que vai decidir a remuneração que os órgãos vão ter”, concluiu.