Pode um desentendimento político entre o Kosovo e a Sérvia afetar o seu relógio? A resposta não é a que esperava. Não só pode como está mesmo a atrasar em 6 minutos todos os relógios que dependem da frequência da rede elétrica para se manterem pontuais. O problema começou em janeiro e afeta 25 países (e muitos relógios) da Europa.

O alerta partiu da ENTSOE — Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade — que já pediu aos governos europeus para procurarem uma solução política para o problema. Do lado da ENTSOE, que é o organismo que garante o bom funcionamento da rede elétrica europeia, estão a ser feitos todos os esforços para encontrar uma solução técnica, o que poderá ainda demorar algumas semanas. Mas a ENTSOE diz que ela de nada servirá sem a ajuda da diplomacia.

“Isso está além do mundo técnico. É preciso haver um acordo entre a Sérvia e o Kosovo sobre esta falta de energia no sistema do Kosovo. E isto precisa de ser resolvido politicamente e depois tecnicamente “, defendeu Claire Camus, porta-voz da ENTSOE, citada pelo The Guardian.

Mas como é possível isto acontecer? Tudo começou quando, em janeiro, o Kosovo começou a gastar mais energia do que gera. Isso não seria um problema se a Sérvia, responsável por equilibrar a rede daquele país dos Balcãs, estivesse a fazê-lo. O problema é que não está.

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À conta deste desentendimento, a rede de eletricidade europeia perdeu 113GWh. E a perda de energia gera um atraso na rede elétrica que faz com que os ponteiros dos relógios que dela dependem andem mais devagar. Seis minutos mais devagar.

Alarmes de rádio, relógios de forno, micro-ondas ou relógios usados para programar sistemas de aquecimento são os principais afetados. Os que medem a passagem do tempo pelas vibrações de cristais de quartzo — como os relógios de pulso — não terão este problema. Os telemóveis também não serão afetados porque são geridos por um software.

“Uma vez que o sistema europeu está interligado, quando existe um desequilíbrio em algum lugar, a frequência diminui ligeiramente”, explicou Claire Camus.”E esse desvio médio de frequência, que nunca aconteceu de forma semelhante no sistema de energia europeu continental, tem de cessar”.

A área gerida pela ENSTOE cobre 25 países, ou seja, a maioria do continente europeu. Este mapa mostra o sistema de energia europeu interligado

Do lado da Sérvia, a culpa é atirada para o país vizinho. O operador de energia sérvio, EMS, também citado pelo The Guardian, disse que é o Kosovo quem anda a tirar “de forma não autorizada, energia elétrica não contratada”.

O Kosovo reconhece a culpa, mas só numa ínfima parte. Kadri Kadriu, vice-gerente do operador de rede daquele país, assume ao The Guardian que alguma eletricidade terá sido desviada para a minoria sérvia que vive no norte do seu país e que ainda é fiel a Belgrado. Estes consumidores não terão pago a eletricidade consumida e por isso a empresa não teve como fazer face a esse fardo financeiro.

Enquanto o desentendimento político não for resolvido, os relógios europeus vão continuar a andar atrasados. E de nada serve acertá-los. Eles simplesmente voltarão a atrasar.