A NASA, agência espacial norte-americana, descobriu que a expressão de 7% da informação genética transportada por Scott Kelly, astronauta que passou um ano na Estação Espacial Internacional, nunca regressou ao normal depois de o cientista ter regressado à Terra, em março de 2016. Estas informações confirmam os resultados preliminares de um estudo em que as condições físicas e psicológicas de Scott Kelly foram comparadas às do irmão gémeo, Mark Kelly, para descobrir que mudanças sofre o organismo em longas estadias no espaço. Os dados que esse estudo fornecerem vão ajudar as agências espaciais e as empresas privadas de exploração do espaço a planear missões de longa duração para lá da Terra — como uma viagem até Marte.

De acordo com o comunicado da NASA, os 7% de ADN cuja expressão foi alterada — o composto que os seres vivos guardam nos núcleos da célula e que transportam toda a informação do indivíduo — correspondem aos chamados “genes espaciais”, um termo introduzido em 2017 para descrever uma eventual porção de informação genética que pode não mudar depois de uma estadia de longa duração no espaço. A existência dos genes espaciais fica assim um passo mais perto de ser confirmada. No caso de Scott Kelly, essa porção corresponde aos genes que programam a proteção do sistema imunitário, a capacidade de reparação da cadeia de ADN, as redes de formação óssea e a proteção contra a hipoxia (baixo teor de oxigénio nos tecidos orgânicos) e hipercapnia (aumento de dióxido de carbono no sangue arterial).

Esta é a segunda descoberta relacionada com o ADN do astronauta que a NASA protagoniza: os telómeros dos genes de Scott Kelly, estruturas nas extremidades dos cromossomas que funcionam como pilares do material genético e que impedem o seu desgaste, regressaram mais longos do espaço. Por norma, os telómeros de uma pessoa que nunca foi ao espaço encurtam-se progressivamente com a idade, mas neste astronauta eles voltaram a encurtar-se apenas dois dias depois de Scott Kelly ter regressado a casa. Aliás, “a maioria das mudanças biológicas que [o astronauta] experimentou no espaço rapidamente retornou ao estado de pré-voo. Algumas mudanças retornaram à linha de base dentro de horas ou dias de repouso, enquanto alguns persistiram após seis meses”, explicou a NASA em comunicado publicado esta quinta-feira.

Todos estes dados confirmam, e até acrescentam informação, o que as dez equipas científicas envolvidas no estudo avançaram em 2017. Nessa altura, os investigadores já tinham percebido, por exemplo, que a estrutura óssea de Scott Kelly veio muito mais enfraquecida em relação à do irmão, que a concentração de uma hormonal responsável pela reparação muscular aumentou, que as bactérias que vivem nos intestinos mudaram e que Scott Kelly até regressou mais alto à Terra, à conta da privação da gravidade. Psicologicamente, a missão de um ano na Estação Espacial Internacional também afetou o astronauta: a privação de oxigénio fez com que Scott Kelly entrasse em mais situações de desânimo. E também contribuiu para “mudanças dramáticas” de nutrientes que afetam a expressão dos genes, provaram as análises feitas às proteínas, à citocina e aos químicos relacionados com o metabolismo feitas a Scott Kelly.

O “estudo dos gémeos”, como lhe intitulou a agência espacial dos Estados Unidos, é um esforço conjunto de 10 equipas de investigação que procuram entender que desafios irá enfrentar o corpo humano numa eventual viagem até Marte. Scott Kelly foi enviado para a Estação Espacial Internacional durante 342 dias para depois, no regresso à Terra, as suas condições físicas e psicológicas serem comparadas aos do irmão, Mark Kelly, também ele funcionário da NASA. Novos resultados serão divulgados no final deste ano.

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