Há “centenas de milhões de euros de atraso no investimento” no Sistema Nacional de Saúde (SNS), revelou o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, numa entrevista ao Público e à Rádio Renascença. É essa a principal razão apontada pelo ministro para o facto de haver problemas hoje que “não estão resolvidos como não estarão resolvidos em 2019“.

No Governo anterior, pelas razões conhecidas, foram tirados mil milhões ao orçamento – mas não só na despesa corrente, também na estagnação do investimento”, explicou o ministro.

Campos Fernandes defendeu que “é preciso o resto da legislatura” para reconstruir “trajetórias de desinvestimento e delapidação do capital humano, feitas em cinco, seis, sete anos”. O ministro acrescentou também que “é necessário prosseguir este esforço numa legislatura seguinte ” até porque, defendeu, “não se tem um bom SNS, sem ter um Estado forte e capaz de o sustentar”,

Na entrevista, o ministro reconheceu, ainda assim, que “o SNS está melhor, muito melhor” e mostrou-se satisfeito: “Desde 2010 que não tínhamos tantos recursos financeiros locados à Saúde, que não tínhamos uma vaga como temos agora de investimento”.

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Campos Fernandes não deixou de comentar o caso da ala pediátrica do Hospital São João que tem dez anos e tem um conjunto de episódios associados que vale a pena estudar e conhecer”. “Em todo o caso, o Governo disse que vai resolver o problema”, lembrou acrescentando que “em todos os pontos do país, há necessidades e carências por resolver“.

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O ministro admitiu ainda a possibilidade de “abrandar ou reduzir mais as taxas nos cuidados de saúde primários, em detrimento dos cuidados hospitalares”. Mas não deixou de explicar que “as taxas moderadoras nunca foram um mecanismo de financiamento, mas de indução de uma procura mais inteligente ou adequada”. Daí que se tenham ” diminuído as taxas sempre que o doente é referenciado pelo médico de saúde ou pela Linha de Saúde 24″.

“Sou desfavorável à legalização da eutanásia, por questões de consciência”

Não querendo logo revelar qual era a sua posição pessoal relativamente à legalização da eutanásia, o ministro da Saúde acabou por dizer qual era: “Desfavorável”. E apontou as razões: “Questões de consciência, por questões individuais e pessoais”. Essa é a sua posição enquanto médico. Mas Campos Fernandes garantiu que enquanto ministro da Saúde, irá colaborar e respeitar “o que for o resultado da votação parlamentar e da decisão maioritária dos representantes do povo”.

O ministro da Saúde acredita que o SNS terá capacidade para aplicar uma lei como esta: “Terá que estar, como aliás esteve para outras situações. A Procriação Medicamente Assistida, a Interrupção Voluntária da Gravidez. É isso que importa, é esse o papel do ministro da Saúde”.

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O ministro da Saúde falou também da greve dos médicos — marcada para os próximos dia 8, 9 e 10 de maio –, sobre a qual se mostrou compreensivo e disponível para “manter a negociação”. “As greves fazem parte da democracia, não podem condicionar a democracia”, disse.

Campos Fernandes revelou que há algo que não vai conseguir fazer enquanto ministro da Saúde: “garantir que todos aqueles afastados dos grandes centros” tivessem acesso a cuidados de saúde com a mesma qualidade daqueles que vivem nesses centro. O ministro reconhece que há “muito mais médicos no interior” mas que são “manifestamente insuficientes”. “Não é só um problema de incentivo financeiro, tem a ver com as condições de vida, com a expectativa profissional”, explicou ainda.