Kriol Jazz Festival, que realiza este ano a sua 10.ª edição, é um marco no percurso de um evento que junta “músicas do mundo” em Cabo Verde e promove os artistas de Cabo Verde além-fronteiras. Criado em 2009, o Kriol Jazz Festival (KJF) foi uma ideia do produtor musical José (Djô) da Silva, com o objetivo de promover a música de inspiração crioula, juntando no palco artistas cabo-verdianos com grandes nomes de África, Europa, Américas e Caraíbas.

Para concretizar a conceito, o primeiro cabo-verdiano a subir ao palco da primeira edição foi o cantor, compositor e guitarrista Tcheka Andrade. “Foi um bom reconhecimento do trabalho que tenho estado a fazer na música. Isso foi bom para mim e fico muito grato”, disse à agência Lusa o músico, que na altura tinha 34 anos e três discos lançados: Argui (2003), Nu Monda (2005) e Lonji (2007).

Na altura ainda em início da carreira, Tcheka disse, porém, que a sua vida musical, forma de ser e estar não mudaram com a sua atuação na primeira edição do festival internacional. “O KJF é um festival importante, a nível nacional e internacional. É bom em termos de organização, de profissionais, mas para mim foi mais um festival, mais um trabalho. Não mudou nada, simplesmente foi mais um palco”, salientou.

Ainda assim, disse que foi positivo e que ganhou reconhecimento, pelo facto de estar com outros músicos e outro público, onde teve a oportunidade de mostrar o seu trabalho, conhecido por transpor o género musical tradicional batuque para a guitarra eletroacústica.

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Atualmente com 44 anos, Tcheka Andrade, natural do concelho da Ribeira da Barca, concelho de Santa Catarina de Santiago, e que começou a trabalhar como operador de câmara na televisão pública, tem mais dois discos no mercado: Dor De Mar (2011) e Boka Kafé (2017).

E a sua ligação ao festival continuou, tendo atuado em outras edições, pelo que considera que o palco é “muito bom” para Cabo Verde, que tem possibilidade de ouvir “músicas do mundo” que não são muito conhecidas no país.

Além da música e dos músicos, o Kriol Jazz atrai anualmente dezenas de jornalistas cabo-verdianos e estrangeiros. Especializada em jornalismo cultural, a cabo-verdiana Miriam Lopes dos Santos, da Rádio de Cabo Verde, tem uma ligação de “longa data”, como jornalista e espetadora, com o KJF, desde quando aproveitava para acompanhar equipas da RCV para ver os concertos.

Na 3.ª edição começou a fazer a cobertura para a rádio pública cabo-verdiana, no ano em que atuou a norte-americana Cindy Blackman Santana, baterista de Lenny Kravitz, de quem é “grande fã”. Essa “experiência diferente” marcou a jornalista porque, segundo disse, não estava habituada a ter “nomes sonantes” da música internacional em Cabo Verde.

Por essa razão, disse, o Kriol Jazz obrigou também os profissionais, especialmente os da comunicação social, a fazer um “trabalho preparatório grande” e a investigarem mais a música internacional. Miriam Lopes dos Santos disse à Lusa que até hoje ainda não é uma grande conhecedora do jazz, mas o conhecimento que já tem é graças ao facto de ter feito cobertura de algumas edições e de em outras ter sido espetadora.

“Isso enriqueceu-me enquanto jornalista, obrigou-me a ir procurar informações sobre os músicos e artistas que não conhecia porque não faziam parte do meu quotidiano”, salientou. A jornalista notou que o KJF evoluiu e ganhou mais público, pelo facto de ter a preocupação de convidar nomes do jazz internacional, mas também pela diversidade que proporciona com influências americanas, europeias e africanas.

Miriam Lopes dos Santos sublinhou o “ambiente agradável” criado à volta da Pracinha da Escola Grande, onde o festival acontece desde a primeira edição, mas questionou se já não será altura de se pensar num espaço maior, já que o local está a tornar-se “demasiado pequeno”. A jornalista gostaria também de ver mais números e dados sobre o impacto económico do festival para o país, evento que considerou que foi o “grande impulsionador” do Atlantic Music Expo (AME), que o antecede.

Em 10 edições, mais de 160 músicos e grupos já passaram pelo palco do KJF, como o Quarteto de Carlos Martins, Esperanza Spalding, Jowee Omicil, Richard Bona, Sara Tavares, Kenny Garret, Monty Alexander, Ismael Lo, Bonga, Paulo Flores, Manu Dibango ou Bettye LaVette.

O KJF arrancou no sábado com a Zona Kriol e neste dia, coincidindo com o encerramento do AME, prossegue com a Marcha de Alfama (Portugal) e de atuações dos dois grupos homenageados. Na sexta-feira o palco será reservado a Mário Lúcio (Cabo Verde), Nathalie Natiembé (Reunião), Stanley Jordan (EUA) e Seu Jorge (Brasil), enquanto na última noite vão atuar Sara Tavares (Cabo Verde/Portugal), Ayo (Alemanha), Bantu (Nigéria) e o Kriol Band.