Neste mundo, não há soluções ideais. Veja-se, por exemplo, o caso dos investimentos chorudos da indústria automóvel na mobilidade eléctrica, a ser realizados não por vontade própria, mas porque os políticos, assustados pela má qualidade do ar nas grandes cidades e pelo aquecimento global, lhes pediram que contribuíssem para melhorar o ambiente e ameaçaram com multas pesadíssimas caso não o fizessem. Mas se a aposta em veículos eléctricos alimentados por baterias melhorou a qualidade do ar, parece que muitos empregados alemães vão ter de aprender a viver apenas disso, uma vez que 75.000 vão perder os empregos.

Estas são as conclusões de um estudo encomendado pelos fabricantes e sindicatos ao Instituto Fraunhofer (IF), segundo o qual a decisão de avançar para a produção de veículos eléctricos – que a indústria calcula que atinjam 25% do mercado em 2030 – vai motivar grandes modificações no aparelho produtivo, devido à menor complexidade dos automóveis com motor eléctrico alimentado por bateria, quando comparados com os veículos equipados com motores tradicionais, de combustão interna, seja ela a gasolina ou diesel.

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O IF estima que sejam criados 25.000 novos postos de trabalho, específicos para o novo tipo de veículos, mas avisa que o saldo será sempre negativo, apontando para 75.000 pessoas que vão perder os seus empregos.

De recordar que os veículos eléctricos, ao contrário dos convencionais, substituem os motores térmicos que tão bem nos serviram durante 100 anos, por eléctricos, o que quer dizer que passamos a ter um estator e um rotor (e muito fio de cobre) em vez de bloco, cabeça, cambota, pistões, bielas, cárter, uma série de árvores de cames, válvulas, molas de válvulas, balanceiros, touches, velas, injectores e sistemas para medir a quantidade de gasolina e do ar admitido. É claro que também desapareceram os sistemas de recirculação de gases de escape, filtros de partículas, catalisadores, colectores de admissão e escape, turbocompressores e tudo o que de resto agora não necessita de ser produzido. E, se continuarmos por este rumo, também desaparecem a caixa de velocidade, ela e os carretos das 5, 6, 7, 8, 9 ou 10 velocidades, bem como os veios de transmissão, dado que os eléctricos apenas necessitam de um redutor.

De acordo com as conclusões do estudo do IF, apesar de todas as medidas que estão a ser tomadas pelo governo central e pelos diferentes fabricantes, muitas vão ser as vítimas desta nova “revolução industrial”, sendo vários os construtores que estão já a negociar rescisões e reformas antecipadas com alguns dos seus funcionários, aqueles que não ver necessários após a electrificação. Bernd Osterloh, um representante da VW, confirmou o plano, afirmando que estão a “usar as oportunidades fornecidas pela actual transformação”.

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