“Eva”

Esta é a segunda adaptação — também muito livre, como a original — ao cinema do thriller psicológico homónimo do escritor inglês James Hadley Chasey, tendo a primeira sido feita em 1962 por Joseph Losey, com Jeanne Moreau e Stanley Baker nos papéis que agora são aqui interpretados por Isabelle Huppert e Gaspard Ulliel. Ela é Eva, uma prostituta de luxo da província à espera que o marido saia da cadeia; ele é Bertrand, um jovem escroque que finge ser dramaturgo, graças a uma peça que roubou a um escritor idoso e esquecido, após a morte deste, e que foi encenada com muito sucesso em Paris. Encontram-se por acaso devido a uma inesperada tempestade de neve, envolvem-se um com o outro e o que tem que acontecer tendo em conta quem eles são e o que fazem, acontece. No sexto filme em que dirige Huppert, Benoît Jacquot não consegue melhor do que contar uma história tépida, sensaborona e muito previsível. Huppert e Ulliel não fazem faísca, e as personagens passam o tempo numa jiga-joga de idas e vindas de carro e de comboio que prejudica o fluir da narrativa.

https://youtu.be/1M9GqJTBhuk

“Esplendor”

Após “Uma Pastelaria em Tóquio” (2015), Naomi Kawase prossegue com “Esplendor”, o que parece ser uma inflexão para um cinema mais próximo do mainstream, para consternação dos seus admiradores europeus (nomeadamente, os franceses), que a viam como uma “autora” por excelência do moderno cinema japonês. Em “Esplendor”, uma rapariga que faz descrições de filmes que são exibidos a cegos e pessoas com dificuldades visuais, conhece um célebre fotógrafo mais velho, que está a perder a visão aos poucos e tem dificuldade em enfrentar esse facto. Kawase ameaça por vezes tombar no sentimentalismo e no óbvio (as várias metáforas sobre a luz como símbolo da pujança e da vida, e a escuridão como equivalente da decadência e da morte), mas “Esplendor” consegue aguentar-se graças aos dois intérpretes principais, Ayame Misaki e Masatoshi Nagase, e à delicadeza com que glosa temas tão caracteristicamente nipónicos como a impermanência das coisas, a inevitável brevidade de tudo o que é belo e fundamental, e o esplendor que, se estivermos bem atentos, podemos encontrar nos mais fugazes momentos de beleza.

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“Hereditário” 

Revelado no Festival de Sundance, onde causou sensação, sendo comparado a clássicos como “A Semente do Diabo”, de Roman Polanski, ou “Aquele Inverno em Veneza”, de Nicolas Roeg, este filme de estreia de Ari Aster, realizador e autor do argumento, é uma história de terror passada no seio da família Graham, após a morte recente da avó, muito chegada a Charlie, a neta mais nova, e com a qual a filha nunca teve uma boa relação. Os Graham começam a então viver estranhos acontecimentos na sua casa isolada no campo, nomeadamente visões da morta, cuja sepultura foi vandalizada por desconhecidos, e dá-se logo a seguir uma tragédia na família. Toni Collette, Gabriel Byrne, Alex Wolff  e a pequena Milly Shapiro são os principais intérpretes da fita. “Hereditário” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.