Depois de ter anunciado na semana passada que iria começar a reduzir as compras de dívida que tem ajudado a libertar os balanços dos bancos e assim a reduzir os juros nos mercados, o presidente do Banco Central Europeu abriu esta terça-feira o primeiro dia de trabalhos do Fórum organizado pelo BCE para passar uma mensagem de confiança, e também de que o BCE não vai suspender subitamente os estímulos monetários à economia. Só depois da confirmação de que a inflação está em linha com o esperado e estará pronto para retomar os apoios, caso seja necessário.

Agradar a gregos e troianos, parece ser a estratégia de Mario Draghi no que diz respeito à política monetária que o BCE tem colocado em prática. Depois de uma pressão intensa, e durante um longo período de tempo, pelos governadores mais conservadores dos bancos centrais da zona euro – à cabeça o Banco Central da Alemanha –, o BCE decidiu finalmente colocar um prazo para o fim do programa de compra de ativos, que desde o seu início em 2015 já atinge os 2,4 biliões de euros. Em setembro deste ano, as compras semanais são reduzidas a metade (15 mil milhões). No final do ano, o programa termina.

A compensação de Mario Draghi para quem exigia mais tempo antes de terminar com este programa, especialmente numa altura em que a economia europeia está a abrandar, foi garantir que as taxas de juro não vão subir no próximo ano, pelo menos até ao verão de 2019.

Agora, com os principais banqueiros centrais do mundo – e alguns dos principais académicos e analistas que seguem as decisões do BCE — na audiência em Sintra, Mario Draghi fez questão de reafirmar, por mais que uma vez, todas as condições que têm de se verificar para que o plano para remoção dos estímulos avance, e lembrou que caso a situação mude, o programa pode voltar a ser colocado em prática a qualquer momento, uma mensagem de confiança para os mercados de que o BCE continua pronto para agir.

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O fim que prevemos para as compras de ativos em dezembro deste ano está sujeito a novos dados que confirmem a trajetória da inflação no médio prazo. Além disso, o APP (programa de compra de ativos, na sigla em inglês) pode sempre ser usado caso se materializem eventualidades que não prevemos atualmente”, disse o presidente do BCE.

Outra garantia que Mario Draghi quis reforçar, é que à medida que esta dívida for atingindo a maturidade e, por isso o BCE for reembolsado, o dinheiro (com exceção dos juros) será reinvestido na compra de dívida. Isto significa que o valor global da dívida que o BCE terá no seu balanço continuará relativamente inalterado durante um “longo período depois do final das compras líquidas”, e “enquanto for necessário para favoráveis as condições de liquidez”.

A garantia relativa às taxas de juro não vai apenas até ao verão de 2019. Segundo Mario Draghi, as taxas não só não subirão pelo menos até ao verão de 2019, mas ficarão no atual nível “enquanto for necessário para garantir que a evolução da inflação continua em linha com as expetativas atuais para uma trajetória de ajustamento sustentável”.

A mensagem é clara para os mais preocupados com a evolução da economia europeia. “Vamos continuar a ser pacientes na determinação do timing certo para o primeiro aumento das taxas de juro e adotaremos uma abordagem de ajustamento gradual da política (monetária) depois disso”, afirmou o presidente do BCE.

O reforço das garantias surgiu depois de Mario Draghi reconhecer que, de facto, a economia europeia está a abrandar e os riscos estão a aumentar, riscos como o aumento do protecionismo motivado pela imposição de tarifas sobre o aço e o alumínio pelos Estados Unidos, o aumento dos preços do petróleo relacionado com o aumento das tensões geopolíticas no Médio Oriente, e a possibilidade da continuação de um nível elevado de volatilidade nos mercados financeiros.

No entanto, para os seus objetivos, o BCE está confiante. “Essa decisão [de calendarizar o fim de uma parte dos estímulos monetários], apesar de reconhecendo o aumento da incerteza, demonstra que estamos confiantes que convergência da trajetória da inflação que esperamos irá acontecer com probabilidade suficiente” sem necessidade de aumentar as compras dívida.

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