No Mundial de 2002, na Coreia do Sul e no Japão, o Senegal fez história. Para além de estar pela primeira vez a competir num Campeonato do Mundo, só caiu nos quartos-de-final, com a Turquia, já no prolongamento. Até lá chegar, deixou para trás a campeã em título França, a Dinamarca, o Uruguai e a Suécia. Foram a equipa sensação da prova. Aliou Cissé, central de 26 anos do Montpellier, era o capitão. 16 anos depois, é ele o timoneiro que levou o Senegal de volta ao Campeonato do Mundo. Esta quinta-feira, só precisa de um empate para voltar a fazer história e levar a seleção africana para os oitavos-de-final do Mundial da Rússia.

Aliou Cissé é o rei das estatísticas entre os selecionadores: é o mais novo, o único negro e o mais mal pago. Com 42 anos, o agora selecionador do Senegal foi internacional até 2005. Em 2010, um ano depois de ter terminado a carreira nos franceses do Nimes, foi convidado para assumir o papel de treinador adjunto do Louhans-Cuiseaux, outro clube francês. Ficou dois anos até ir ocupar o mesmo cargo para a seleção sub-23 do Senegal, até ser promovido à cadeira de treinador principal apenas um ano depois. Em 2015, acabou por ser o escolhido para orientar a equipa principal do Senegal.

Cissé, em 2002, a celebrar a vitória frente à França no primeiro jogo do Senegal num Campeonato do Mundo

O selecionador mais novo do Mundial da Rússia é também o mais mal pago: de acordo com o The Guardian, Aliou Cissé ganha 175 mil libras anualmente. Em comparação, o selecionador brasileiro Tite – o terceiro mais bem pago do Mundial – recebe 16 vezes mais do que Cissé. E surpreendentemente, é também o único negro, já que até as outras três seleções africanas em prova (Nigéria, Marrocos e Egito) têm selecionadores nascidos na Alemanha, em França e na Argentina. Para Aliou Cissé, é o futebol que perde.

“Estou certo de que um dia um país africano vencerá o Campeonato do Mundo. Acho que as coisas se desenvolveram, mas é mais complicado no nosso continente, temos realidades que não são evidentes nos outros continentes. Confiamos no nosso futebol, não temos complexos, temos grandes jogadores, agora precisamos de treinadores africanos para o nosso futebol ir em frente. Além de sermos bons jogadores, somos muito bons nas nossas táticas e temos o direito de fazer parte dos principais jogos internacionais. Eu represento uma nova geração que gostaria de ter o seu lugar no futebol africano e mundial”, afirmou Cissé numa entrevista já na Rússia.

Em 2002, dois meses antes da campanha histórica que colocou Cissé e o Senegal no mapa, o selecionador perdeu 11 familiares no Oceano Atlântico, a bordo da embarcação Le Joola. O barco, completamente lotado, naufragou a caminho de Dakar, capital do Senegal. Morreram, pelo menos, 1.893 pessoas a bordo do Le Joola. No seguimento do desastre, Aliou Cissé organizou um jogo solidário entre o Senegal e a Nigéria para homenagear as vítimas e ainda doou cinco mil libras às famílias mais afetadas.

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