Deu nas vistas, pela primeira vez, no final do jogo com a Dinamarca, que deu a passagem da Croácia aos quartos de final do Rússia 2018. Daniel Subasic tinha sido a figura do jogo. Incontestável, incontornável. Afinal, defendeu três grandes penalidades. Difícil seria alguém virar para si mais holofotes do que o guarda-redes do Mónaco. Se fossem tantos quantos os dele, já seria admirável. Mas acabou por acontecer.

No meio da amálgama de flashes, de gritos de alegria, de abraços apertados, uma cabeleira loira chamou a atenção. Não, não era o penacho de Domagoj Vida (o central parece concorrer num campeonato à parte, o dos cortes de cabelo mais bizarros do Mundial). Era o de Iva Olivari, carinhosamente tratada por “Tia Iva” pelo staff da Croácia.

Iva é manager da seleção dos balcãs, e por isso, encarrega-se de toda a logística das competições e dos jogadores, além da comunicação com entidades como a FIFA. É também a primeira mulher a sentar-se no banco de suplentes de uma equipa num mundial masculino de futebol. Conquistou esse lugar por direito. Em 2014, por exemplo, teve de se sentar na bancada para assistir aos jogos da Croácia no Brasil; apenas no Euro 2016 conseguiu ocupar o espaço que hoje é seu no banco de Zlatko Dalic.

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Iva dedica-se ao trabalho na Federação sete dias por semana, 24 horas por dia. Tem especial queda para ajudar os jogadores com os seus problemas pessoais — afinal há 16 anos que é parte da entidade que gere o futebol croata. E a cumplicidade é evidente: a hashtag #family acompanha quase todas as imagens de trabalho que publica nas redes sociais. “Os rapazes são fantásticos. Gosto muito deles e eles respeitam-me. Com os mais velhos tenho uma relação de irmãos, porque já estamos juntos há muito tempo, desde que me tornei a ‘Tia Iva’ para eles”, contou a manager por altura do Euro 2016.

A tenista que derrotou Steffi Graf

Mas Iva Olivari, hoje com 49 anos, nem sempre entregou o seu tempo e o seu esforço ao futebol. Antes disso, era tenista profissional — e chegou a ser campeã da antiga Jugoslávia, aos 14 anos. Tem ainda no currículo uma vitória que sabe a troféu: nos seus melhores anos, derrotou Steffi Graf, então número 1 do mundo. Mas uma lesão grave do pulso deitou tudo a perder: Iva teve de abandonar a modalidade.

Foi o futebol que a acolheu. Mais concretamente, a Federação croata, onde trabalha desde 1992 — começou no departamento de relações internacionais e, a parir de 2012, passou a desempenhar as atuais funções, quando o ex-jogador Davor Suker assumiu o comando do organismo.

Iva não esconde as dificuldades de ser mulher num mundo de homens. Reconhece ter sido vítima de discriminação, sobretudo nos primeiros tempos. “É um facto que vivemos numa sociedade muito tradicional, onde o futebol é um desporto predominantemente masculino”, diz. E há alguma receita para escapar ao estigma? Iva conhece uma. “Já há muito tempo que percebi que a única forma de mudar isso é arregaçar as mangas e trabalhar”.