O Facebook suspendeu mais uma empresa que recolhia informações da rede social e afirmou que está a investigar a possibilidade de existirem violações dos seus regulamentos nos contratos que a Crimson Hexagon mantinha com o governo dos EUA e uma organização sem fins lucrativos russa com ligações ao Kremlin. Esta decisão surge poucos meses depois do escândalo que envolveu o Facebook e a Cambridge Analytica.

Segundo o Wall Street Journal, a Crimson Hexagon tem celebrado vários contratos nos últimos anos que permitiram analisar informações públicas do Facebook e ceder relatórios sobre esses dados aos seus clientes. A firma sediada em Boston afirma ter o maior repositório de posts públicos em redes sociais — não só do Facebook mas também do Twitter e do Instagram, confirmam outras publicações como o The Guardian ou a BBC.

A partir do momento em que a Crimson Hexagon (CH) faz a sua recolha de informações, o Facebook deixa de conseguir manter um controlo apertado sobre os dados reunidos. Os contratos governamentais da CH, por exemplo, não foram acordados previamente com a empresa de Mark Zuckerberg. A própria rede social confirmou esta falta de supervisão ao WSJ.

A notícia desta suspensão foi dada pelo próprio Facebook na passada sexta-feira, na mesma altura em que anunciaram também que iam lançar um extenso inquérito interno para perceber ao certo a forma como a Crimson Hexagon recolhe, partilha e armazena dados. Nos próximos dias está prevista uma reunião entre representantes de ambos os lados desta polémica.

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“O Facebook tem a responsabilidade de ajudar a proteger as informações das pessoas e foi com isso em mente que decidimos apertar o cerco a eventuais anomalias”, afirmou Ime Archibong, o vice-presidente do Facebook, numa declaração citada pelos media americanos. Afirmou ainda que apesar de a rede social permitir que outras empresas formulem “relatórios em anonimato para fins comerciais” com os dados que recolhem, não aceita que os mesmos possam ser usados como forma “de vigilância”.

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Chris Bingham, o responsável máximo pelo departamento de tecnologia da Crimson Hexagon, afirmou numa declaração oficial que a sua empresa cumpre escrupulosamente os regulamentos “dos seus parceiros de social media” e que a empresa não “recolhe dados privados”. Afirmou ainda que a firma está em estreita colaboração com o Facebook, “a trabalhar em conjunto para que se resolva rapidamente este assunto”.

Apesar desta tomada de posição, fontes próximas da empresa contaram ao WSJ que uma vez, “por engano”, a Crimson Hexagon terá recebido dados privados provenientes do Instagram. Supostamente, essas informações vieram num pacote de centenas de posts públicos e os técnicos da CH calcularam que tivesse sido um erro por parte do Facebook.

Um porta-voz do Facebook afirmou que foram pedidas mais provas à CH, mas “com base na investigação em curso eles não obtiveram nenhuma informação do Facebook ou do Instagram de forma inapropriada”.

A Crimson Hexagon especializou-se em lidar com grandes volumes de informações públicas geradas diariamente por vários utilizadores das redes sociais. Na prática, estes “dados públicos” podem ser comentários feitos em páginas de marcas, celebridades ou outros eventos mais específicos. Este tipo de informações, quando utilizado em massa, pode dizer às empresas como é que certos grupos de pessoas se estão a sentir num dado momento, por exemplo. Um caso mais específico desta utilização pode ser aquele que é usado na altura das eleições, quando vários partidos políticos lutam por angariar seguidores.

Gary King, um estudioso na área das ciências sociais e professor em Harvard, fundou a Crimson Hexagon em 2007 e é, atualmente, o seu CEO. No total, a empresa está avaliada em mil milhões de dólares.

A Crimson Hexagon prestou os seus serviços de analítica a países estrangeiros como a Rússia e a Turquia. Em 2014 trabalhou em conjunto com a Civil Society Development Foundation, a tal organização sem fins lucrativos russa com ligações ao governo de Putin, dizem fontes do jornal norte-americano. Essa mesma fundação usou a plataforma da CH para estudar a opinião do povo russo sobre o presidente Vladimir Putin. O Estado turco também recorreu a esta empresa, em 2014, para analisar as reações populares à decisão de 2014 de fechar o Twitter.

Desde 2014, o governo norte-americano tem pago a agências como a Crimson Hexagon mais de 800 mil dólares por 22 contratos separados. Em junho, a firma em questão fechou um acordo de 240 mil dólares com o Departamento de Estado americano, que já veio a público dizer, através de um porta-voz, que usaram estes serviços para “identificar e analisar tendências de partilhas públicas nas redes sociais”.