É no mínimo estranho que um fabricante, qualquer que seja, quando contacta um serviço oficial europeu no sentido de patentear uma descoberta, tentando protegê-la dos seus rivais, a veja exposta no instante seguinte aos olhos de todos – concorrentes incluídos.

Desta vez, a vítima de uma fuga do Instituto Europeu de Patentes foi a Ferrari, cujos avanços tecnológicos são seguidos com particular atenção. A marca do Cavallino Rampante desenvolveu, e registou, um sistema de sobrealimentação que recorre a um turbocompressor eléctrico, para evitar atrasos na resposta ao acelerador. Só que a Ferrari criou um dispositivo diferente que, à semelhança de outros (muito poucos) no mercado, possui um compressor de ar accionado a electricidade. Porém, tem um truque.

Como sempre, e a Ferrari não faz carros e motores fantásticos há 78 anos por mero acaso, os técnicos do construtor tentam andar uns passos à frente da concorrência, pelo que também o turbo eléctrico do Cavallino tem uma abordagem diferente. Para começar, além da turbina eléctrica que comprime o ar, o que é a solução standard dos turbos movidos a electricidade, o da Ferrari mantém a turbina accionada pelos gases do escape, sendo o primeiro turbo eléctrico que o faz.

Mas esta turbina, que é soprada pelos gases de escape a velocidades muito elevadas, onde 500 km/h e 800ºC são valores perfeitamente atingíveis, não tem qualquer ligação mecânica (ou outra) com a turbina do compressor de ar. Está ligada a um gerador de electricidade que alimenta uma bateria, presumivelmente a 48V, que depois alimenta a turbina eléctrica do compressor. Com isto a Ferrari reduz a necessidade de uma bateria maior e mais pesada, e todos sabemos como o fabricante italiano – ou qualquer outro que produza superdesportivos – detesta aumentar o peso, porque isso coloca entraves ao comportamento em curva, já para não falar das distâncias de travagem ou na capacidade de aceleração. E não é impossível que este (alegadamente) sistema de 48V sirva igualmente para alimentar um motor eléctrico montado no eixo da frente, ajudando nas acelerações e, no limite, permitindo-lhe percorrer alguns quilómetros (poucos) em modo eléctrico.

Contudo, a descrição da patente revela outras preocupações do construtor, que são do máximo interesse, sobretudo quando na frente do capot está o emblema de um cavalo empinado. Referimo-nos ao ruído, que é sempre afectado sempre que se introduz uma turbina no sistema de escape. Mas a Ferrari, seguindo os ensinamentos de cantores clássicos como Pavarotti, decidiu arranjar uma solução para também ela modular a “voz” do seu motor, que será um quatro cilindros, nada impedindo que esta mesma tecnologia seja aplicada nos V8 e V12. Segundo a marca italiana, a velocidade da turbina soprada pelos gases faz variar o ruído, sendo mais agudo a alto regime e vice-versa. E é aqui que entra o génio da Ferrari, que encontrou uma forma de fazer variar a velocidade de rotação, para desempenhar um papel similar ao de uma vulgar wastegate, e com isso imitar os grandes tenores, “cantando” de forma a carregar mais ou menos nos graves, consoante a ocasião.

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