O governador do Banco de Cabo Verde (BCV) considerou esta segunda-feira que o setor do microcrédito no país tem de crescer em “bases sustentáveis”, entendendo que as instituições deverão ser “financeiramente sólidas e autossuficientes”.

João Serra, que falava na abertura do primeiro fórum sobre microfinanças, na cidade da Praia, disse ainda que, para que o setor do microcrédito melhore e perdure, é “absolutamente necessário que as suas instituições sejam corretamente geridas”. “É imprescindível que constituam fundos rotativos e lucrativos, para que não permaneçam na dependência eterna de financiamentos a fundo perdido ou ponham em causa a sua continuidade”, salientou.

O governador do banco central considerou também que é “absolutamente necessária” uma “correta política” de microcréditos no país, sem “incentivos perversos”, mas acompanhada de outras medidas, nomeadamente a formação, visto tratar-se de um público-alvo com baixo nível de escolaridade e de literacia financeira. “O êxito dos programas de microcrédito no combate à pobreza dependerá, portanto, também da capacitação das pessoas nas técnicas e ferramentas básicas de gestão e na elevação dos seus níveis de literacia”, reforçou.

Conforme os resultados do III Inquérito às Despesas e Receitas das Famílias apresentados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), em 2015 existiam em Cabo Vede cerca 180 mil pessoas em situação de pobreza, correspondendo a aproximadamente 35% do total da população. As micro, pequenas e médias empresas são dos setores empresariais que mais contribuem para o emprego e geração de rendimento para as famílias, mas João Serra sublinhou que são os que maiores dificuldades enfrentam para obter crédito no setor bancário formal clássico.

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Com um número de pobres “extremamente elevado e preocupante” e um tecido empresarial frágil, o governador do BCV disse que o setor de microfinanças poderá ser um “importante recurso” para o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas cabo-verdianas. Também destacou a importância do setor de microfinanças na ligação entre as pessoas mais pobres e o setor financeiro.

A setor de microfinanças começou há cerca de duas décadas e meia em Cabo Verde, com pequenos créditos, tendo já realizado dezenas de milhares de operações de crédito, mobilizado largos milhares de contos e beneficiado milhares de pessoas, segundo João Serra.

A atividade de microfinanças, que passa a estar sujeita à regulação e supervisão do BCV, representa menos de 2% do PIB de Cabo Verde. Segundo o presidente da Associação Profissional das Instituições de Microfinanças de Cabo Verde (APIMF-CV), Jacinto Santos, em 2009 realizaram-se 52 mil operações, totalizando mais de três milhões de escudos (27 mil euros), com 8.481 clientes ativos (75% mulheres) e uma carteira ativa de 442 milhões de escudos (4 milhões de euros).

O fórum é uma iniciativa do BCV, em parceria com a APIMF-CV, durante o qual serão discutidos temas como o processo de transformação e profissionalização das instituições de microfinanças, tendo por base o regime jurídico publicado no ano passado.