Um homem de 79 anos foi identificado e detido esta sexta-feira por suspeitas de um crime de violação durante uma sessão de exorcismo que terá ocorrido na quarta-feira, em Fátima, informou a Polícia Judiciária, através do Departamento de Investigação Criminal de Leiria. Igreja conhecia as queixas sobre as práticas do falso padre desde 2011, altura em que fez um comunicado a sublinhar que o homem tinha sido expulso da congregação — e a expulsão foi confirmada pelo Vaticano — e suspenso das funções de padre em 1972.

O suspeito, que se fez passar por padre e exorcista, terá violado uma pessoa “especialmente vulnerável”. A vítima — cujo sexo e idade não foram revelados — não terá conseguido fugir, uma vez que terá sido colocada na “impossibilidade de resistir”.

O arguido, aproveitando a sua atividade de exorcista e explorando a fragilidade da vítima, especialmente vulnerável, constrangeu-a à prática de atos sexuais de relevo, após a ter colocado na impossibilidade de resistir”, pode ler-se no comunicado das autoridades.

Não se sabe se existem mais vítimas, mas sabe-se que o falso padre desenvolvia uma atividade de exorcista “amplamente divulgada, levando inúmeras pessoas em dificuldades várias a consultá-lo e auspiciando uma eventual ajuda da sua parte, cobrando honorários“. O homem está, por isso, a ser investigado por uma eventual prática do crime de burla qualificada.

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Homem foi expulso da congregação em 1972 “por motivos graves”

O detido é, de acordo com o Correio da Manhã, Humberto Gama, um antigo padre da congregação religiosa dos Marianos da Imaculada Conceição que foi afastado das suas funções, mas continua a intitular-se como tal e a realizar práticas de exorcismo.

Já em 2011 a diocese de Leiria-Fátima tinha publicado um comunicado, assinado pelo vigário-geral, padre Jorge Guarda, a dar conhecimento de “queixas e pedidos de informação” sobre o antigo sacerdote Marcelino Humberto Gama, mais conhecido por “padre Humberto Gama”, que chegaram ao Santuário de Fátima e à diocese “na sequência de um programa televisivo e de notícias aparecidas nos meios de comunicação social sobre as atividades de exorcismo” praticadas por ele na zona de Fátima.

Humberto Gama, que havia sido ordenado padre em 1965 num convento em Macedo de Cavaleiros, ainda foi enviado para Inglaterra, onde esteve integrado numa comunidade religiosa pertencente àquela congregação. “Mas, em 1972, por motivos graves, o governo geral da mesma Congregação demitiu-o. Esta decisão de expulsão da congregação religiosa de que era membro foi confirmada pelo Vaticano, através da Congregação dos Religiosos e Institutos Seculares”, lê-se no mesmo documento de 2011.

Título de “padre” e uso de vestes religiosas são “abusivos”

“Desde então, na Igreja Católica, não se reconhece ao senhor Humberto Gama qualquer legitimidade para as atividades religiosas ou de exorcismo que realiza, sendo abusivos o título de ‘padre’ com que se apresenta, o uso de vestes sacerdotais e a prática de ritos religiosos. É igualmente abusiva a divulgação de uma sua fotografia com o Papa João Paulo II, para tentar legitimar e provar a sua condição de padre e para servir de cartão de visita para ser contactado nos arredores de Fátima”, acrescentava na altura o vigário-geral de Leiria-Fátima.

Apesar de terem conhecimento da situação há vários anos, quer o Santuário de Fátima quer a diocese de Leiria-Fátima não podem tomar medidas relativamente ao assunto uma vez que Humberto Gama já se encontra suspenso canonicamente.

O detido irá ser presente às Autoridades Judiciárias competentes para ser interrogado. Posteriormente, ser-lhe-ão aplicadas as medidas de coação adequadas. A vítima foi hospitalizada.

Artigo atualizado às 9h58 de 4/8/2018