Sun Wenguang, um conhecido crítico do Governo chinês de 84 anos, foi interrompido pela polícia dentro da sua própria casa quando estava a dar uma entrevista por telefone à edição chinesa do serviço de rádio e televisão norte-americano Voice of America (VOA). É desconhecido o paradeiro atual do antigo professor universitário.

Tudo aconteceu na noite da passada quarta-feira, quando Wenguang estava ao telefone em direto com o serviço chinês da VOA a partir da sua casa, na cidade de Jinan, no leste da China. A meio da conversa, de acordo com o que se ouve na gravação, alguns agentes da polícia terão entrado na sua casa e interrompido a entrevista.

Na gravação é possível ouvir Sun Wenguang a contestar os “sete ou oito” agentes da polícia, reforçando que não está a dizer nada de “errado”. “As pessoas são pobres, não gastemos o nosso dinheiro em África”, diz o professor universitário de Economia, que já está reformado. “O que é que estão a fazer? Deixem-me dizer-vos, é ilegal entrarem na minha casa”, diz Wenguang. As últimas palavras que se podem ouvir antes da chamada cair são do ativista a dizer: “tenho direito à minha liberdade de expressão”.

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O serviço chinês da VOA anunciou entretanto que voltou a tentar contactar Sun, mas sem sucesso. Da mesma forma, a VOA não conseguiu confirmar a detenção. A BBC, contudo, falou com uma amiga do professor, Li Hongwei, que garantiu que o ativista foi detido e que estará neste momento retido num hotel com a sua esposa.

A entrevista de Sun Wenguang surge na sequência de uma carta aberta que escreveu ao Presidente chinês, Xi Jinping, criticando a política estatal de investimento no estrangeiro e pedindo-lhe que se concentrasse em investir no próprio país. Segundo a BBC, a carta também criticava a recente decisão de remover o limite de mandatos presidenciais que, na prática, pode tornar Xi um Presidente vitalício.

Wenguang tem um passado conhecido como crítico das autoridades chinesas. Segundo a VOA, esteve detido durante a Revolução Cultural nos anos 60 e foi condenado a seis anos de prisão em 1978 por “atacar o Grande Líder Presidente Mao”. De acordo com o Guardian, Sun foi espancado em 2009 quando visitava a campa de Zhao Ziyang, um antigo líder do Partido Comunista Chinês que caiu em desgraça por ter apoiado os protestos estudantis em Tiananmen.

Sun Wenguang é também um dos signatários do chamado Charter 08, um manifesto pró-democracia conhecido por ter contribuído para a prisão do Nobel da Paz Liu Xiaobo. Segundo o New York Times, Sun declarou que a renovação do seu passaporte foi negada em 2010, quando tencionava viajar para assistir à cerimónia de entrega do Novel a Xiaobo.

Organizações humanitárias como a Human Rights Watch (HRW) aproveitaram a entrevista interrompida de Sun para denunciar o que consideram ser a “realidade diária” dos ativistas chineses. “A qualquer momento a polícia pode levá-los para serem interrogados, detidos, torturados ou mal tratados, simplesmente por desafiarem as narrativas das autoridades ou por falarem a media estrangeiros”, declarou Maya Wang, da HRW, à BBC.