O Presidente norte-americano, Donald Trump, admitiu pela primeira vez de forma inequívoca que a reunião entre o seu filho, Donald Trump Jr., e a advogada russa Natalia Veselnitskaya, durante a campanha presidencial, tinha como objetivo obter informação potencialmente negativa sobre a adversária Hillary Clinton. A declaração é particularmente relevante porque contradiz informação anteriormente divulgada pela família Trump, numa altura em que avança a todo o gás a investigação do procurador-especial Robert Mueller por suspeitas de conluio com o Governo russo.

As afirmações foram deixadas por Trump no Twitter, no passado domingo, em reação a uma série de notícias que davam conta de que o Presidente estaria preocupado com as suspeitas que pendem sobre o filho a propósito dessa reunião. “É mais jornalismo das ‘fake news’, uma total fabricação, a de que estou peocupado com a reunião que o meu maravilhoso filho, Donald, teve na Trump Tower”, começou por escrever o Presidente. “Esta foi uma reunião para obter informação sobre uma adversária, totalmente legal e que se faz a toda a hora na política — e que levou a lado nenhum. Eu não sabia que [a reunião] tinha acontecido!”

O tweet é particularmente relevante porque contradiz informação inicialmente divulgada por Donald Trump Jr., num comunicado tornado público em julho de 2017, onde declarou que a reunião com Veselnitskaya — uma advogada com ligações ao Kremlin — tinha como objetivo discutir apenas “um programa sobre a adoção de crianças russas”. À altura, o Washington Post noticiou que tinha sido o próprio Presidente a ditar esse comunicado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Trump já tinha feito um comentário semelhante há cerca de um ano, ao dizer que a reunião não tinha nada de errado: “Chama-se investigar a oposição ou mesmo até investigar o adversário.” Contudo, à altura, a equipa do Presidente manteve o discurso de que o encontro tinha servido para discutir as adoções de crianças russas, com o secretário de imprensa Sean Spicer a dizer nesse mesmo dia que não havia qualquer prova de que se tivessem discutido outros assuntos que não esse na reunião.

A isto juntam-se as declarações do advogado de Trump, Jay Sekulow, que no passado domingo confirmou numa entrevista à ABC que as informações que teve inicialmente sobre essa reunião não eram corretas. “Tive más informações sobre esse comunicado”, afirmou, negando no entanto que Donald Trump tenha ditado as declarações.

Na mesma entrevista, Sekulow acrescentou que a reunião, mesmo com o intuito de obter informações sobre Clinton, não foi ilegal. “A questão é: que lei, estatuto ou regulação foi violado? Ninguém consegue dizer um”, afirmou. Contudo, explica o New York Times, a lei norte-americana impede qualquer campanha de receber ajuda de um governo ou cidadão estrangeiros.

A admissão de Trump surge no momento em que a investigação do procurador-especial Robert Mueller às suspeitas de conluio entre a campanha presidencial do milionário e o Kremlin ganhou fôlego com a colaboração do antigo advogado de Trump, Michael Cohen. Há uma semana, a CNN avançou que Cohen está disposto a testemunhar que o Presidente teve conhecimento da reunião entre o filho e a advogada russa — algo que Trump nega.