Dificilmente José Mourinho poderia imaginar um início tão bom de Premier League: logo aos dois minutos, penálti infantil cometido pelo Leicester (que curiosamente já tinha iniciado assim o Campeonato no ano passado, sofrendo um golo do Arsenal de penálti quando alguns ainda procuravam o seu lugar no estádio) e 1-0 para o Manchester United, com o castigo máximo a ser cobrado pelo capitão Paul Pogba. Foi uma entrada dos diabos, que conheceu outra história nos minutos que se seguiriam.

De Gea ainda tirou o empate a Maddison com uma defesa monstruosa na primeira parte, Lukaku teve uma oportunidade mais do que flagrante para marcar mas seria o mais improvável dos improváveis a sentenciar o vencedor do encontro a sete minutos do final – Luke Shaw, o lateral esquerdo contratado por mais do que 30 milhões de euros ao Southampton em 2014 que nunca se conseguiu afirmar em Old Trafford (as lesões graves também impediram que tal acontecesse) e que chegou mesmo a ser criticado diretamente por José Mourinho, aventurou-se na área contrária e apontou o primeiro golo como sénior ao 134.º encontro oficial. Assim, o máximo que o Leicester conseguiu foi mesmo reduzir a desvantagem para 2-1 por Jamie Vardy já na compensação, numa recarga após cruzamento de Ricardo Pereira que acabou por bater no poste dos visitados.

Mourinho arrancou com uma vitória no jogo em que Luke Shaw marcou o primeiro golo como sénior aos 23 anos (OLI SCARFF/AFP/Getty Images)

A Premier League estava lançada, mas a história desta primeira partida estava longe de ficar fechada. E teve três grandes protagonistas no final, todos do Manchester United: José Mourinho, Paul Pogba e Luke Shaw.

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Comecemos pelo técnico, que vários meios ingleses dizem estar em rutura com os dirigentes dos red devils na sequência de um mercado onde acabou por ver frustradas todas as necessidades que pedira, nomeadamente o reforço da zona central da defesa. “Planeei tudo há vários meses e vi-me numa situação que nunca pensei que podia ocorrer quando o mercado encerrou. Teremos de aguardar até ao final de novembro para aferir se podemos lutar pelo título”, assumiu, antes de voltar a focar o tema comparando o dinheiro gasto pelo United e pelo Leicester (114 milhões contra “apenas” 82,7): “É importante ganhar e jogar bem, nós jogámos bem durante alguns períodos, frente a uma boa equipa que gastou mais em reforços do que nós. Temos de nos habituar que estas equipas têm jogadores com qualidade idêntica aos nossos. Esqueçam os nomes, a história e as camisolas”.

Mourinho não deixou também de lamentar o facto de ter apenas três substituições disponíveis, entre os elogios aos marcadores dos golos que deram a primeira vitória vitória da época no Campeonato. Alvo? Richard Scudamore, diretor executivo da Premier League. “Deve estar feliz por ter este jogo a começar mas eu precisava de seis substituições e não três. Pogba? Esteve espantoso até deixar de ter gasolina. Também muito satisfeito com o Luke Shaw, não só pelo golo que conseguiu marcar mas também pela parte defensiva, onde cometeu apenas um erro que podia ser evitado pelo assistente”, comentou o treinador.

Já Pogba, que assumiu a braçadeira da equipa e também a marcação da grande penalidade por se sentir confiante (embora admitindo que, no próximo, há hipóteses que dê a possibilidade a Alexis Sánchez), admitiu que, por ter começado apenas a treinar de forma normal na segunda-feira, as pernas acabaram por pesar. No entanto, foi uma mensagem nas redes sociais que criou uma espécie de enigma sobre o seu futuro – “Vou sempre fazer o melhor pelos adeptos e companheiros, sem ligar ao que se está a passar”. Foi sol de pouca dura: o médio que foi colocado na rota do Barcelona e da Juventus comentou que, depois do Campeonato do Mundo, quer agora lutar pela vitória na Premier League e na Champions “por gostar de desafios”.

Por fim, Luke Shaw, o lateral que Mourinho chegou a dizer estar “muito atrasado e sem comparação com Ashley Young, Darmian ou Danny Blind a nível de treino, empenho, concentração e ambição”, surgiu na zona da flash interview como um jogador novo. “Não quero falar demasiado cedo depois de apenas um jogo mas trabalhei muito bem e quero estar ao nível dos melhores laterais esquerdos do mundo. Com um grande treinador e com grandes companheiros, como tenho, acredito que tenho no Manchester United as fundações para atingir esse objetivo e poder voltar à seleção”, disse à Sky Sports.