A papeleira portuguesa Navigator esteve a cair 18,2% na manhã desta segunda-feira, a sua maior queda percentual de sempre em bolsa, com os títulos nos 4,08 euros. A queda dos títulos da papeleira – que está a ser acompanhada com “especial atenção” pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) – ocorreu depois de a Navigator ter adiantado na sexta-feira que vai contestar judicialmente a taxa sobre vendas de papel aplicada pelos EUA.

No mesmo comunicado, a empresa controlada por Pedro Queiroz Pereira, admitia que apesar desta contestação a decisão das autoridades americanas poderia ter um impacto de 45 milhões de lucros deste ano. Em 2017, a Navigator (antiga Portucel) lucrou pouco mais de 200 milhões de euros.

Navigator em guerra com o Departamento de Comércio dos EUA contra taxa anti-dumping

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As ações chegaram a derrapar 18%, mas limitaram as perdas no final da sessão, com uma queda de 7,74% para 4,602 euros, o que ainda representa um rombo da ordem dos 250 milhões de euros na capitalização bolsista da Navigator em apenas um dia.

Carla Maia Santos, analista da XTB, disse à agência Lusa que será possível “continuar a assistir à fuga dos investidores da empresa”, enquanto não houver um “fecho do tema”, ou seja, enquanto a reclamação da Navigator contra as taxas dos EUA não ficar concluída.

A analista salienta que a Altri (cotada que também é do setor do papel) está a acompanhar o movimento negativo (a cair 2,79% para 8,72 euros pelas 12:40), “com os investidores receosos com o setor”.

“Mesmo a recente valorização do dólar não está a conseguir manter os investidores no setor do papel. Uma vez que estas empresas estão muito expostas ao mercado norte-americano, uma valorização do dólar tem impacto cambial positivo nas receitas”, afirma Carla Maia Santos. Além disso, acrescenta, o “fraco volume de negociações na bolsa portuguesa, neste mês de agosto, faz com que uma notícia tenha muito mais impacto no mercado, fazendo com que os movimentos sejam muito mais drásticos”.

Também Filipe Garcia, da IMF — Informação de Mercado Financeiro, afirma que “o mercado está a reagir a dois factos relevantes: por um lado, a introdução de taxas sobre as vendas de papel nos EUA com impacto material no EBITDA, já reconhecido pela empresa, e também o facto de a Navigator prometer recorrer, o que indicia o início de um processo com desfecho incerto”.

A taxa aplicada pelos Estados Unidos sobre as vendas da Navigator (37% sobre as vendas entre agosto de 2015 e fevereiro de 2017) tem um impacto de milhões de euros nas contas da empresa portuguesa. Segundo as contas da Navigator, a nova taxa ‘antidumping’ tem um impacto de cerca de 66 milhões de euros no EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e de 45 milhões de euros nos lucros líquidos deste ano. A empresa anunciou que vai recorrer da decisão.

No primeiro semestre do ano, a Navigator registou um crescimento de 24% nos lucros, atingindo os 119,4 milhões de euros. O EBITDA da empresa cresceu 14% para 226 milhões de euros e o volume de negócios totalizou 817 milhões de euros, 0,5% mais do que mesmo semestre do ano passado.

Atualizado às 18.30 com o fecho da cotação da Navigator.