Myles Sanko

18h30, palco Vodafone

Nasceu no Gana, mas cresceu na Europa. Em África, é visto como branco, na Europa como negro. Como Myles Sanko já contou em variadas entrevistas, não lhe foi fácil perceber quem era, mas a música ajudou-o a encontrar um lugar. Primeiro veio o hip hop, depois o funk improvisado em concertos sem alinhamento pré-definido nem canções escritas, mas hoje são as paixões mais recentes, o jazz e a soul, que o inspiram a fazer a música. Depois de quatro concertos em Portugal, no início do ano (no Porto e em Lisboa, Águeda e Braga), é altura de Myles Sanko apresentar-se num festival. Pode esperar-se uma voz de soul clássica, que Gregory Porter quis ter na abertura dos seus concertos em digressão recente, a cantar temas de protesto social (poucos) e de amor (muitos) para dar esperança a tempos sombrios. E logo em Paredes de Coura, onde não se se nega amor a ninguém.

Curtis Harding

19h40, palco Vodafone

Se de Myles Sanko podemos esperar canções soul de recorte clássico, de Curtis Harding podemos esperar um pequeno diabo que mistura funk, rock, rhythm and blues e soul como se fosse a coisa mais natural do mundo. O seu segundo álbum a solo, Face Your Fear, editado no ano passado, não cumpriu totalmente as expectativas elevadas por uma estreia promissora (Soul Power, lançado em 2014). Ao vivo, porém, Curtis Harding e a sua banda são uma máquina bem oleada, intensa, que não tem por hábito defraudar ninguém. E aquela voz, ao vivo, caramba.

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Silva

20h30, palco Vodafone FM

A música brasileira não teve muito espaço no cartaz do Vodafone Paredes de Coura este ano, mas Silva promete compensar. Nascido em Vitória, Espírito Santo, o cantor e músico de 30 anos é um dos artistas mais prestigiados do circuito musical do seu país. Com um álbum acabado de editar (Brasileiro, lançado em maio), Silva vai adocicar o início de noite com indie pop e samba. Música para ouvir de calções e t-shirt, ainda de chinelo no pé. Está tudo bem, fica tudo bem.

Big Thief

21h20, palco Vodafone

Uma voz doce, uma banda com as lições do bom gosto todas estudadas, uma escrita adulta sobre problemas de gente adulta, a melhor banda sonora para bons filmes indie que se arranjará por aí. Eis as definições possíveis dos norte-americanos Big Thief. Gente de Brooklyn, Nova Iorque, que gosta da natureza, que conhece quaisquer segredos que existam para fazer uma boa canção, que fez um disco chamado Capacity (o segundo da banda, editado no ano passado) cujo arranque é especialmente assombroso e que entrou em numerosas listas de melhores discos do ano dos media. O melhor é que ao vivo são igualmente bons, como se vê, por exemplo, nesta atuação nos estúdios da rádio KEPX.

Dead Combo com Mark Lanegan

23h15, palco Vodafone

A vida tem injustiças destas, terríveis. Depois de uma carreira nacional de sucesso e de alguma atenção internacional, os Dead Combo estavam prontos para lançar-se aos tubarões internacionais (leia-se, público e promotores de concertos). Assinaram com uma das maiores editoras nacionais, convidaram Mark Lanegan para cantar um poema inglês de Fernando Pessoa no disco mais recente (o único tema cantado, já que a música do duo é instrumental), convidaram músicos de nomeada para participar nas gravações e estavam prontos a fazer-se a muitas estradas. No meio disto, Pedro Gonçalves, uma das metades de Dead Combo (a outra é Tó Trips), já se viu impedido de dar alguns concertos devido a um grave problema de saúde que o afeta e que já é público. A banda decidiu manter a digressão, “ainda que Pedro possa não conseguir participar” em alguns concertos. Ainda não se sabe se em Paredes de Coura vai ser substituído por António Quintino (que já integrava a digressão, com outras funções) ou não, mas seria uma pena se não pudesse estar presente, neste concerto em horário nobre, em dia de enchente e com Mark Lanegan como convidado. Mas isto é apenas música, importante seria que o músico recuperasse a boa saúde. Oxalá.

Arcade Fire

1h, palco Vodafone

Houvesse já Instagram e talvez aquela noite de 17 de agosto de 2005 se tivesse tornado mítica em menos tempo. Mas quem lá estava percebeu que essa não foi a edição dos Foo Fighters, The Roots, Queens of the Stone Age, Pixies ou The National. Aconteceu eles também lá estarem, também atuarem, quase fortuitamente, porque a edição foi mesmo dos Arcade Fire e, bom, de Nick Cave e os seus Bad Seeds, porque Nick Cave e os Bad Seeds são Nick Cave e os Bad Seeds. Mas foi dos Arcade Fire, claro, num concerto onde houve gente a atirar-se para o chão e a fazer stage diving. Por “gente”, entenda-se membros da banda. Entretanto passaram 13 anos, alguns dos presentes ganharam quilos e perderam cabelo, os Arcade Fire fizeram mais quatro discos depois de The Funeral, dos quais só o último foi recebido com ceticismo, e deram vários concertos em Portugal desde a estreia. Já não são uma possível revelação como eram em 2005, são cabeças de cartaz e dos bons. Afetivamente não havia escolha melhor para dar algum brilho a um cartaz mais discreto do que o de outros anos. Ainda mais depois do cancelamento da islandesa Bjork. Não interessa que quase toda a gente que ali esteja já os tenha visto em concerto, que conheça os discos de fio a pavio. É Arcade Fire e Paredes de Coura, fórmula mágica, de sucesso garantido. Resta saber quão grande pode ser.