A Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E, na sigla em inglês) diz ter provas que alguns fabricantes de automóveis têm agido em conluio, visando enganar o novo sistema de medições de consumos e emissões, denominado Worldwide Harmonised Light Vehicle Test Procedure (WLTP). Isto no ano em que o novo sistema, que substituiu o desactualizado e muito optimista New European Driving Cycle (NEDC), entra em funções.

De acordo com os responsáveis da T&E, os documentos que esta organização não governamental conseguiu reunir provam que os construtores continuam a recorrer a truques, desta vez não para reduzir artificialmente os valores (consumos e emissões), como aconteceu no Dieselgate, mas sim para aumentá-los.

Afirma o director executivo da T&E, William Todts, que “os fabricantes estão a realizar as medições dos seus veículos desligando sistemas como o Start&Stop e alterando o regime a que se devem realizar as passagens de caixa, entre outras habilidades, para atingir consumos mais elevados”. Explica Todts que, desta forma, “a média de consumos determinada, e logo de emissões de CO2, será inflacionada face à realidade”. Ora, “como são os consumos determinados até 2021 que vão servir de base para o cálculo dos limites a impor para 2025 e 2030, ao partirem de uma base artificialmente mais elevada, os construtores acabam por ter de fazer um esforço inferior para cumprir os limites legais para 2025 e 2030”, esclarece o responsável pela T&E, acrescentando que, para além disso, as marcas conseguem continuar a vender modelos com motor a gasolina e a gasóleo.

William Todts não tem dívidas em afirmar que “depois do Dieselgate, os fabricantes prometeram mudar de atitude e garantiram que os novos testes mais rigorosos seriam a solução”, referindo-se à troca do NEDC pelo WLTP. É agora óbvio, para a T&E, que o que o que as marcas fizeram foi agir enquanto cartel e tentar diminuir o esforço (e o investimento) para cumprir as emissões no pós 2025 e 2030”. Isto porque as emissões de CO2 devem ser 15% inferiores em 2025 e 30% em 2030, tendo sempre por base os valores de 2021. Desta forma, tornar-se-ia mais fácil continuar a comercializar veículos com motor a combustão, em vez de investir na comercialização de uma maior percentagem de veículos eléctricos, sejam eles a bateria ou a hidrogénio.

Todts está convencido que, “para este estratagema ser eficaz, tinha de existir um acordo tipo cartel e contar com a colaboração de todos os construtores, pelo que só com sanções será possível terminar com esta tendência endémica para enganar e mentir na indústria automóvel”.

A União Europeia e as autoridades americanas já estão a investigar esta denúncia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR