Pipocas, balões, insufláveis e pinturas faciais. Não, este artigo não é sobre o Festival do Panda. É sobre a “Festa das Famílias” do CDS, o conceito que o partido criou este ano para fazer a rentrée. No parque urbano de Ermesinde, Assunção Cristas passeou pelo recinto, cumprimentou militantes e jogou matraquilhos até ao empate: “É melhor assim, não quero perder”. E, de facto, não faltou ambição no discurso que fez ao final da tarde. Com a já habitual rasteira ao PSD (“Somos a única alternativa a António Costa e às suas esquerdas”), Cristas subiu a parada e pediu para ser “a primeira escolha” dos eleitores que não se revêem no atual governo.

A estratégia foi repartida entre ataques cerrados ao governo e muitas indiretas ao PSD, que nunca nomeou. Também não precisava: “Quem quer António Costa, quem consente António Costa, tem muitas opções”, disse, colando o PSD à “geringonça”.  “Quem quer uma verdadeira alternativa, tem um único voto seguro: somos nós.”

O CDS confirma assim o distanciamento face ao antigo parceiro de coligação no arranque de um ano político que tem três eleições à vista. “Temos estado sempre na linha da frente na apresentação de propostas concretas”, disse Cristas, que sublinhou a forma “acutilante” de fazer oposição no CDS, o único partido, garante que “não viabilizará um Governo de António Costa!” É uma marcação de território à direita para depois subir a parada: “Tudo faremos para ser a primeira escolha!”

Se não falta ambição ao CDS, (“Ninguém nos pára!”), também não faltaram as críticas ao executivo “pelo garrote das cativações que são a receita cega do desgoverno socialista”. Cristas acusou Costa de empurrar “os problemas com a barriga” e avisou que “a fatura há-de chegar, como já aconteceu”, numa referência à governação de José Sócrates.

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Sobre as notícias que têm marcado a atualidade nos últimos dias, a líder do CDS voltou a defender a recondução de Joana Marques Vidal, como procuradora-geral da República, um dossier sensível para o governo, que tem de tomar a decisão já no próximo mês. “No curto prazo, continuaremos a pugnar pela recondução da atual procuradora-geral de República, que nos dá garantias de isenção e de independência“, disse Cristas, confirmando a posição que o CDS assume desde o início do ano.

Assunção Cristas desafia Governo a assumir politicamente intenção de não reconduzir PGR

No discurso de final da tarde no Parque Urbano de Ermesinde, Cristas enumerou as prioridades do partido que saíram do último congresso (demografia, saúde, território e economia digital), e insistiu nas propostas que o partido tem vindo a defender e nalgumas novidades já antecipadas pelo Observador. Sendo esta a “festa das famílias”, não surpreende que a tónica tenha sido a natalidade. Pediu “uma cobertura total de creches contratualizando, nomeadamente, com o setor privado”e defendeu “um passe familiar para os transportes coletivos”. Na área da fiscalidade, exigiu a descida do IRS em todos os escalões “de forma bem pensada e progressiva” e pediu o regresso do quociente familiar. Para o interior, insiste nas tabelas de IRS reduzidas a metade, para “promover a natalidade e a ajudar à coesão territorial”, promete voltar à carga com o fim do imposto sobre combustíveis e com a descida do IRC.

“A alternativa somos nós”. CDS aposta as fichas todas na demarcação de Costa… e do PSD

Com o slogan “A alternativa somos nós”, a marcar esta rentrée do CDS, Cristas lançou ainda algumas novidades, como o alargamento da ADSE a todos os contribuintes: “Queremos garantir que há saúde de primeira, igual para todos no nosso país.”

O discurso da líder do CDS foi antecedido pela intervenção de Nuno Melo, o candidato do partido às próximas europeias, a quem coube fazer os ataques mais diretos. Sobre o PSD foi mais claro que Cristas: “Nós não criticamos o Dr. António Costa numa semana e fazemos acordos com o Dr. António Costa na outra”.

Melo elegeu ainda outro alvo no discurso, o Bloco de Esquerda. Criticando as palavras da eurodeputada Marisa Matias na rentrée do Bloco, sobre Mário Centeno e o Eurogrupo, o também eurodeputado atirou: “Neste país, Mário Centeno só é ministro das Finanças – com o Eurogrupo dentro ou fora de si – porque o Bloco de Esquerda quis.”

Nuno Melo fez ainda vários ataques por causa do escândalo Ricardo Robles, numa estratégia que o partido vai seguir daqui para a frente, aproveitando a fragilidade que o caso gerou no Bloco.