Os automóveis eléctricos têm várias características a seu favor, no sentido de simplificar a mecânica, em custo e em peso. Não só o motor movido a electricidade é mais compacto, simples e leve do que os seus concorrentes a gasolina ou diesel, como a caixa de velocidades não é necessária. No seu lugar, surge apenas um desmultiplicador – na prática, um conjunto de duas engrenagens pouco volumoso, leve e barato.

O objectivo das engrenagens é reduzir a rotação do veio do motor eléctrico, que em condições normais ronda as 20.000 rotações, para a rotação máxima a que as rodas têm de rodar, para que o veículo atinja a sua velocidade máxima. Porém, à medida que a potência aumenta ou que se pretenda que o consumo diminua, as caixas de velocidades dos eléctricos deverão começar a aparecer, não necessariamente com seis, sete ou oito velocidades, mas sim com duas ou três. Assim, os modelos a bateria que conseguem velocidades mais elevadas, acima dos 300 ou 400 km/h, podem continuar a ter torque a baixo regime, no momento do arranque, para depois continuar a poder subir de regime e, com ele, incrementar a velocidade.

Para servir esta restrita classe de veículos, os especialistas austríacos em motores e baterias Kreisel Electric desenvolveram uma caixa automática de duas velocidades. Segundo Markus Kreisel, um dos três irmãos que fundou a empresa, “o objectivo foi desenvolver uma caixa ultraleve e compacta para servir os superdesportivos”. O modelo em que os Kreisel estavam a pensar especificamente era a versão eléctrica do Porsche 910, também conhecido como Carrera 10, uma evolução do 906 mas com jantes 13” para conseguir montar os pneus dos F1 da altura.

O carro originalmente surgiu em 1966 e foi produzido durante dois anos, podendo estar equipado com um motor 2.0 de seis cilindros e 200 cv ou, em alternativa, um 2.2 de oito cilindros e 270 cv. Mas a versão eléctrica deste clássico, concebida pela Kreisel, tem montado um motor de 490 cv, alimentado por uma bateria de 53 kWh de capacidade, que não lhe deve dar muita autonomia, especialmente em ritmo de competição. A vantagem é que não aumenta muito o peso, com o 910e (assim o denominam os austríacos) a pesar apenas 1.100 kg.

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O 910e anuncia 300 km/h e 0-100 km/h em 2,5 segundos, com a caixa automática a ajudar à rapidez da resposta do modelo em aceleração, tanto em baixa como em alta velocidade.

A caixa, que inclui igualmente o diferencial equipado com autoblocante, possui uma 1ª com a desmultiplicação de 8,16:1, completada por uma segunda a 4,67:1. No Porsche 910e da Kreisel, a caixa de duas velocidades (em vez de apenas uma) está acoplada a dois motores, que no conjunto desenvolvem os já mencionados 490 cv. E segundo os manos Kreisel, a caixa pode suportar até 805 cv e 900 Nm de binário, não sendo complicado produzir uma versão mais reforçada para potências superiores. Segundo a empresa, a conversão de gasolina em eléctrico de um Carrera 10 custa à volta de 1 milhão de euros, sendo que o valor da caixa, que os três irmãos pretendem disponibilizar no mercado, representa uma quantidade ínfima desse total.