Quase toda a água que chega às habitações dos portugueses para consumo próprio é controlada e de boa qualidade, divulgou a associação ambientalista ZERO, esta segunda-feira, dia 1 de outubro, data em que se assinala o Dia Nacional da Água. A ZERO aproveitou esta comemoração para divulgar um ponto de situação relativamente à qualidade da água desde a torneira, aos aquíferos, passando pelos rios e praias.

Segundo a associação, que cita dados da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) referentes ao ano passado, “99 % da água que chega às torneiras dos portugueses é controlada e de boa qualidade”, é água segura e, por isso, está “no verde“, de acordo com o semáforo usado pela Associação para classificar o estado da água.

A ZERO afirma que esta é “uma das grandes conquistas civilizacionais da qual a sociedade portuguesa se pode orgulhar”, a qual se traduz numa mudança radical comparativamente com a realidade observada há 15 anos, quando aquele indicador se situava apenas nos 50%. No entanto, a a associação ambientalista sublinha que “subsistem problemas ao nível da eficiência, já que a percentagem de água não faturada — utilização ilegal, as perdas reais por roturas ou por mau uso, bem como as ofertas deste recurso natural a entidades ou a cidadãos sem qualquer registo ou transparência — continua a situar-se teimosamente nos 30% do total captado, estimando-se as perdas reais nos 180 milhões de metros cúbicos anuais”.

Relativamente às zonas balneares, a associação refere que, “a meio da época balnear deste ano, cerca de 6% das praias já tinham tido banho desaconselhado ou proibido”, entre um total de 608 zonas balneares (480 costeiras ou de transição e 128 interiores). Na informação divulgada esta segunda-feira, é também apontado que houve uma melhoria em termos de qualidade da água, “com mais 36 praias de qualidade excelente, atingindo-se 529 zonas balneares excelentes, 46 boas, oito aceitáveis e cinco más, sendo as restantes novas ou ainda não classificadas”.

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No que diz respeito às águas dos rios e albufeiras, muitas foram classificadas com “sinal amarelo intermitente”, com destaque para a qualidade da água do rio Tejo, onde “houve uma inequívoca degradação da qualidade”. Francisco Ferreira, presidente da associação, diz que a situação do rio Tejo é “muito preocupante”, explicando que a poluição que chega de Espanha faz com que não seja possível garantir uma boa quantidade de oxigénio para dar qualidade à água.

Contudo, a ZERO aponta para dados pouco atualizados — desde 2013 que não são renovados –, uma vez que existem “deficiências que persistem ao nível da monitorização da qualidade das águas superficiais”.

A associação considera que, “apesar dos avanços registados nos últimos anos, os progressos no tratamento das águas residuais urbanas não foram tão significativos quanto seria desejável”, avaliando, assim, a situação com o sinal vermelho, dando destaque ao estado das águas subterrâneas.

“Um indicador que evidencia esta situação é que, no ano de 2016, de acordo com dados da ERSAR, apenas 58% da água que foi recolhida foi efetivamente tratada em sistemas de tratamento, muito longe dos números que Ministério do Ambiente apresenta publicamente, na ordem dos 83%, chegando a confundir-se acessibilidade física ao serviço com tratamento”, é apontado.

A ZERO denuncia ainda que 38% das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) “estão a funcionar de forma ilegal”, segundo dados de 2016.

Numa análise feita pela associação, comparando dados de 2016 e 2017, foi possível constatar que “38 sistemas aquíferos [47% do total dos aquíferos analisados] apresentam pontos de monitorização onde se detetou a presença de azoto amoniacal [poluente relacionado com explorações pecuárias], e 32 apresentam poluição por nitratos [utilização excessiva de fertilizantes nas atividades agrícolas]”.

“Em relação a 2016, a situação do azoto amoniacal manteve-se inalterada em 36 aquíferos, piorou em 12 e melhorou apenas em sete, enquanto ao nível dos nitratos não se alterou em 28 sistemas, piorou em nove e melhorou em cinco”, é destacado, sendo que “muitos dos pontos de água poluídos coincidem com pontos de abastecimento público”.