A União Europeia (UE) estará disponível para estender o prazo de negociações para a saída do Reino Unido da UE até ao final de 2021. A informação é avançada pela agência de notícias France Presse (AFO), que cita “dois diplomatas europeus”. Estes terão revelado à agência que o negociador mandato pela União Europeia, Michel Barnier, acredita que a extensão de prazo (atualmente fixado em 2020) daria “mais tempo” às duas partes para tentarem chegar a acordos comerciais, evitando um plano de saída personalizado para a Irlanda do Norte “a que Londres se opõe fortemente”.

Os dois diplomatas ouvidos pela France Press terão afirmado que a proposta foi inclusivamente apresentada por Michel Barnier esta quarta-feira, numa reunião de ministros europeus que decorreu no Luxemburgo. A apresentação da proposta teria como fim “colocar pressão em Threresa May para apresentar propostas próprias” sobre as condições de saída do país.

A disponibilidade da UE ainda não teve resposta oficial, mas a editora de política da estação britânica BBC afirmou no Twitter que o governo britânico já terá descartado interesse nessa possibilidade. O ministro dos Negócios Estrangeiros irlandês Simon Coveney, por sua vez, admitiu que a extensão de prazo era algo que estava a ser discutido “porque simplesmente não estamos onde temos de estar” no que toca ao andamento das negociações.

Neste momento, os chefes de Estado e de Governo da UE estão reunidos em Bruxelas, numa cimeira que começou esta quarta-feira, durará dois dias e foi descrita pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, como “o momento da verdade” do Brexit. Nas últimas horas, o encontro já tem sido visto como uma oportunidade para os líderes europeus intensificarem preparativos para uma mais do que provável ausência acordo entre Reino Unido e União Europeia. Portugal está representado na cimeira pela primeiro-ministro, António Costa.

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“Vou perguntar à primeira-ministra May se tem propostas concretas sobre como romper o impasse”, tinha afirmado Donald Tusk, em antevisão à cimeira, citado pela agência de notícias France-Press. O presidente do Conselho Europeu já tinha avisado que não faria sentido marcar nova cimeira em novembro, como inicialmente previsto, para assinar os termos do Brexit, não havendo acordo. Esse encontro poderia ser adiado para dezembro, ou aproveitado, ainda em novembro, para preparar os líderes europeus e britânicos para um cenário de rutura de negociações. Esse é, nesta fase, o pior cenário esperado pelas duas partes.

O ministro polaco que detém a pasta dos Assuntos Europeus, Konrad Syzmanski, manifestou o seu pessimismo quanto à evolução das negociações, referindo: “Penso que estamos bastante perto de um cenário de não acordo”. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo, Jean Asselborn, manifestou interesse na extensão do prazo para as negociações e saída do Reino Unido da UE: “O que se pode estender sem grande problema é a data de 1 de janeiro de 2020 fixada para o período de transição. Se for somado um ano a essa data, não seria prejudicial à Europa e espero que também não fosse prejudicial ao Reino Unido”.

Theresa May está debaixo de fogo, mas o Brexit (ainda) não morreu

Theresa May está numa posição difícil, com críticos internos no seu partido e no partido trabalhista. Esta quarta-feira, figuras de peso como Tony Blair, antigo primeiro-ministro trabalhista, o político e antigo primeiro-ministro adjunto Nick Clegg e o empresário e veterano político dos conservadores Michael Heseltine, de 85 anos, publicaram um artigo conjunto pedindo aos líderes europeus que atrasem as negociações do Brexit, permitindo um segundo referendo sobre a saída do país.

Um ponto fulcral para o impasse é a ausência de entendimento entre Reino Unido e UE sobre as relações da última organização com Inglaterra e Irlanda do Norte. Quer o Reino Unido quer a União Europeia defendem que não exista uma fronteira “dura” entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte (parte integrante do Reino Unido), mas as divergências surgem logo a seguir e, até agora, ainda não foram ultrapassadas: a União Europeia pretende que o ‘backstop’ (uma espécie de rede de segurança, que permite a manutenção das atuais condições de relacionamento dentro da UE) se confine à Irlanda do Norte, enquanto o governo britânico considera que abrir exceções para a Irlanda do Norte deixando o resto do Reino Unido de fora dessas condições é colocar em causa a coesão do território.