Mais do que um jogo entre Ajax e Benfica, para a fase de grupos da Liga dos Campeões, este era um jogo entre dois antigos campeões da Europa. Duas equipas com um largo e extenso currículo nas competições europeias, dois recordistas de títulos nacionais nos próprios países e dois clubes com vontade de regressar aos dias de ouro na Europa. À entrada para o jogo desta terça-feira, Ajax e Benfica já sabiam que o Bayern Munique tinha vencido o AEK na Grécia e que era preciso ganhar em Amesterdão para não deixar escapar os alemães na liderança do Grupo E.

Rui Vitória voltou a apostar em Gedson Fernandes, deixando Gabriel no banco, mas não pôde contar com Rúben Dias – o central foi expulso frente ao AEK e não estava disponível para a deslocação à Holanda. Para o substituir, Conti. Jonas, que regressou às convocatórias e aos golos frente ao Sertanense, na Taça de Portugal, viu o jogo a partir do banco de suplentes. Do outro lado não havia grandes surpresas: uma linha da frente certeira e perigosa composta por Ziyech, Dolberg e Tadic.

O Benfica entrou com uma intensidade superior à do Ajax, com uma pressão homem a homem muito elevada e André Almeida e Grimaldo a fazerem os corredores laterais a alta velocidade, muito apoiados por Salvio e Rafa, que podiam confiar na segurança de Gedson e Fejsa na retaguarda para poderem procurar terrenos mais interiores. O primeiro remate – e o primeiro aviso de que o Benfica não tinha viajado até Amesterdão a pensar no empate – chegou logo aos dois minutos, quando Rafa completou uma jogada individual com um remate forte e rasteiro que só não entrou porque o camaronês André Onana estava atento. Três minutos depois, foi a vez de Seferovic: mais uma vez Rafa em jogada individual, cruzamento atrasado e rasteiro e foi o suíço que apareceu em boa posição para rematar. A bola, forte e certeira, só não entrou porque o capitão holandês De Ligt estava em cima da linha de golo a manter o nulo no placard.

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Ficha de jogo

Ajax-Benfica, 1-0

3.ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões
Johan Cruyff Arena, em Amesterdão, Holanda
Árbitro: Ruddy Buquet (França)
Ajax: Onana, Mazraoui, De Ligt, Blind, Tagliafico, Van de Beek (Neres, 88’), Schöne, De Jong, Ziyech, Dolberg, Tadic
Suplentes não utilizados: Lamprou, Kristensen, Wöber, Huntelaar, Eiting, De Wit
Treinador: Erik ten Hag
Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Conti, Jardel, Grimaldo, Fejsa, Pizzi (Gabriel, 78’), Gedson Fernandes, Salvio, Rafa (Cervi, 89’), Seferovic
Suplentes não utilizados: Svilar, Alfa Semedo, Zivkovic, João Félix, Jonas
Treinador: Rui Vitória
Golos: Mazraoui (90+1’)
Ação disciplinar: Cartão amarelo a Jardel (9’), Mazraoui (22’), Onana (38’), Tagliafico (49’), Conti (63’) e Seferovic (85’)

Com cinco minutos de jogo, o Ajax percebeu que já podia estar a perder por dois golos de diferença e reagiu. Com falta de capacidade para sair com qualidade e perigo, a equipa de Erik ten Hag decidiu colocar gelo na partida e trocar a bola de forma demorada no próprio meio-campo defensivo. A pouco e pouco, os holandeses foram adormecendo os jogadores encarnados – que caíram em ritmo, rendimento e velocidade – e conseguiram chegar à grande área de Vlachodimos. Por volta dos 20 minutos de jogo, já depois de Ziyech e Dolberg terem causado calafrios pelo meio de Jardel e Conti, o Ajax tinha 67% de posse de bola.

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O salto sem grande pára-quedas que o Ajax fez para o ataque – sem que o Benfica tivesse tirado completamente o pé do acelerador – partiu o jogo e deixou espaços que foram sendo aproveitados pelos mais virtuosos de ambos os lados. Rafa teve uma noite inspirada, para compensar um apagado Pizzi, e podia ter marcado em duas ocasiões em que se aventurou em jogadas individuais. Do outro lado, depois de um canto, o lateral Tagliafico rematou quase deitado no chão e foi o argentino Conti que tirou a bola em cima da linha de golo. Até Ruddy Buquet apitar para o descanso, o jogo manteve-se elétrico e com uma intensidade bastante acima da média – mas faltavam golos, e este foi mesmo o único jogo desta terceira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões que foi para o intervalo sem qualquer golo marcado.

A segunda parte seguiu como exemplo os minutos finais da primeira. Sem grande organização ofensiva nem grande tática a que obedecer, Ajax e Benfica apostaram no contra-ataque e nas investidas vertiginosas e surpreendentes com a aparente intenção de desgastar ou apanhar desprevenido o adversário. Os holandeses conseguiram sempre manter um subtil ascendente no jogo e Seferovic fez uns segundos 45 minutos difíceis, em que na grande maioria das ocasiões foi solicitado através de bolas bombeadas para o ataque – andou sempre sozinho, a tentar ganhar duelos aéreos entre De Ligt e Blind e a pedir ligação entre o meio-campo e o ataque. Essa ligação ficou em Lisboa, onde parece também ter ficado a inspiração de Pizzi, que esta terça-feira passou completamente ao lado do jogo.

Este Ajax-Benfica teve uma particularidade interessante e quase inédita: a quase escassez e a forma tardia como foram efetuadas as substituições. As três trocas (duas de Rui Vitória, uma de Erik ten Hag) foram todas feitas depois dos 78 minutos e pouco ou nenhum impacto tiveram na dinâmica no jogo. As oportunidades de golo, apesar da vertigem com que foi jogada a segunda parte, não abundaram, muito graças à pouca clarividência com que uma e outra equipa tentaram chegar a zonas mais avançadas do terreno.

A menos de cinco minutos de final, o desfecho parecia confirmado e Rui Vitória e Erik ten Hag pareciam já conformados com o empate e a distribuição de pontos. Até que Conti – que na primeira parte tirou um golo certo em cima da linha – cometeu o erro que raramente comete e comprometeu. Abordou mal o lance e deixou uma bola perdida para Mazraoui, o lateral marroquino do Ajax que até foi, muito provavelmente, o pior jogador dos holandeses. Mazraoui rematou forte, a bola parecia ir direitinha para as mãos de Vlachodimos, mas ressaltou em Grimaldo e traiu o guarda-redes encarnado. Aos 90+1, o Benfica ficou de cabeça perdida, não teve tempo para reagir e perdeu um jogo em que fez quase tudo para vencer – faltou aliar o engenho à qualidade.

A derrota em Amesterdão deixa o Benfica numa posição frágil no Grupo E da Liga dos Campeões: Bayern Munique e Ajax têm agora sete pontos, enquanto que os encarnados estão no terceiro lugar do grupo, com três. É preciso vencer o Ajax na Luz, já na próxima jornada, e esperar por um bom resultado em Munique, para sonhar com a passagem aos oitavos de final.