A vaga de mau tempo que atinge Itália desde domingo já fez, segundo um balanço do La Repubblica, 12 mortos, levou ao encerramento de escolas e provocou inundações em Veneza, onde o nível da água atingiu valores históricos. Uma grande parte de Itália está em estado de alerta devido à confluência de ventos violentos, chuvas torrenciais e marés vivas.

Segundo as autoridades locais, as últimas vítimas mortais encontradas são um pescador que se terá afogado no Lago Levico e uma mulher que também se afogou na cidade de Dimaro.

O comandante da Proteção Civil italiana, António Borrelli, considerou que do ponto de vista meteorológico esta foi ”uma tempestade perfeita” e sublinhou que algumas mortes foram causadas pela queda de árvores em várias regiões do país.

Em Veneza, a Praça de São Marcos teve mesmo de ser evacuada na segunda-feira depois de a “acqua alta” (“água alta”, em tradução livre) ter atingido um pico de 156 centímetros — um nível para o qual os passadiços de madeira habitualmente dispostos para permitir circular a seco em caso de inundação já não são seguros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na praça de São Marcos, as pessoas tiveram de percorrer as ruas esta segunda-feira, em alguns casos, com as crianças às cavalitas e com parte do corpo submerso. O nível das cheias deixou mais de 70 por cento do centro histórico de Veneza debaixo de água. Apesar de um ligeiro abrandamento durante a tarde, os ferries que fazem o transporte público na cidade tiverem mesmo de ser suspensos.

De acordo com informações transmitidas pelo New York Times, a própria catedral de São Marcos foi danificada pelas inundações.  A água atingiu parte do piso na parte central da basílica e cobria ”várias dúzias de metros quadrados” do pavimento de mármore, que se encontra em frente ao altar da Maddonna Nicopeia, um ícone do século XII, informou o conselho responsável pelo edifício em comunicado.  Perto da entrada da basílica, a água chegou a atingir os 89 cm de altura, durante cerca de 16 horas.

No domingo, a inundação tinha obrigado a cidade a alterar o trajeto da maratona, uma parte da qual acabou na mesma por ser percorrida com os pés na água.

É a sexta vez na história recente da cidade que a “acqua alta” ultrapassa os 150 centímetros: ela atingiu 151 centímetros em 1951, 166 em 1979, 159 em 1986, 156 em 2008 e um recorde de 194 centímetros em novembro de 1966.

Além de Veneza, quase toda a Itália está em alerta: vermelho no norte (Ligúria, Lombardia, Vêneto, Friul-Veneza Júlia, Trentino) e nos Abruzos (centros), laranja em boa parte do resto da península e na Sicília.

Todas as escolas de Vêneto foram encerradas, tal como as de Roma, Génova (noroeste), Messina (Sicília) e de muitas cidades do Piemonte e da Toscânia.

No nordeste, rajadas de vento de até 100 quilómetros por hora nas áreas costeiras e 150 quilómetros por hora na montanha eram esperadas hoje à noite, com um total de precipitação em alguns dias equivalente ao volume de vários meses.

Algumas zonas montanhosas do norte de Vêneto já ultrapassaram os 400 milímetros de chuva acumulada desde sábado, e os serviços meteorológicos preveem mais chuva forte.

“Estamos preocupados, porque a situação é análoga, ou talvez pior, àquela que Vêneto viveu [nas grandes inundações] de 1966 e 2010. Os terrenos já estão saturados de água, os rios têm um caudal elevado e, por causa do siroco (vento quente, muito seco, que sopra do deserto do Saara), o mar não absorve”, comentou Luca Zaia, presidente da região de Vêneto.

No sul, um tornado atravessou a província de Brindisi no domingo, devastando os campos, arrancando pela raiz oliveiras jovens ou centenárias e cobrindo a zona com azeitonas arrancadas pelo vento.