Foi em Paris, em outubro, que encontrámos Uwe Diegel, presidente executivo da Lifeina. O empreendedor francês estava na cidade por ocasião da CES Unveiled Paris, um evento que precede a CES Las Vegas, a maior feira de tecnologia do mundo. O estilo do empreendedor mantém-se o mesmo, o que ajudou a reconhecer rapidamente o vencedor do concurso de startups da Web Summit 2017: cabelo grisalho em pé, blazer, calças de ganga e o acessório mais emblemático, um cachecol encarnado. Contudo, apesar de o visual não ter mudado, a startup Lifeina e o seu mini frigorífico portátil para remédios cresceram bastante.

Tem sido um ano fantástico. Toda a gente me agradece por este produto, mas não podem fazê-lo se não souberem que existe. Por isso é que estes prémios são importantes”, explica Uwe Diegel, presidente executivo da Lifeina.

Startup que venceu concurso da Web Summit “nem sabia que havia um prémio em dinheiro”

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Uwe Diegel foi a Paris foi para participar num evento dedicado a startups. O “pitch perfeito” que utilizou em 2017 fez com que neste evento também fosse premiado com o “prémio inovação da CES”. Este galardão permitiu aquilo para que tem trabalhado desde que criou a LifeinaBox, lançá-la no mercado. Enquanto que, em 2017, não havia data de lançamento para mini caixa frigorífica para guardar remédios, agora há: “A 6 de janeiro lançamos o produto na CES, em Las Vegas”.

O empreendedor assume que a exposição que vai ter no evento é bastante benéfica. Contudo, desde que saiu do Meo Arena (agora Altice Arena), em 2017, a procura pelo produto que criou chamou milhares de pessoas. “Comecei já a fabricar as caixas, principalmente porque já tenho mais de 40 mil pedidos em atraso”. Destes pedidos “10 mil são para pessoas singulares e 30 mil são para a indústria farmacêutica”, revela o empreendedor.

Uwe Diegel na CES Unveiled Paris depois de ter ganho o prémio inovação com a LifeinaBox

Mesmo tendo ganho mais um prémio em Paris, que definiu quando vai ser o lançamento do seu produto, Uwe Diegel partiu da capital francesa para Boston, nos Estados Unidos da América, para participar no Startup Of The Year Award, um evento que também premeia a inovação. A Web Summit em 2018 também está nos planos do empreendedor: “Desta vez, vou apenas como expositor e vou ser juiz num painel das Women in Tech”. Depois de Lisboa, o empreendedor no Ryse, o equivalente da Web Summit em Hong Kong.

O último ano trouxe também algumas adversidades à Lifeina. “Mudei o design desde o ano passado”, conta Uwe. O inventor explicou que “por fora, a aparência ainda é igual”, mas foi preciso mudar componentes: “no próximo ano pode não ser possível levar um portátil num avião porque tem uma bateria de lítio”. Pode parecer estranho, mas para a LifeinaBox isto foi uma grande preocupação. A grande inovação do mini frigorífico para remédios é a duração da bateria — 36 horas — e esta é de lítio. A solução passou por permitir que a bateria agora possa sair e voltar a ser colocada em modelos mais pequenos, que poderão andar nos aviões. Há vários tamanhos para “12, 24 e 36 horas”. Assim, quando ficar disponível, o produto vai poder adaptar-se a todos os cenários de mobilidade, como prometido.

O empreendedor continua a olhar para o futuro e já está a avançar com mais um dos produtos que afirmou querer criar em 2017. “Como desenvolvi uma tecnologia para produzir as caixas que guardam frio, estamos já a trabalhar no LifeinaHeart para transplante de órgãos”, revela. Todo este trabalho de Uwe Diegel fez com que se tenha juntado, esta terça-feira, como executivo à HealthBank, onde também vai trabalhar numa plataforma de gestão de dados de saúde, à margem do trabalho que faz na startup.

O mini frigorífico para guardar remédios porque o irmão tem diabetes

Uwe Diegel era pianista, mas aos 26 anos começou a dedicar-se às tecnologias ligadas à saúde. Razão? Um acidente no braço. Depois de ter trabalhado em grandes empresas na indústria, foi num hotel, numa viagem com o irmão, que teve a ideia para a LifeinaBox. Olaf é diabético e, por um erro a guardarem a insulina, congelaram-na. Não fosse uma farmácia estar aberta e o resultado podia ter sido pior. Devido à experiência que tinha na indústria, surgiu a ideia de criar uma solução para Olaf poder viajar sem este tipo de constrangimentos.

Diegel, em 2017, depois de ter ganho o prémio de melhor Pitch. Na mão esquerda, segura a mini caixa azul frigorífica com que quer facilitar a vida de quem precisa de guardar remédios no frio

“Cerca de 5 a 7% da população mundial pode precisar de medicação que tem de estar no frigorífico”. Como conta Uwe, “pessoas com Crohn, esclerose múltipla, ou diabetes, podem sentir que têm a vida definida por essas doenças”. A ideia materializou-se na LifeinaBox, uma pequena caixa frigorífica com bateria até 36 horas que pode guardar os remédios necessários. A caixa liga-se a uma aplicação e até diz a que horas é preciso tomar os remédios, além de dar informações quanto à bateria e temperatura. A solução permite facilitar a mobilidade para quem sofre com estas doenças e também pensa na privacidade: “a caixa permite que não se tenha de guardar os remédios no frigorífico do trabalho”.

O concurso do Pitch da Web Summit começou nos moldes atuais em 2014. Depois das candidaturas, são escolhidas 200 startups para chegarem ao palco final. Quem decide quem lá chega é o júri, composto por investidores internacionais, numa apresentação moderada pelo próprio Paddy Cosgrave, o organizador do evento. Os empreendedores sobem a palco para venderem o seu produto num curto espaço de tempo (atualmente, são quatro minutos). Em suma, têm de fazer um “pitch perfeito”. Desde 2014 os vencedores deste concurso foram a Import.io, a portuguesa Codacy (ainda quando Web Summit estava em Dublin), a Bizimply, e a Kubo-Robot, além da Lifeina.