O futuro ministro da Justiça brasileiro Sérgio Moro voltou a explicar esta segunda-feira o que o levou a aceitar o convite do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, para assumir a pasta ministerial: “Como gostamos de futebol, temos no Brasil uma expressão segundo a qual alguém diz estar cansado de levar bola nas costas. O meu trabalho no Judiciário era relevante, mas tudo aquilo poderia perder-se se não impulsionasse reformas maiores. Não poderia fazer isso como juiz”.

As declarações de Sérgio Moro foram proferidas em Madrid, num encontro promovido pela Fundação Internacional para a Liberdade, que tem Mario Vargas Llosa como presidente. O escritor peruano e vencedor do prémio Nobel da literatura esteve presente, apresentando Moro como um “juiz desconhecido que, com grande coragem e conhecimento das leis brasileiras, iniciou uma campanha eficiente de combate à corrupção apoiada pela população”. As declarações são citadas pelo jornal Folha de São Paulo.

O antigo juiz, que ganhou notoriedade internacional pelo modo como conduziu o processo da Operação Lava Jato (ganhando o cognome de “superjuiz”), recordou ainda a sua atuação na condução deste mega-processo judicial, que resultou em várias dezenas de condenações, mais de uma dezena das quais de intervenientes políticos:

Durante estes quatro anos perguntei-me se não tinha ido longe demais na aplicação da lei, se o sistema político não iria contra-atacar. Esse caso [Lava Jato] ia chegar ao fim e era preciso que gerasse mudanças institucionais. Senti-me tentado pela possibilidade de fazer algo mais significativo, não por ser uma posição de poder”, referiu.

Também no encontro, que tinha prevista a presença do braço-direito de Bolsonaro para a economia, Paulo Guedes, que não pôde comparecer por motivos de saúde, Sérgio Moro defendeu o novo presidente do Brasil: “Não vislumbro no presidente traços de autoritarismo. O próprio afirmou reiteradamente o seu compromisso com a democracia e com o Estado de direito. Era o principal opositor [Fernando Haddad, candidato do PT] que, em bom rigor, tinha propostas de controlo social da imprensa e do poder judicial”.

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Assumindo que Bolsonaro já proferiu “declarações infelizes” no passado, Sérgio Moro afirmou-se convicto de que essas posições não se traduzirão futuramente em políticas de discriminação, repressão ou exclusão social: “Há intenção de endurecer o combate contra a grande corrupção, o crime organizado e o crime violento”.

Sérgio Moro, o juiz que mandou prender Lula, virou ministro de um rival político. E agora?

Sérgio Moro tinha dado há cerca de um mês a sua primeira grande conferência de imprensa coletiva, desde que anunciou ter aceitado o convite de Bolsonaro para integrar o novo governo. Poucos dias depois, Sérgio Moro deu uma entrevista à TV Globo onde defendeu a flexibilização da posse de armas.