Se as eleições legislativas em Espanha fossem hoje o Vox, da direita nacionalista, conseguia eleger 25 deputados. O resultado foi calculado pela empresa de sondagens SocioMétrica através de um estudo, citado pelo El Español, que cruzou os resultados das eleições autonómicas de domingo na Andaluzia com a distribuição de votos registada nas eleições legislativas de 2016 — nas quais o partido de Santiago Abascal não foi além dos 0,2%. Basicamente projetou-se a nível nacional um crescimento proporcional ao verificado na Andaluzia, fazendo-se idêntico exercício com os outros partidos.

Esta entrada fulgurante do Vox mudaria a correlação de forças à direita mas que não quebraria a hegemonia dos partidos tradicionais nem mudaria o equilíbrio direita/esquerda+nacionalistas. O PSOE seria agora o partido mais votado (em 2016 foi o PP) e perderia apenas um deputado: passava de 107 para 106 assentos. O partido que mais perderia relativamente às últimas eleições seria o PP, que passaria dos 137 deputados para os 81, ficando, ainda assim, em segundo lugar. Neste cenário hipotético, o Podemos deixaria de ser a terceira força política — passava 71 deputados para 46 –, sendo ultrapassado pelo Ciudadanos, que duplicaria os números atuais: de 32 passava para 64 lugares parlamentares.

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Estes resultados permitiriam que Pedro Sánchez voltasse a formar governo com apoios semelhantes àqueles que reuniu para chegar à Moncloa em junho deste ano, depois de moção de censura apresentada contra o executivo de Mariano Rajoy ter sido aprovada pelas forças de esquerda e independentistas. Estes partidos continuariam a reunir à volta de 180 deputados num Congresso de 350 eleitos. Em contrapartida, o conjunto PP, Ciudadanos e Vox somaria 170 deputados, não atingindo por pouco o número mágico da maioria absoluta em Espanha: 176.

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Entre outras medidas, o Vox propõe a construção de muros nas cidades de Ceuta e Melilla (em território de Marrocos, onde já existem de resto fortes vedações), o fim da legalização do casamento homossexual e do aborto, a revogação da lei de violência de género, a ilegalização dos partidos independentistas e a supressão das comunidades autónomas.

Os votos do Vox, segundo o mesmo estudo, seriam arrebatados tanto à direita como à esquerda. 80% seriam roubados ao PP e ao Ciudadanos e os restantes 20% seriam conquistados ao eleitorado do PSOE e do Podemos. O partido teria bons resultados sobretudo em três grandes círculos eleitorais: Madrid, onde elegeria oito deputados, Valência, com quatro assentos, e Andaluzia, com outros quatro.

No passado domingo, uma força política da direita radical entrou pela primeira vez num parlamento espanhol desde o fim da ditadura franquista. Nas eleições autonómicas da Andaluzia, o Vox foi a grande surpresa da noite, conquistando 12 lugares em 104. Mais do que uma boa estreia, o partido pode vir a ser determinante na formação do executivo autonómico – isto porque, em conjunto com o PP e com o Ciudadanos, pode fazer parte de uma solução de governo.

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