Há uma grande diferença entre os pilotos das motos e os de Fórmula 1, ou de qualquer tipo de competição que envolva “enlatados”, como gostam de lhes chamar os pilotos das duas rodas. Na F1, quando alguma coisa corre muito mal e um despiste acontece, o carro bate nos rails e o piloto apanha um enorme “susto”. Mas, na maioria das vezes, sai sem uma beliscadura ou até mesmo uma pequena marca. No limite, o máximo com que um piloto dos carros tem de lidar é uma distensão muscular ao nível do pescoço.

Com os pilotos das motos não é assim. Ao mínimo percalço, caiem a alta velocidade e ‘esfregam-se’ pelo chão como se tivessem urticária. Quando finalmente a fricção no asfalto – ou na areia mole das escapatórias – os pára, estão todos raspados (mesmo através dos fatos de cabedal cheios de protecções) e o mais provável é que tenham de juntar mais algum titânio ao reforço que já possuem no esqueleto.

Na F1, o pináculo do desporto automóvel, Lewis Hamilton é rei e senhor. Chegou à disciplina quase de ‘fraldas’, mas ‘aviou’ o espanhol Fernando Alonso – experiente e campeão do mundo – logo no ano de estreia. Desde então, já lá vão cinco ceptros.

Depois de ter conquistado o seu quinto título de campeão mundial e logo numa temporada em que venceu por 11 vezes, o que o coloca na 2ª posição entre os pilotos com mais vitórias, atrás de Schumacher, mas à frente do alemão com 31,9% de eficácia, contra 29,5 de Schumacher, Lewis decidiu ‘atraiçoar’ a F1 e experimentar as duas rodas. Hamilton há muito que é um fã de motos e a associação entre a Mercedes AMG e a MV Agusta levou-o a possuir alguns modelos da reputada marca italiana, a começar pela F4 LH44, que a Agusta produz em sua homenagem e que Hamilton, sempre que pode, se diverte a fazer burnouts, entre outras habilidades.

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Mas se Hamilton gosta de motos desportivas e se diverte conduzindo-as depressa, desta vez decidiu saborear as sensações de um piloto de motos, o que o levou ao circuito espanhol de Jerez de la Frontera, em companhia dos pilotos de Superbikes Alex Lowes e Michael van der Mark – tal como ele, patrocinados pela Monster Energy –, pilotos da Yamaha.

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Antes de começar a acelerar na pista espanhola, Hamilton deveria ter-se recordado do que passou Michael Schumacher quando, em final de carreira nas quatro rodas, decidiu experimentar correr nas duas. Isto porque tal como aconteceu com o alemão, também Hamilton experimentou a dureza do asfalto. Aos comandos de uma Yamaha YZF-R1 Superbike, um “bicho” com menos de 200 kg e mais de 200 cv, Lewis fez aquilo que faz habitualmente: acelerou. O que sabia e até mesmo o que não sabia. E se domina como ninguém um F1, descobriu que há sempre um preço a pagar quando se “aperta” excessivamente com uma R1 preparada para competição pelo Team Pata Yamaha, para o Campeonato do Mundo de Superbikes de 2018.

Jerez é um traçado divertido, com grandes rectas e travagens fortes, e uma série de curvas encandeadas, tão difíceis de atacar de carro como de moto. Na curva 5, uma direita média e longa, que dá acesso à maior recta do traçado, onde as R1 atingem a velocidade máxima, Hamilton perdeu o controlo da Yamaha e caiu. A moto japonesa ficou bastante raspada e o ego do campeão de F1 também, mas nada que impedisse ambos de regressar de seguida ao activo. Porém, se Lewis estava a acarinhar alguns sonhos de tentar ser campeão do mundo de moto, depois de se cansar de ganhar na F1, estes seus sonhos deverão ter ficado em tão mau estado quanto o seu fato e capacete, depois de entrar em contacto com o asfalto de Jerez.