Petr Cech, guarda-redes do Arsenal e internacional por mais de 100 vezes pela seleção da República Checa, anunciou esta terça-feira que vai terminar a carreira no final da presente temporada. O contrato do jogador de 36 anos com os gunners terminava em junho de 2019 e Čech ficaria livre para começar uma nova aventura por outras paragens mas decidiu colocar um ponto final num percurso que começou em 1999/00, nos checos do Chmel Blsany.

“Esta é a minha 20.ª temporada enquanto jogador profissional e passaram 20 anos desde que assinei o meu primeiro contrato profissional, por isso parece-me a altura certa para anunciar que vou retirar-me no final desta temporada. Depois de jogar 15 anos na Premier League, e de ganhar todos os troféus possíveis, sinto que alcancei tudo aquilo a que me propus. Vou continuar a trabalhar no Arsenal para conquistar mais um troféu esta temporada e depois disso estou ansioso para ver o que é que a vida tem para mim fora do campo”, escreveu o guarda-redes no Twitter.

Depois de completar a formação no Viktoria Plzeň, Cech cumpriu as duas primeiras temporadas enquanto jogador profissional no Chmel Blsany, entre 1999 e 2001, para depois representar o Sparta de Praga durante um ano: ainda que não tenha conseguido conquistar o título nacional, deu nas vistas devido às exibições nas competições europeias e rapidamente atraiu o interesse de clubes como o Arsenal. O acordo com os gunners não se concretizou porque o checo não conseguiu obter o visto de trabalho necessário para jogar em Inglaterra e acabou por rumar a França, onde em duas épocas no Rennes fez mais de 70 jogos e foi o titular absoluto da baliza de uma equipa que tinha o suíço Alexander Frei na frente de ataque, os defesas Escudé e Réveillère e as jovens promessas Kim Källström e Yoann Gourcuff. Em maio de 2003, o Rennes venceu o Montpellier no último jogo da temporada e escapou à despromoção – nesta altura, já o Chelsea de Claudio Ranieri tinha o checo de 1,96 metros debaixo de olho.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depois de uma primeira tentativa durante a janela de transferências de janeiro de 2004, o Chelsea continuou a insistir com o Rennes para garantir a contratação do guarda-redes. O clube francês acabou por aceitar a proposta londrina em fevereiro, adiando a ida de Čech para a Premier League para julho desse mesmo ano – altura em que já era José Mourinho o treinador. O checo transferiu-se para o Chelsea a troco de 7 milhões de euros e tornou-se o guarda-redes mais caro da história dos blues. Petr Cech chegou a Stamford Bridge para ser o segundo guarda-redes, substituto de Carlo Cudicini, mas uma lesão do italiano ainda durante a pré-época acabou por atirar o checo para a titularidade. Em março de 2005, menos de um ano depois de chegar a Inglaterra, Čech já era o dono de um novo recorde da Premier League: passou 1.025 minutos sem sofrer um golo, o maior espaço temporal de sempre que um guarda-redes havia passado sem ser batido na liga inglesa (a marca foi entretanto superada por Edwin van der Sar, quando o holandês estava ao serviço do Manchester United).

Petr Cech foi um dos principais elementos do Chelsea de José Mourinho

Depois de ser campeão inglês em 2004/05 e 2005/06, pela mão de José Mourinho e em conjunto com Frank Lampard, John Terry e companhia, Petr Cech sofreu em outubro de 2006 um dos momentos que o definiria enquanto jogador e homem. No primeiro minuto de uma visita ao Reading, o lateral irlandês Stephen Hunt colidiu com o guarda-redes checo e acertou-lhe com o joelho na cabeça, provocando um traumatismo craniano que deixou Čech imediatamente desmaiado. Depois de largos minutos a ser assistido no relvado, o jogador acabou por ser transportado para o hospital mas a lesão nunca foi encarada como sendo grave – o que, contou Mourinho dias mais tarde, quase custou a vida do guarda-redes. Foi operado de urgência durante a noite e foram inseridas duas placas de metal no crânio. O lateral do Reading foi criticado, o árbitro da partida foi criticado, o serviço nacional de saúde inglês foi criticado mas Petr Čech não se lembra de nada. Três dias depois de sair do hospital, a 27 de outubro, o internacional checo deu uma entrevista ao jornal The Guardian onde garantiu que não tinha “qualquer memória do acidente nem do que se passou depois”. Só regressou aos treinos três meses depois e desde aí passou a usar o capacete de proteção que se tornou uma imagem de marca.

Passou onze anos em Stamford Bridge, voltou a ser campeão em 2009/10 e 2014/15, venceu quatro Taças de Inglaterra, uma Liga dos Campeões e uma Liga Europa. Em 2015, aos 33 anos, depois de ter perdido a titularidade para o belga Thibaut Courtois na época anterior, decidiu que estava na hora de mudar de ares. No Twitter, tal como agora anunciou o final da carreira escreveu que “as coisas mudaram” e que havia entendido que “já não era o primeiro guarda-redes”. “Durante a temporada tornou-se claro que a minha situação não iria melhorar e, sabendo que não estou na fase da minha carreira em que quero estar no banco, tomei a decisão de avançar e procurar novos desafios”, explicou. O destino foi aquele que chamou por Cechlogo em 2001, antes ainda de assinar pelo Rennes: o Arsenal. A ida de Szczesny, polaco atualmente na Juventus, para a Roma catapultou o checo para a titularidade, à frente de David Ospina, e as três épocas no Emirates trouxeram a conquista de outra Taça de Inglaterra e outras duas Taças da Liga e ainda outro recorde – o primeiro guarda-redes a conseguir cumprir 200 jogos sem sofrer qualquer golo.

Esta temporada, com a partida de Arsène Wenger e a chegada de Unai Emery, Petr Cech perdeu a titularidade para o recém-chegado Bernd Leno e ainda só esteve presente em sete jogos dos gunners. Esta terça-feira, o guarda-redes anunciou o final de uma carreira que durou 20 anos e teve 15 de Premier League. A reforma do checo já motivou reações de outros guardiões contemporâneos, como é caso de Iker Casillas, que defrontou Čech tanto em competições de clubes como em competições de seleções. “Parabéns por uma brilhante carreira no futebol, querido Petr Cech! Dos melhores guarda-redes que vi! Muita sorte em tudo!”, escreveu o jogador do FC Porto no Twitter.