Karl Lagerfeld, diretor criativo da Chanel, morreu esta terça-feira, aos 85 anos. O designer associado às marcas Chanel e Fendi faleceu em Paris depois de várias semanas doente, avança a publicação francesa Closer. Esta segunda-feira foi internado de urgência. Ainda não são conhecidos os motivos da sua morte, que foi avançada por diferentes meios franceses. Segundo a WWD, publicação especializada na área, Karl Lagerfeld trabalhou até ao último instante. Era conhecido como o “Kaiser da moda”.

Quando em janeiro último faltou ao desfile (em dose dupla) da marca francesa — coisa que raramente fazia — a indústria ficou atenta. Preocupada também. Na altura, fontes da Chanel limitaram-se a afirmar que o designer estaria a sentir-se cansado. Lagerfeld era o diretor criativo da Chanel desde 1982. Nascido na Alemanha, tinha 85 anos e levava outros 35 à frente da marca de moda francesa que ajudou a alavancar. A Lagerfeld é-lhe reconhecido o mérito de ter ressuscitado a griffe que, até à sua vinda, estava a ser considerada antiquada.

Karl Lagerfeld. O último kaiser sabia que parar é morrer

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Segundo o El País, Lagerfeld criava 10 coleções de moda por ano (e ainda duas para a italiana Fendi). O mesmo jornal acrescenta que o designer tinha também mão nas fotografias produzidas para as campanhas da Chanel, sendo que uma das últimas foi protagonizada por Penélope Cruz. Além de diretor criativo da Chanel e da Fendi, tinha uma marca homónima, Karl Lagerfeld. O currículo não se fica por aqui: além de fotógrafo, chegou a realizar curtas-metragens, desenhou apartamentos de luxo no Dubai e criou colaborações “inusitadas“, como uma coleção de lápis para a Faber-Castell, um modelo para a Rolls Royce ou uma edição especial da Coca-Cola Diet.

A última vez que apareceu em público foi em dezembro, em Nova Iorque, num desfile da Chanel. A imagem de Lagerfeld era já tida como icónica: surgia sempre diante do público e das câmaras de fato preto e gravata, óculos escuros em riste, e cabelo grisalho preso num rabo de cavalo. O britânico The Guardian escreve que o designer era “reconhecido instantaneamente”. “Instintos artísticos, perspicácia comercial e ego proporcional” são descritores do designer que foi em vida.

Sou como uma caricatura de mim mesmo e gosto disso. É como uma máscara e, para mim, o Carnaval de Veneza dura o ano inteiro”, é uma das suas frases icónicas.

Recentemente, o serviço de streaming Netflix disponibilizou um documentário onde se mostra os sete dias de bastidores que antecederam o desfile de Alta Costura da Chanel para a primavera de 2018. Esta terá sido a última interação de Lagerfeld com os media. Antes disso, Lagerfeld protagonizou momentos insólitos ao fazer declarações facilmente consideradas polémicas: “Se não querem que vos baixem as calças, não sejam modelos!”, dizia em 2018 para criticar o movimento #MeToo e o prejuízo que trouxe à indústria da moda.

Karl Lagerfeld, o gato Choupette, o “sim” às peles e o “não” ao passado

Virginie Viard, sua colaboradora próxima ao longo de mais de 30 anos, foi encarregada pelo CEO da Chanel para dar seguimento à direção criativa das coleções da marca francesa — noutras palavras, para perpetuar o legado artístico de Gabrielle Chanel e de Karl Lagerfeld.

Aos 85 anos, Lagerfeld era solteiro e não tinha filhos. Não se conhecem herdeiros, além da gata Choupette, que nos últimos anos tornou-se um sucesso nas redes sociais.

“Desejo que a moda aguente este impacto. Foi uma grande perda”

A artista plástica Joana Vasconcelos privou várias vezes com Karl Lagerfeld. Ao Observador, recorda “a pessoa excelente” além de “genial”. “Ele tinha uma capacidade de visão única sobre o mundo criativo e sobre a vida. Com Karl Lagerfled morre mais do que um amigo, mais do que um génio, morre também uma época”, disse.

Desejo que a moda aguente este impacto, porque é uma grande perda para a criatividade do mundo”, continuou.

Joana Vasconcelos reconhece o “privilégio” de ter conhecido Lagerfeld e ao Observador relembra a primeira vez que o conheceu: “A primeira vez foi quando me convidou para ir à casa Chanel. Estive a vê-lo desenhar, vi como tudo começava com uma folha de papel, com um lápis. Em minha casa desenho com uma caixa de lápis desenhada pelo Karl. Ele e eu tínhamos a mesma base, isto é, o começar por desenhar numa folha de papel. Na minha vida conheci poucas pessoas importantes e mágicas, o Karl foi uma delas”.