Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove. O final de 2018 foi um verdadeiro sonho para os adeptos do Liverpool que, pela primeira vez em muitos anos, puderam dar com sentido asas à imaginação sobre o fim desse longo jejum de vitórias no Campeonato que dura desde 1990, quando as figuras do clube eram ainda Bruce Grobbelaar, John Barnes, Kenny Dalgish ou Ian Rush. Depois, chegou a derrota em Manchester com o City. E a igualdade com o Leicester. E o empate com o West Ham. Num curto lapso de tempo, a vantagem em relação aos citizens já se tinha esfumado e a margem de erro era nula. Por isso, esta viagem a Old Trafford era fundamental para perceber a real capacidade dos comandados de Jürgen Klopp assumirem de vez as rédeas da Premier League. E logo contra a equipa em melhor momento na prova, com 25 pontos nos últimos 27 disputados.

Quando o Liverpool ganhou o 18.º e último título, o Manchester United tinha apenas sete. Nem havia discussão possível entre eles em relação ao principal troféu inglês; hoje, os red devils que se transformaram na era Alex Ferguson somam 20 e já são o clube com mais triunfos, com uma diferença grande para o terceiro classificado neste ranking (Arsenal, 13). Foi essa viragem numa era que transformou este duelo num clássico ainda mais clássico, com vantagem para o visitados que tinham somado sete vitórias, um empate (2017) e uma derrota (2014) nos últimos nove encontros. Mas houve um tema paralelo que deu mais que falar do que propriamente o jogo – um jogo que se realizou duas horas antes da final da Taça da Liga inglesa.

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Tal como já tinha acontecido com outros clubes como o rival City, o Manchester United recorreu à reparação do relvado através da aplicação de alho em pó na relva, um tratamento biológico cada vez mais utilizado para proteger o terreno dos parasitas que tem como efeito colateral o cheiro intenso que proporciona e que pode atingir um raio de 800 metros em redor (embora seja algo que com o tempo se dissipe). Todos os pontos foram pensados ao pormenor para que fosse um jogo grande mas a primeira parte mostrou que este seria um encontro mais para os fisioterapeutas do que para os guarda-redes.

Logo no arranque da partida, um mau atraso de Ashley Young perante a pressão dos avançados dos reds colocou De Gea em apuros; mais tarde, foi Salah a beneficiar de um livre já perto da área contrária que saiu muito por cima (15′); quase a acabar o primeiro tempo, Alisson, com um pequeno toque na bola no relvado, anulou a melhor jogada coletiva do encontro aos pés de Lingaard (40′). Antes, pelo meio e depois, foram-se sucedendo as substituições forçadas por problemas musculares e nem os substitutos se livraram da praga: Ander Herrera deu lugar a Andreas Pereira (21′), Juan Mata saiu para a entrada de Lingaard (25′), Firmino deu a vez a Sturridge (31′) e Lingaard, menos de 20 minutos depois, foi rendido por Alexis Sánchez (43′).

Desde 2009 que não havia um jogo na Premier League com tantas substituições forçadas antes do intervalo, o que teria também influência no decorrer de uma segunda parte onde o (pouco) perigo chegou em lances de bola parada pela impossibilidade de Solskjäer (sobretudo ele, mais do que Klopp) poder mexer na equipa. O nulo manteve-se até final, para mal das duas equipas: o Liverpool subiu ao primeiro lugar isolado mas pode ser ultrapassado caso o City vença o seu jogo em atraso; o Manchester United desceu ao quinto lugar por troca com o Arsenal (que ganhou ao Southampton por 2-0). E o único registo que ficou, como não poderia deixar de ser, tocou a um guarda-redes: De Gea tornou-se o sétimo guarda-redes a fazer 100 ou mais jogos na Premier League sem sofrer golos, sendo o primeiro no Manchester United a alcançar o feito desde Peter Schmeichel.