O embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, Hélder Vaz, acredita que as lições dos últimos três anos de crise política “possam finalmente” levar a um entendimento no país após as eleições legislativas.

“Acredito que a lição destes três anos possa levar as pessoas finalmente a entenderem-se”, disse Hélder Vaz à agência Lusa, em entrevista a propósito do escrutínio marcado para 10 de março.

Por outro lado, o diplomata não descartou a possibilidade de um cenário pós-eleitoral menos conciliador.

“Acredito que possa haver a tentação de novo de criar toda uma onda de muito ruído, de barulho, e que se procure afirmar no exterior a ideia de que só eu é que sou bom, todos os outros guineenses são maus”, disse, sem especificar.

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A Guiné-Bissau vive uma crise política desde a demissão, pelo Presidente guineense, José Mário Vaz, do Governo liderado pelo primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, vencedor das legislativas de 2014), em agosto de 2015.

Desde então, o país já teve sete chefes de Governo, tendo em abril sido alcançado consenso para a nomeação de Aristides Gomes como primeiro-ministro com o objetivo de organizar eleições legislativas a 18 de novembro, posteriormente adiadas devido a dificuldades financeiras e técnicas, que atrasaram o início do recenseamento eleitoral.

Hélder Vaz recusa a ideia de que durante estes três anos tenha havido instabilidade na Guiné-Bissau, considerando que o que existiu foi “um problema de destabilização”.

“Em Portugal vivemos a mesma estabilidade parlamentar e constitucional que se viveu na Guiné-Bissau este anos. O PSD ganhou as eleições, mas não governa, está na oposição. O PS que ficou em segundo, governa com a chamada ‘geringonça'”, disse.

“Na Guiné-Bissau, houve um partido, o PAIGC, que ganhou as eleições com maioria absoluta, entretanto 15 deputados deixaram de votar com o partido e passaram a votar com o segundo maior partido e constituíram nova maioria”, acrescentou.

Para o diplomata, esta nova organização do parlamento está nos termos da Constituição.

“Criaram-se uma série de problemas para não se reconhecer a tal ‘geringonça’ [guineense], a tal maioria parlamentar que na nossa Constituição é obrigatório que exista para que o programa de Governo seja aprovado”, considerou.

Para Hélder Vaz, a instabilidade que se vive no país foi “induzida do exterior”.

“Houve um impedimento de exercício pleno daquilo que são as disposições da Constituição da República. Houve de fora a imposição da violação da Constituição, defendeu-se a democracia minoritária contra a maioria parlamentar”, disse.

A procura de soluções para a crise política e institucional na Guiné-Bissau é mediada pela Comunidade Económica de Países da África Ocidental (CEDEAO), organização de que a Guiné-Bissau faz parte.