O gabinete da primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, recebeu o manifesto do alegado atirador por email, menos de dez minutos antes de este levar a cabo o ataque terrorista a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, que provocou a morte de 49 pessoas. De acordo com o jornal New Zeland Herald, o email foi enviado para cerca de 70 destinatários, entre os quais se encontrava a primeira-ministra, meios de comunicação nacionais e internacionais, o líder do Partido Nacional, Simon Bridge, e o presidente da Câmara dos Representantes, Trevor Mallard.

O email definia as razões que o levavam a fazer [o ataque]. Ele não disse, no entanto, que estava prestes a fazê-lo. Não houve oportunidade de o parar“, disse fonte do gabinete da primeira-ministra neozelandesa ao mesmo jornal.

O atirador, um australiano de nome Brenton Tarrant, foi já presente ao juiz Paul Kellar, do tribunal distrital, que lhe leu uma acusação de homicídio. Brenton Tarrant vai regressar ao tribunal a 5 de abril. Entrou no tribunal algemado e acompanhado por dois polícias e esteve perante o juiz cerca de um minuto.

Durante a sessão, o suspeito fez um gesto com as mãos — um OK invertido — que tem vindo a ser interpretado por alguns como um sinal associado aos grupos que defendem a supremacia branca. Outros, escreve a Sky News, defendem que é uma referência a uma piada online.

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[Veja o vídeo: “Como aconteceu o atentado mais mortífero da Nova Zelândia?”]

O atirador, que abriu fogo nas duas mesquitas, tentou apresentar os seus motivos no manifesto de 74 páginas que divulgou em tribunal e que enviou por email a várias pessoas: é um australiano nacionalista branco de 28 anos que odeia imigrantes. No documento, afirmou que estava zangado por causa dos atentados na Europa que foram perpetrados por muçulmanos e que queria vingar-se, queria causar medo.

O ataque causou pelo menos 49 mortos no ataque às duas mesquitas de Christchurch. Os ataques tiveram início às 13h40 (00h40 em Lisboa) nas mesquitas de Al Noor, em Hagley Park, e de Linwood Masjid. A primeira-ministra da Nova Zelândia divulgou entretanto as nacionalidades das vítimas mortais: há pessoas do Paquistão, Turquia, Arábia-Saudita, Bangladesh, Indonésia e Malásia.

Atirador tinha licença de uso e porte de arma. Primeira-ministra promete: “As nossas leis das armas vão mudar”

A primeira-ministra neozelandesa prometeu uma alteração às leias das armas do país. Jacinta Ardern revelou, numa conferência de imprensa este sábado, que o atirador obteve licenças em novembro de 2017 para comprar as armas que usou no ataque desta sexta-feira.

Posso dizer-vos uma coisa nestes momento: as nossas leis das armas vão mudar”, garantiu a primeira-ministra, Jacinta Ardern.

O atirador terá usado, segundo a líder neozelandesa, cinco armas, duas delas eram semi-automáticas e outras duas eram espingardas. Jacinta Ardern adiantou ainda que Brenton Tarrant tinha o carro cheio de armas o que sugeria “a sua intenção de continuar com o ataque”.

O imã que liderava a oração na mesquita de Linwood quando o alegado atirador matou várias pessoas naquele templo disse esta sexta-feira que o ataque não vai mudar o amor dos fiéis pela Nova Zelândia. “Ainda amamos este país“, sublinhou Ibrahim Abdul Halim, imã da mesquita em Christchurch. “[Os extremistas] Nunca vão quebrar a nossa confiança”, acrescentou.

Comunidade Islâmica de Portugal. “Só ódio pode levar a um tal extremo”

O presidente da Comunidade Islâmica de Portugal classificou este sábado como “atentados repugnantes contra pessoas inocentes”, sem “justificação plausível” os ataques.

São atentados repugnantes contra pessoas inocentes que estavam simplesmente, como crentes, a cumprir os seus deveres religiosos. Tal atrocidade não tem qualquer justificação plausível. Só ódio pode levar a um tal extremo”, afirmou, numa nota enviada à agência Lusa, Abdool Vakil, salientando que “não há palavras para classificar atos destes”.

Abdool Vakil disse ainda que na oração semanal das 12h00 de sexta-feira, na Mesquita Central de Lisboa, foi feita uma prece pelas vítimas destes atentados e pelas suas famílias.