Abdul Aziz estava na mesquita de Linwood com os seus quatro filhos, a rezar, naquela sexta-feira, quando ouviu o som de tiros. Em vez de fugir ou de procurar abrigo, terá tido a reação contrária: saiu porta fora em direção ao atirador, gritando-lhe “Anda cá!”. Pelo caminho, pegou na primeira coisa que encontrou — um leitor de cartões multibanco sem fios que estava na secretária à entrada da mesquita — e atirou-a ao atirador.

De seguida, a situação ter-se-á complicado, segundo contou Aziz, dono de uma loja de mobiliário em Christchurch, a vários jornalistas. O atirador terá fugido para o parque de estacionamento e terá começado a disparar contra Aziz, que se abrigou junto aos carros. Pelo caminho, apanhou uma das armas deixada cair pelo atirador e tentou atingi-lo, mas, afirma, a arma já não tinha munições. “Quando ele me vê a ir atrás dele com uma arma, entrou no carro dele”, relatou Aziz à CNN. “E eu cheguei lá e atirei a arma dele contra o vidro, como uma seta, partindo-o. Ele deve ter pensado que eu disparei ou assim e fugiu com o carro.”

O atirador fugiu assim da mesquita de Linwood, a segunda a ser atacada, sem conseguir disparar contra mais pessoas que estavam dentro do edifício. Em fuga, acabaria por ser detido depois de dois polícias abalroarem o seu carro. Oficialmente, a polícia ainda não divulgou o seu relato sobre o que aconteceu na sexta-feira.

A ação destes três homens, contudo, pode ter sido decisiva para que o massacre não tenha prosseguido, segundo afirma o New York Times: “Entrevistas com dezenas de sobreviventes e análises do vídeo registado pelo atacante, bem como o da sua detenção feito por um espectador, sugerem que a violência terminou depois de a polícia quase o ter apanhado na primeira mesquita — e por atos de coragem [como este] durante e depois do segundo ataque.” Também o imã da mesquita, Latef Alabi, afirmou à Associated Press que a ação de Aziz foi decisiva: “Se não fosse ele, o número de mortos teria sido bem mais elevado”, afirmou.

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É como se a minha cabeça não estivesse a funcionar”, declarou Aziz em reação ao Times. “Foi uma reação automática, como qualquer um teria. Estava disposto a dar a minha vida para salvar outra vida.”

Mas quem é este homem que saltou para a linha da frente, atrás de um atirador fortemente armado e disposto a matar? Abdul Aziz, de 48 anos, chegou há Austrália há quase 30 anos como refugiado, vindo de Cabul, no Afeganistão, segundo conta o jornal australiano Sydney Morning Herald. Ali viveu durante 27 anos, trabalhando na construção civil. Há cerca de dois anos, decidiu mudar-se com a família para a Nova Zelândia, onde abriu uma loja de mobiliário. Tem oito filhos — quatro deles estavam consigo na mesquita, na sexta-feira.

Não há dúvidas da gratidão que algumas das pessoas que estavam nessa mesma mesquita sentem por Aziz. Enquanto conversava com o jornal australiano, o afegão foi interrompido por dois jovens que fizeram questão de o beijar e dizer “és o nosso heróis, salvaste as nossas vidas”. Questionado pelo mesmo jornal sobre se tinha alguma mensagem para as pessoas que odeiam os muçulmanos, Aziz deixou uma curta resposta: “Não devem ter medo de nós, somos uma só família. Temos sangue da mesma cor.”