Nos próximos dias, uma mãe em morte cerebral deverá dar à luz no Hospital de São João. Catarina Sequeira, 26 anos, estava grávida de 12 semanas quando, na sequência de um ataque de asma, perdeu os sentidos. Foi hospitalizada em Vila Nova de Gaia, mas um dia depois do Natal foi-lhe declarada morte cerebral. A jovem foi transferida para o São João no Porto, onde Salvador, o seu filho, deverá nascer nos próximos dias, um prematuro extremo. A notícia é avançada pelo Correio da Manhã. Este será o segundo caso em Portugal. O primeiro aconteceu em 2016 e a criança nasceu com 32 semanas.

“Vou amar o meu neto e já aceitei que a minha filha morreu. Quero levar o processo até ao fim, por mais doloroso que seja para que possa depois lembrá-la como a menina sorridente que sempre foi”, diz Maria de Fátima Branco, mãe da jovem, citada pelo CM.

Para poder avançar com a decisão de manter a jovem ligada ao suporte de vida, a família de Catarina reuniu-se com a Comissão de Ética daquela unidade de saúde, no Porto. Apesar dos riscos, a família decidiu seguir este caminho.

Não perdi a minha filha; perdi a ilusão de que poderia conservá-la sempre comigo”, sublinha Maria de Fátima que ao longo dos últimos três meses tem visitado regularmente a filha.

“Não vou perder a força que tenho graças à força que a minha filha sempre nos deu e pelo amor que tinha por nós. Tenho cá mais oito [filhos] que também precisam de mim”, diz a mãe da jovem.

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Catarina Sequeira tinha asma desde os 13 anos, e era canoísta desde 2005 no Douro Canoa Clube, tendo conquistado 41 medalhas. Maria de Fátima diz que se tivesse de tomar a decisão de novo, tomaria outra e não teria mantido a filha ligada ao suporte de vida.

“Se fosse hoje, tudo tinha acabado naquele dia. Primeiro, porque a minha filha está a ser um suporte de vida; segundo, porque não se sabe como vai nascer o bebé e isto mata-me”, diz Maria de Fátima.

Não é a primeira vez que uma mãe em morte cerebral dá à luz um filho em Portugal. Em 2016, Lourenço Salvador nasceu a 7 de junho, na Maternidade Alfredo da Costa, 15 semanas depois de ter sido declarado o óbito da mãe Sandra.

Lourenço, o “bebé-milagre”, já teve alta da maternidade

Lourenço nasceu prematuro, com 2,350 quilos, e foi logo transferido para a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, na Maternidade Alfredo da Costa. Com quase um mês de idade e mais de três quilos teve alta hospitalar.

O nascimento de Lourenço foi um feito inédito em Portugal e falado um pouco por todo o mundo, dada a raridade do caso. A mãe, Sandra, estava em morte cerebral desde fevereiro, mas a equipa de cuidados intensivos da neurocirurgia do São José, em articulação com a MAC, conseguiu manter a gravidez até às 32 semanas.

Festinhas, botinhas e muitas dúvidas. Os quatro meses de incertezas até nascer Lourenço