Os deputados da Ação Democrática Independente (ADI) vão chamar o primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, para prestar esclarecimentos no parlamento são-tomense, após diligências da Polícia Judiciária envolvendo dois ex-ministros deste partido, anunciou hoje o líder da bancada parlamentar.

“Iremos usar dos instrumentos à nossa disposição, quer no estatuto dos deputados, quer no regimento da Assembleia Nacional, para convidar o primeiro-ministro para ir à Assembleia Nacional explicar ao povo e à nação a sua pretensão para o país”, afirmou hoje o líder da bancada parlamentar da ADI, Abnildo d’Oliveira, em conferência de imprensa.

O deputado da oposição acusou Jorge Bom Jesus — que lidera um Governo do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social Democrata e coligação PCD-UDD-MDFM — de não saber “como dirigir o país” e de estar “de mãos atadas para cumprir as promessas eleitorais”.

O primeiro-ministro, acrescentou, “não pode perseguir políticos para se manter no poder”.

Na quarta-feira, a Polícia Judiciária (PJ) deteve Américo Ramos, antigo ministro das Finanças do Governo liderado por Patrice Trovoada, que ficou em prisão preventiva após ter sido presente ao tribunal de primeira instância, e na quinta-feira, esta polícia impediu o ex-ministro das Obras Públicas Carlos Vila Nova de viajar para Portugal e convocou-o para ser ouvido hoje de manhã nas instalações da PJ.

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O procurador-geral da República, Kelve Nobre de Carvalho, condenou hoje “veementemente” a atuação da PJ, que disse ocorrer “à revelia das regras processuais vigentes” e “sem poderes delegados” pelo Ministério Público, “o titular da ação penal”.

Abnildo d’Oliveira afirmou que o Governo de Bom Jesus “está a mergulhar o país numa situação nunca antes vista, uma situação preocupante, que atenta contra a liberdade das pessoas” e garantiu que o partido defenderá esses cidadãos, “independentemente da sua cor política”.

“Temos conhecimento, infelizmente, que o Governo está na posse de uma lista de cidadãos a serem presos. Não se compreende como é que o Governo pode determinar a prisão de cidadãos. Só o MP pode acusar e levar à justiça”, declarou.

A ADI exortou ainda “todos os democratas” a “cerrar fileiras, para que o país não regresse aos tempos das prisões arbitrárias, dos julgamentos sumários, do exilo forçado, das condenações sem fundamentos, das humilhações do ser humano e da banalização dos valores da liberdade”.

Na quinta-feira, numa comunicação ao país, o Governo são-tomense disse ter feito uma queixa à PJ relativa a empréstimos contraídos pelo executivo anterior, que pode ter estado na origem da detenção do ex-ministro das Finanças Américo Ramos.

Num comunicado lido pelo secretário de Estado da Comunicação Social, Adelino Lucas, o executivo refere-se a um empréstimo de 30 milhões de dólares (26,7 milhões de euros), contraído a um fundo internacional com sede em Hong Kong e outro de 17 milhões de dólares (15,1 milhões de euros), contraído ao Fundo Soberano do Kuwait para a requalificação do hospital da capital são-tomense.