A cantora brasileira Gal Costa reagiu este sábado à morte do músico brasileiro João Gilberto aos 88 anos: “João ensinou-me tudo. Sou cantora por causa dele. Mudou para sempre a música do mundo. Ele ensinou delicadeza ao Brasil, trouxe a modernidade. É uma perda irreparável. Eu, pessoalmente, sentirei saudade do homem que teve uma influência decisiva no meu canto”, disse a artista ao Folha de São Paulo após recordar que Chega de Saudade, o álbum lançado pelo cantor em 1959, foi o primeiro disco que comprou.

Também Roberto Menescal, artista da mesma geração de João Gilberto, lamentou a morte do colega que, a seu ver, “definiu uma nova maneira de fazer música brasileira”: “Numa época em que tudo era cantado com força, com seu modo de cantar para dentro João abriu possibilidades para muitos que só seriam compositores. Chico Buarque e Caetano Veloso só puderam ser cantores por causa dele”, comentou o cantor.

Morreu João Gilberto, o músico que deu o ritmo à bossa nova

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Caetano Veloso está em Portugal para uma série de espetáculos ao lado dos filhos. Em entrevista à RTP, o artista brasileiro diz-se arrebatado pela morte do artista que o influenciou e inspirou no início da carreira musical.

“Acabei de saber que o João morreu, para mim isso é importante de mais, toma conta da minha cabeça inteira. João é para mim o maior artista brasileiro, sob todos os pontos de vista, não só na música popular, para mim, na história da minha vida, é o maior artista do mundo. Ele foi muito mais que uma inspiração, foi uma revelação”, disse ele em Lisboa antes de embarcar para os Açores.

Marcelo Rebelo de Sousa partilhou uma mensagem de pesar na página oficial da Presidência no Facebook: “Quem viveu essa época, e mesmo quem não a viveu, não esquece a novidade de João Gilberto, nem o seu legado”. No texto, o Presidente da República recorda que “a Bossa Nova, alegre e melancólica ao mesmo tempo, nasceu de uma vontade de, como disse João Gilberto, tirar os excessos, seguir o curso natural das coisas, dar as notas de modo a não prejudicar a poesia”.

Fafá de Belém reagiu à morte de João Gilberto enquanto dava um concerto no Festival de Inverno de Campos do Jordão: “Dedico essa apresentação a um homem que é o pai da Bossa Nova. Vamos dedicar as músicas dessa apresentação a ele que morreu hoje, mas que deixou um legado. Ele fez a bossa nova ser reconhecia no mundo inteiro”, recordou a cantora.

Em entrevista à Globo News, o músico Charles Gavin acredita que João Gilberto deixou “um legado insubstituível”: “Nos últimos anos, as pessoas se apegaram a ele ser uma pessoa introspectiva, excêntrica, mas ele é um dos artistas mais extraordinários da sua geração. Ele inventou a batida da bossa nova. A música brasileira tem este marco com João Gilberto, que traduziu muito bem em seu violão as mudanças estéticas brasileiras — uma passagem do samba canção para a bossa nova”. E termina: “O violão de João Gilberto não é um violão, é uma orquestra”.

Daniela Mercury escolheu o Instagram para chorar a morte de João Gilberto: “‘Vai minha Tristeza e diz a ele que sem ele não pode ser’. Um génio que revolucionou para sempre a música popular brasileira. João criou a Bossa Nova e me influenciou imensamente. Um dia ele me disse que eu era de sua família. E sou mesmo. Ele ensinou todos nós a cantar da forma mais bela do mundo. Vá em paz, mestre”, escreveu a artista.

Maria Bethânia também deixou uma mensagem sobre João Gilberto nessa rede social: “Luto. A cultura brasileira perde hoje uma personalidade lendária, o pai da Bossa Nova, João Gilberto. Todo e total respeito e reverência a essa entidade da música brasileira. Descanse em paz, João Gilberto”, desejou a cantora.

Também Rita Lee explicou, numa mensagem enviada ao Globo, o impacto que João Gilberto teve na sua vida profissional: “João Gilberto me ensinou que eu era uma roqueira com voz de bossanoveira, Jamais vou me esquecer como ele foi generoso comigo, me convidando a participar de um especial na Globo. Um beijo e saudade”.

Jaques Morelenbaum, violoncelista e compositor brasileiro que partiu de um álbum de João Gilberto para criar o projeto “Cello Samba Trio”, lembrou ao Observador a “importância crucial” do músico na sua vida. “Por mais que esperemos por ela, a morte sempre nos surpreende. Especialmente quando quem vai é um ente querido, quem vai é uma pessoa que tem uma importância vital, uma importância crucial, na nossa formação e na nossa inspiração”, disse o compositor.

“Estou realmente consternado com a passagem do João Gilberto para um outro plano e só tenho a agradecer por tanta inspiração, por tanta beleza que ele espalhou nesse mundo, por tanto que ele semeou de poesia e da mais bela música. E por todo o exemplo que ele deu a todos nós de uma busca incessante pela perfeição. Particularmente, João Gilberto tem uma influência enorme nas coisas que eu faço, especialmente o meu projeto do Cello Samba Trio, que começou a partir de um disco dele, gravado em 1976, o disco branco, e esse evento mudou bastante a minha vida”, acrescentou, lembrando os “infinitos momentos de beleza sublime” proporcionados por João Gilberto. “Ah, e dá um abraço no Tom por mim.”

Marcos Valle, cantor, instrumentista, compositor e produtor, recordou no Facebook que nunca conheceu João Gilberto pessoalmente mas que partilhou com ele “40 mágicos minutos”: “Nunca o conheci pessoalmente, mas nem consigo disfarçar o impacto que João Gilberto causou na minha vida. Quer dizer, não o conheci pessoalmente, mas falei com ele por telefone por 40 mágicos minutos, onde ele me pediu se poderia cantar para mim algumas das minhas canções. E assim foi por tantos, mas ao mesmo tempo, tão poucos minutos, que fiquei a ouvi-lo cantando, Samba de Verão, Gente, Preciso Aprender a Ser Só”.

Fora do mundo musical, também os atores começam agora a reagir à morte de João Gilberto. Bruna Lombardi é exemplo disso: “João Gilberto mudou a música e trouxe uma nova identidade para o nosso país. Ele foi a grande fonte, grande inspiração e transformação do nosso ritmo e da maneira como o Brasil passou a ser visto pelo mundo. Com ele uma nova delicadeza e elegância fizeram da bossa nova o ritmo mais imitado no mundo”, comentou a atriz numa publicação no Facebook.

O escritor, dramaturgo e autor de telenovelas brasileiras Walcyr Carrasco lamentou o desaparecimento de “um dos músicos mais importantes e influentes do Brasil”: “Quem nos deixou hoje foi João Gilberto, aos 88 anos. Um dos pais da Bossa Nova e um dos músicos mais importantes e influentes do Brasil. Descanse em paz. Meus sentimentos aos familiares e amigos”, disse Carrasco no Instagram.

Ruy Castro: “O que define a bossa nova é o violão de João Gilberto”

Ruy Castro, que deu uma entrevista ao Observador sobre a biografia de João Gilberto, já recordou o cantor num comentário à Band News: “É claro, a batida do violão chamou muita atenção quando apareceu, mas acho que foi só a senha, o passaporte para crescer com ele tudo o que tinha acumulado de conhecimento de música brasileira. João Gilberto não foi apenas o inventor da bossa nova, foi o grande portador de uma herança cultural brasileira. Ele conhecia tudo o que se tinha feitos dos anos 30 aos anos 60”.

Toquinho também conversou com a Band News sobre o artista: “A célula mais importante da tradução da música brasileira. João Gilberto foi o grande transformador. Caetano Veloso tem uma frase dele que eu cito sempre que diz: “Ninguém com tão pouco transformou tanto”. E João Gilberto foi o grande inovador, o divisor de águas. Nós crescemos musicalmente, nascemos musicalmente porque ele existiu como essa figura maravilhosa. Gostando ou não do João Gilberto, ele tinha uma importância absurda na música brasileira e principalmente na bossa nova. A bossa nova é uma pessoa só e é o João Gilberto”.

[em atualização]