A rápida evolução do mundo da tecnologia, a importância da localização das pessoas e das empresas, bem como a forma como lidamos com a aprendizagem ao longo da vida são as três grandes mudanças no mundo do trabalho. É pelo menos nisto que acredita José Paiva, CEO e cofundador da plataforma Landing Jobs. Trata-se de uma solução digital portuguesa, na qual as empresas e os profissionais das tecnologias de informação de todo o mundo fazem o match entre o que uns oferecem e que os outros procuram. À “velocidade da luz”, segundo os seus fundadores. Foi este um dos pressupostos que a fez ser destacada pela The Next Web, uma publicação holandesa atenta às atuais e futuras tendências tecnológicas.

Estas grandes mudanças de que fala José Paiva vão ser determinantes nos próximos anos para quem procura emprego, sobretudo na área das Tecnologias de Informação. “Até há pouco tempo, o ser humano tinha de se deslocar ao local para adquirir as coisas. Hoje, com o avanço da comunicação digital, são as coisas e o próprio emprego que se podem deslocar até às pessoas. O local perde valor e abre-se um novo mundo para o trabalho. Daí que ninguém consiga dizer, à data de hoje, como vai ser o impacto da deslocalização a nível de salários. Se conseguimos ter tudo em digital e trabalhar em qualquer lugar, o que acontece aos países que pagam salários mais altos, ou mais baixos?”, questiona.

Outro desafio será lidar com a forma como vemos a aprendizagem, que é cada vez mais um processo para a vida. “Aquilo que sabemos hoje pode tornar-se desnecessário, porque estas mudanças vão ser muito rápidas e vão acontecer a meio da nossa vida profissional. É importante estarmos preparados para isso”. As competências que vão sendo acumuladas e continuamente desenvolvidas tornam-se, por isso, fundamentais.

Landing Jobs apresenta-se ao serviço

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De que se trata exatamente a Landing Jobs?  “É um marketplace visitado por profissionais das tecnologias da informação”, sintetiza José Paiva, CEO e cofundador da plataforma. Trabalham no recrutamento de profissionais de TI (Tecnologias da Informação) vindos dos vários cantos do mundo (América do sul, América do Norte, Europa e África) e com empresas de Portugal, Espanha, Alemanha e Holanda, interessadas em contratá-los. “Acompanhamos sobretudo os fluxos migratórios já existentes, como do Brasil para Portugal, do nosso país para Espanha ou para a Europa Central. Mas também colaboramos com empresas e colaboradores que querem encontrar emprego no seu país”, acrescenta.

A Landing Jobs faz uma curadoria quer do candidato, quer da empresa. Dessa forma, quando um e outro finalmente se comunicam, a informação dada já foi confirmada e ajustada ao seu público, promovendo uma comunicação mais “limpa” e adequada. Mais do que uma empresa de recrutamento, avaliam a pessoa. “Quando o candidato chega ao cliente, já leva uma avaliação do nosso lado.”

Recentemente, lançaram um novo projeto: landing.work que pretende facilitar a interação direta entre pessoas que trabalham com apenas um cliente, normalmente associados a um projeto limitado no tempo e específico (designados por contractors), e as empresas, suas clientes. Desta forma, será possível conseguir salários mais altos e maior flexibilidade para escolher clientes e projetos, sendo que a empresa faz a mediação de pagamentos e apoia na gestão das empresas unipessoais dos utilizadores da plataforma.

“Por exemplo, até há pouco tempo, para ser um taxista, era necessário uma competência fundamental e elementar: saber conduzir. Ora 90% das pessoas sabe conduzir. Depois, havia uma competência mais especializada: conhecer as ruas da cidade. Aí, baixava para metade o número de pessoas que cumpria esse requisito e tinha mais capacidade para cumprir bem a função de taxista. Surgiu a tecnologia e essa competência perdeu valor. Hoje em dia, qualquer pessoa que tenha um GPS, sabe o caminho. E quando chegarem os carros autónomos, saber conduzir vai deixar de ser valorizado. O conhecimento perdeu valor, pois a tecnologia atacou uma competência específica primeiro e, depois, uma competência generalista”, exemplifica José Paiva. E continua: “Toda esta mudança vai obrigar a que as competências para uma determinada função sejam diferentes. Os carros vão tornar-se mais inteligentes, por isso, teoricamente, as pessoas precisam de saber menos sobre a sua utilização, mas precisam de novas competências. A curto prazo, isso vai verificar-se em tudo o que gravita à volta da indústria automóvel”.

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Mudanças de paradigma

Continuando numa mesma lógica de raciocínio, podemos afirmar que as tecnologias de informação surgiram para replicar processos existentes, mas hoje estão a ser usadas para criar processos diferentes. “Pensou-se, inicialmente, em colocar o ser humano no meio dos processos mecânicos, ou seja, o semáforo ficava vermelho, o condutor via o sinal e travava. O carro, através de um processo mecânico, fazia acender uma luz stop atrás, para o condutor do carro de trás ver e parar. Agora, estamos a tirar o ser humano do processo e a usar a tecnologia, pois tudo comunica automaticamente: os carros com os sistemas da cidade e uns com os outros. Esta é a grande diferença da evolução que se tem vindo a observar nos últimos anos. Com a IoT [internet of things – internet das coisas], são as coisas que falam umas com as outras. Não é pensada para os seres humanos, mas para resolver os processos”, acrescenta José Paiva.

O papel do desenvolvimento pessoal

É a forma como o paradigma está a mudar que torna necessária a mudança na maneira como adquirimos competências e como nos mantemos atentos ao mundo que nos rodeia. “Uma vez mais, o mercado automóvel: as marcas querem contratar colaboradores que tenham a capacidade de idealizar um novo produto. Ou seja, sabemos que as pessoas acima dos 40 querem comprar carro, mas as que têm menos de 30 anos, não querem. Se eu quero montar uma solução para pessoas que não querem comprar carro, se calhar tenho de contratar alguém abaixo dos 40; caso contrário, podem não conseguir conceber a utilidade do produto. A tecnologia e as competências são importantes, mas nesta nova forma de pensar a tecnologia para produtos inexistentes, também é muito importante que as pessoas não estejam formatadas ou bloqueadas em relação a um produto que se quer pensar, ou a novas formas de utilização desse mesmo produto (como a partilha de um carro, por exemplo).” É aqui que entra necessidade de se fazer, em determinados momentos, formações e reconversões dentro da própria empresa. Desta forma, mantém-se o talento dentro de portas, mas este é atualizado. “Estamos a trabalhar em conjunto com empresas que estão em programas de conversão. Nesta lógica de haver poucas pessoas para contratar, também é importante que, quem está a trabalhar, vá adquirindo novos conhecimentos. Aqui a meritocracia é fundamental. Há empresas disponíveis para pagar o bootcamp ou a reconversão de uma determinada pessoa, ficando ela comprometida a continuar a trabalhar com a empresa”. José Paiva deixa ainda um conselho: “As pessoas veem esta mudança de uma perspetiva negativa e não como uma oportunidade. Mas há muitas oportunidades, há tempo para entrar nos ciclos, ir atrás de informação e de quem nos possa ajudar neste processo”.

Saiba mais sobre este projecto em https://observador.pt/seccao/feeling-the-movement/