A pontualidade foi britânica. O talento, esse, é bem português. Os ponteiros do relógio marcavam as 17h quando Margarida Adão e Mariana Prista tiveram honras de abertura do primeiro dia do NOS Alive, que este ano levou até ao Passeio Marítimo de Algés gigantes do mundo das canções como Smashing Pumpkins, The Cure, Ornatos Violeta e Grace Jones, com audiências diárias que oscilaram entre os 43 mil e os 55 mil visitantes.

b-mywingz X y.azz; Créditos: Paulo Alexandre Coelho

“Foi incrível, maravilhoso. Muito melhor do que estávamos à espera. Este dia vai ficar gravado na memória para sempre”, explica Margarida Adão, que se apresenta na música como b-mywingz, ao lado de y.azz (Mariana Prista). A subida ao palco do NOS Alive é um dos prémios que lhes trouxe a vitória na sexta edição do EDP Live Bands em Portugal, numa edição que contou com mais de 300 novas bandas inscritas.

Um sonho cumprido, que ainda não parece real. “Há apenas 7 meses, estávamos a lançar a nossa primeira música”, conta Prista, que ressalva “a boa energia” e o “calor” que recebeu da plateia, já composta para a hora precoce. E não se referia aos mais de 30 graus que se sentiam no arranque do festival. Entre o público, soltavam-se elogios. “A sonoridade delas é interessante, diferente. E gosto do timbre da vocalista”, conta Márcia, que ali estava por curiosidade. A seu lado, Ricardo destaca as “boas batidas” da banda lisboeta.

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Entre as cinco músicas que foram recebidas com aplausos efusivos, contaram-se os dois singles lançados até aqui, Cycles e Colours. As restantes, são material novo gravado num período recorde de duas semanas, já depois da vitória do EDP Live Bands. “Temos trabalhado, trabalhado e trabalhado”, ri-se Mariana Prista. “O nosso objetivo até aqui eram os concertos no NOS Alive e no Mad Cool [em Madrid, no qual aturaram no dia seguinte à apresentação em Algés, também parte do prémio]. Agora o foco e a prioridade será compor o disco”, explica a vocalista, referindo-se ao álbum que terá a chancela da Sony Music, e que contam lançar no início do próximo ano. Antes disso, um terceiro single não tarda em chegar. 2019, de resto, tem sido um ano altamente frutífero para a dupla, que mantém os olhos fixos no futuro. “Sinto que estamos muito motivadas e focadas”, assegura Margarida Adão.

O calor de Minas Gerais em Algés

Algumas indesejadas pingas de chuva ainda chegaram a cair, antes do arranque do segundo dia do NOS Alive, mas o calor de Minas Gerais rapidamente fez esquecer questões meteorológicas. No ecrã do Palco Sagres, cheio de cores quentes como vermelhos, laranjas e rosas, sobressaíam três letras. Boa onda, ritmo e alegria marcaram o primeiro concerto dos ETC além-fronteiras.

ETC; Créditos: Paulo Alexandre Coelho

Um desafio para o trio brasileiro que venceu este ano a quarta edição do EDP Live Bands Brasil e que já tocou para plateias de 10 e 20 mil pessoas no país-irmão. “Ficámos muito felizes com o carinho e a recetividade de quem aqui estava para nos ver. Sentimo-nos em casa. Espero que seja o primeiro de muitos concertos [em Portugal]”, explica o vocalista Dudu, ainda com a adrenalina de palco presente no discurso.

Ao lado de Balut e Vinícius, protagoniza esta história de sucesso feita a seis mãos, que começou há 8 anos, quando se conheceram e tornaram amigos durante a faculdade. “Demos o nosso primeiro concerto em Minas Gerais, em agosto de 2011. Nunca mais parámos”, recorda Balut, baterista dos ETC. O segredo para uma caminhada saudável de 8 anos é só um: “Foi a amizade que nos fortaleceu e que nos fez chegar onde estamos hoje. Não tenho dúvidas. Somos verdadeiros irmãos. Irmãos da música”, explica o baterista.

No palco, tocaram originais dos seus primeiros dois álbuns, Céu Grande e Sintonia, lançados em 2014 e 2018, respetivamente, incluindo o maior êxito da banda até aqui, Jogo Embolado. Mas também houve tempo para agradecer o contributo de João Gilberto, considerado o pai da bossa nova, que morreu no início deste mês. “Quisemos tocar a Garota de Ipanema, não só porque a bossa nova é uma influência grande para nós, mas também para homenagear o João Gilberto. Foi um momento especial”, explica Dudu.

Pisca-se o olho ao legado da música brasileira, mas o caminho faz-se para a frente. A banda estará 20 dias em Portugal para se inspirar e compor o terceiro disco de originais, parte do prémio do EDP Live Bands Brasil. “Queremos disfrutar da beleza e da cultura deste país, e transformar isso em inspiração para compor. Estamos a viver um momento muito especial. A surfar uma onda que ainda não surfámos”, explica o vocalista.

Animais de palco com sotaque madrileno

Estão juntos há 8 anos, mas parece que sobem ao palco há décadas, tal a energia, coesão e confiança que mostraram no palco do NOS Alive, no arranque do terceiro e último dia. Também ajudará o facto de se conhecerem bem. “Somos amigos desde os tempos de colégio. Somos uma família e isso é algo que não se encontra sempre. Somos gratos por isso”, explica Luis Paúl, baixista dos Beluga, a banda madrilena vencedora do EDP Live Bands Espanha deste ano.

Beluga: Créditos: Paulo Alexandre Coelho

Em Algés, mostraram o rock alternativo que se pode encontrar nos dois discos de originais, o mais recente destes Tiemplo de Leones, lançado há 1 ano. “Estou contente com a nossa primeira vez a tocar em Portugal”, adianta Carlos Ortega, vocalista da banda e um verdadeiro animal de palco, ou não fosse ele também bailarino e ator. Durante quase meia hora, saltou, dançou e rodopiou sem nunca lhe faltar o fôlego.

A hospitalidade não tardou em fazer-se sentir. “Sentimos o calor do público, como se estivéssemos em casa”, explica Lucas Triguero, guitarrista. Afinal, é mais o que une portugueses e espanhóis do que aquilo que os separa. “A atitude é a mesma. Algumas palavras diferem, mas pouco mais. Sentimo-nos como se estivéssemos em casa a tocar”, acrescenta. Talvez seja esta uma boa descrição para o final do concerto dos Beluga em Algés, tão espontâneo como surpreendente. A banda saiu do palco, dirigiu-se até ao público, que os rodeou num miniconcerto intimista e os recebeu com fervorosos aplausos. Sem microfones, sem amplificadores de som, sem colunas.

EDP Live Bands, uma “injeção de ânimo”

Em fase de rescaldo, depois de superadas as provas de fogo em Algés, as três bandas vencedoras do EDP Live Bands estão em sintonia quando chega a hora de aconselhar novas bandas a inscreverem-se nas próximas edições deste projeto. Afinal, trata-se de uma iniciativa que já soma meia década em Portugal (desde 2014), crescendo depois até ao Brasil (a partir de 2016) e a Espanha (desde o ano passado). No total, já são 12 edições realizadas nestas três geografias, mostrando ao mundo o talento de milhares de novas bandas.

“Preparem-se bem para a final e tentem subir o nível. Para nós, valeu muito a pena”, adianta Luis Paúl, baixista dos Beluga. Para Dudu, que dá a voz aos ETC, importa frisar que o prémio não pode ser encarado como a prioridade. “O prémio é só um. Mais importante do que isso, este projeto é um incentivo que pode dar alguma longevidade a bandas que estavam prestes a desistir. É uma injeção de ânimo”, explica o músico mineiro.

A dupla portuguesa acrescenta que a “autenticidade” será a principal chave para uma participação de sucesso. “Quem é sincero com a sua arte, tem mais probabilidade de vingar. O júri e o público notam isso muito bem”, remata Margarida Adão, b-mywingz em palco. “Eu não me canso de repetir. Vale a pena, é uma grande oportunidade. Ah, e divirtam-se!”, acrescenta.

Está lançado o repto, com conhecimento de causa. Para o ano há mais.