Greves de juízes, magistrados do Ministério Público, inspetores da Polícia Judiciária, funcionários judiciais, guardas prisionais e trabalhadores dos registos marcaram a legislatura na área da justiça, com reivindicações relacionadas sobretudo com a carreira ou estatuto.

O último ano da legislatura socialista foi particularmente agitado na contestação ligada à negociação, discussão e nalguns casos aprovação dos estatutos profissionais, tendo os juízes e magistrados do Ministério Público (MP) sido aqueles que melhores condições salariais alcançaram no “braço de ferro” com os ministérios da Justiça e das Finanças.

A revisão dos estatutos profissionais, a atualização das tabelas remuneratórias, o congelamento das promoções e a falta de pessoal são algumas das reivindicações dos profissionais da justiça que levaram à marcação de várias paralisações ao longo dos quatro anos de legislatura.

Magistrados judiciais e do Ministério Público realizaram, este ano, greves que paralisaram os tribunais, tendo o Governo cedido às suas pretensões de propor estatutos com atualizações salariais, que em alguns casos sobem 700 euros, assim como uma nova fórmula de pagamento do subsídio de compensação.

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Os juízes foram os primeiros a assegurar a previsão de atualizações salariais no estatuto, tendo os magistrados do MP exigido a aplicação do princípio do paralelismo das magistraturas também na vertente salarial, levando o poder legislativo (Governo e parlamento) a acolher a pretensão e a fazer aprovar o Estatuto, tendo o PSD votado contra o diploma por “discordar em absoluto” das regalias atribuídas.

Outros pontos polémicos do estatuto resultavam de questões como a autonomia administrativa e financeira do MP, composição do Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) e equilíbrio de poderes entre CSMP (órgão de gestão e disciplina do MP) e as atribuições e competências do procurador-geral da República.

Após a aprovação na sexta-feira no parlamento do Estatuto do MP, o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) congratulou-se com o texto final do diploma e com o facto de as propostas tendentes a alterar a composição do CSMP e o mecanismo de designação dos cargos de direção do MP não terem vingado em sede de debate parlamentar na especialidade.

Ainda por resolver, a cerca de quatro meses das eleições, está a carreira dos funcionários judiciais, inspetores da Polícia Judiciária, trabalhadores dos registos e guardas prisionais, com estes últimos a exigirem alterações nos horários e a equiparação em termos remuneratórios aos agentes da PSP.

Em declarações à agência Lusa, Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), lamentou o atraso do Governo na aprovação do estatuto dos guardas prisionais e admitiu que a negociação está “parada”, prometendo para breve uma avaliação da situação e eventuais formas de luta.

O dirigente sindical garantiu que os guardas prisionais não abdicaram da intenção de serem considerado um órgão de polícia criminal (OPC), embora de competência espacializada (e não genérica), por forma a permitirem um combate mais eficaz ao tráfico de droga e de telemóveis no interior das cadeias.

Os funcionários judiciais, que no início do ano manifestaram-se durante a cerimónia de abertura do Ano Judicial, protestaram várias vezes ao longo dos quatro anos contra o congelamento das promoções, o atraso na revisão do estatuto, o défice de pessoal e a recuperação de tempo de serviço e prometem voltar às formas de luta em setembro.

Também o sindicato dos funcionários dos registos marcou paralisações devido à falta de pessoal e condições de trabalho, alertando que há um défice de 1.500 trabalhadores e que há mais de 20 anos que não entra um único trabalhador.

Os sindicalistas prometeram um “verão muito quente” e apelaram ao primeiro-ministro para que olhe com atenção para o problema dos registos e inverta o “desinvestimento total” do Governo no setor.

Na polícia Judiciária também se vive um clima de preocupação com os inspetores e a direção a alertarem para a falta de meios e a necessidade de um estatuto que dignifique a classe.

Nas últimas duas semanas, Governo e Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC) da PJ tentaram chegar a acordo, mas, apesar do diálogo, não houve acordo, tendo a ASFIC marcado uma greve ao trabalho extraordinário por tempo indeterminado, a iniciar a 02 de agosto.

As questões remuneratórias são um ponto de discórdia e já deu origem a uma ação judicial da ASFIC contra o Estado para reivindicar o pagamento devido a 1.200 inspetores de parte do subsídio de risco que foi indevidamente cortado durante uma década, uma situação que foi corrigida com efeitos a janeiro de 2019.

Apesar da contestação no setor da justiça, a ministra considera que a capacidade de resposta dos serviços melhorou nos últimos quatro anos tendo dito que “a justiça hoje está melhor do que alguma vez esteve”.